Caquexia neoplásica: a cannabis pode auxiliar no tratamento?

A doença é marcada pela perda de peso e massa muscular excessivas

Publicada em 23/10/2023

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A caquexia é uma doença que atinge, com mais frequência, pessoas com problemas de saúde crônicos, como câncer e infecção por tuberculose ou Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV). Em 2021, a patologia foi responsável por 405 óbitos, no Brasil, conforme dados do Ministério da Saúde. A caquexia é caracterizada pela perda contínua de gordura, massa muscular e massa óssea.

Segundo o médico hematologista, Cristiano Fernandes, a doença consome os recursos do corpo humano mais rápido do que o homem consegue ingerir, absorver e alocar os nutrientes dos alimentos. “Com o passar do tempo a citosina, substâncias produzidas pelo organismo em resposta ao tumor, acaba tirando o apetite do paciente e reduzindo a ingestão de alimentos. Este ciclo contínuo é chamado de caquexia”, explica o médico.

Saiba os benefícios do uso medicinal da cannabis.

Publicado em 2011, o Consenso Brasileiro de Caquexia, desenvolvido pela Associação Brasileira de Cuidados Paliativos (ABCP), alerta para a importância do tratamento da caquexia nos pacientes com câncer. “A caquexia afeta cerca de metade de todos os pacientes com câncer e está presente na grande maioria (mais de dois terços) dos pacientes com câncer de pulmão e no sistema digestório. É ainda, considerada responsável direta pela morte, em cerca de 22% dos casos”, conforme trecho retirado da revista.

Cannabis como tratamento

O delta-9-tetrahidrocanabinol (THC) é o canabinoide mais indicado para uso no tratamento da caquexia neoplásica. Sua ação no receptor CB1 é capaz de aumentar o apetite dos pacientes e, consequentemente, gerar um maior consumo de nutrientes. Além disso, segundo Cristiano, os demais efeitos do composto também são importantes no tratamento da caquexia.

“Claro que a melhora nos quadros de depressão e ansiedade, mais a carga de anandamida no organismo podem ser fatores importantes para o aumento do humor e do apetite. É difícil separar as atribuições do THC. Nós, médicos, vemos uma melhora nos pacientes que usam o canabinóide no seu tratamento”, relata o hematologista.

Aliado à melhora percebida pelos médicos, o THC ainda conta com o aval da Food and Drug Administration (FDA), órgão responsável pelo controle e supervisão da segurança alimentar e produtos farmacêuticos.

Precisamos de mais

“Precisamos de mais estudos. Hoje em dia temos revisões feitas em cima de pesquisas antigas que não auxiliam na melhora dos resultados. Devem ser realizados estudos novos, mais aprofundados e capazes de achar respostas concretas sobre o uso da cannabis para tratar a caquexia. Quem sai ganhando nesta são os médicos e, principalmente, os pacientes”, comenta Cristiano sobre a falta de embasamento científico.

Cristiano ainda nos lembra, que várias das revisões sistemáticas e meta-análises sobre o uso THC no tratamento da caquexia, realizadas nos últimos anos, não encontraram ganho de peso como resultado. Uma importante pesquisa bibliográfica desenvolvida em Londres, Reino Unido, analisou cinco estudos com 934 participantes e concluiu que: “não foi observada diferença significativa na mudança de peso ou na qualidade de vida dos canabinóides versus placebo/outro tratamento."