<strong>Cosméticos à base de cannabis no Brasil</strong>

Benefícios, mercado e acesso

Publicada em 09/04/2023

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Por Adriana Russowsky

De acordo com o relatório de análise do mercado divulgado pela Grand View Research, o mercado global de cosméticos a base da planta Cannabis foi avaliado em 964,1 milhões de dólares, em 2022. Existe a previsão de crescimento do mesmo em 31,5%, no período de 2023 até 2030, podendo atingir até 8,62 bilhões de dólares. Por hora, o mercado norte-americano ainda domina, tomando a fatia de 40% no ano passado, pois tem uma grande base de consumidores e aspectos legais que permitem a produção e as vendas.

A explicação para esses números é a quantidade de informação sobre os benefícios, do canabidiol, do óleo full spectrum da planta e da semente, bem como de o agregados aos produtos, os cuidados e higiene pessoal. Tudo isso embasado em estudos científicos que ascendem, sem parar.

Quais as doenças que se beneficiam com os produtos tópicos?

Pensando em dermatologia, já é sabido que o canabidiol (CBD) é eficaz nas questões inflamatórias, com enorme potencial antioxidante. Os extratos à base de cannabis, de uma maneira geral, são antimicrobianos. Sendo assim, todas as condições dermatológicas autoimunes, atópicas e bacterianas podem ser beneficiadas: dermatites, psoríase, lúpus, acne, entre outras. Não podemos deixar de comentar sobre a ação terapêutica dos terpenos que também estão presentes nos extratos full spectrum.

Outros canabinoides têm grande poder de ação dermatológica, e os estudos não param de crescer para comprovar a eficácia. Como exemplo, podemos citar o CBG (canabigerol): uma pesquisa publicada em 2022 na revista Molecules por Perez e colaboradores analisa e compara in vitro o potencial anti-inflamatório em queratinócitos e fibroblastos. O resultado é que o CBG regula ainda mais genes do que o CBD. Porém, este canabinoide está em uma quantidade muito menor na planta se comparado ao majoritário CBD.

Quando pensamos em tratamento da dor, cremes à base de canabinoides auxiliam na terapêutica, seja com dor ocasionada por fibromialgia, neuropatias, agudas ou crônicas. Se falamos em saúde feminina, pacientes com endometriose, miomas e até mesmo sem libido, podem otimizar a qualidade de vida por meio  de tratamentos tópicos, com  cremes ou supositórios.

O mercado de beleza e estética 

O potencial antioxidante dos canabinoides como o CBD e o CBG é superior ao da Vitamina C. Esta ação é extremamente desejável quando falamos em cremes e séruns antienvelhecimento. Quando pensamos em celulite então, fica incrível: atividade anti-inflamatória associada a atividade antioxidante, com melhora da circulação local. Seguindo o modelo de tendências do mercado americano e europeu, são produtos de desejo. Vendas na certa. 

Ainda devemos comentar sobre o esquecido óleo da semente de cânhamo. Sem tantos canabinoides presentes, sem efeito psicotrópico, é um óleo riquíssimo para hidratar a pele: contém ômega 3 e ômega 6, também é antioxidante, e anti-inflamatório, capaz de aumentar o potencial de hidratação cutânea, além de  não entupir  os poros. Sendo assim, ninguém aqui percebe por que esta matéria-prima ainda é proibida (e sem regulamentação) em nosso país.

Como está a questão legal no Brasil e como ter acesso aos produtos tópicos? 

Ainda está em vigência a Resolução da Anvisa (Agência de Vigilância Sanitária)  RDC 327 de 2019. Segundo o artigo 10, os produtos autorizados para fabricação nacional devem ser somente para uso nasal ou oral. E, de acordo com o caput 5, cosméticos e fumígenos são expressamente proibidos.

Porém, existe o acesso via RDC 660, do mesmo ano, por meio de prescrição médica e cadastro no sistema da Agência Nacional de Saúde (mediante condição de patologia dermatológica ou também como tratamento concomitante da dor). Para aquisição, somente por importação ou associações canábicas, mediante prescrição médica.

Esperamos ansiosamente a revisão destas normativas da Anvisa, ainda este ano, uma vez que o prazo para revisão legal já expirou. A regulamentação de um mercado como este pode ser uma alternativa que impulsiona a economia nacional, afinal, o tamanho e potencial de consumo brasileiro não deve ser ignorado.

GráficoDescrição gerada automaticamente

Sobre a autora:

Adriana Russowsky é farmacêutica, fitoterapeuta sênior, mestre em Ciências da Reabilitação. Pioneira na área canábica no país, trabalha com projetos de criação e direção de Pesquisa e Desenvolvimento de Produtos e Serviços, no ramo de Cosmetologia e Medicinas Naturais.

Hoje compõe e realiza estratégia os protocolos que desenvolveu e criou, dentro de empresas de comercialização de cannabis e de clínicas canábicas no país, e acredita que devem as instituições científicas e educacionais melhor informar os futuros médicos e outros profissionais desta necessidade de conhecimento, ampliando acredita o correto acesso a comunidade.