“A cannabis foi revolucionária em nossas vidas e no tratamento da minha filha”, diz mãe de criança autista

No Dia Mundial da Conscientização sobre o Autismo, 2 de abril, o portal Sechat fala sobre as experiências e os benefícios da planta no tratamento do transtorno

Publicada em 02/04/2023

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Por Tylla Lima

Aos dois anos de idade, Helena recebeu o diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista (TEA). A descoberta foi precoce porque a professora de sociologia, Talita Boaretto, já percebia que a filha apresentava alguns sinais de desenvolvimento atípico depois da criança completar um ano. “A minha filha já apresentava o quadro de epilepsia refratária também, por isso, era comum estar em consultórios de neuropediatras, comecei a perceber que ela parou de fazer algumas coisas comuns para a idade, parou com o contato visual, e aí veio a confirmação do autismo”, explica a mãe.  

O início do tratamento foi difícil e no escuro. Talita procurou por tratamento alternativo, mas os médicos descartavam todas as possibilidades fora da medicação convencional, que trazia um lado negativo: os efeitos no comportamento da criança agravavam, principalmente, durante as madrugadas. “Aí eu passei a intensificar a busca pelas alternativas para inicialmente amenizar as crises convulsivas. Saí do interior do Paraná até a capital e, no início de 2021, Helena começou a fazer uso do óleo de cannabis”, diz. 

Com o óleo da planta, Helena, hoje com 5 anos de idade, tem intervalos maiores nas crises convulsivas e apresenta cada vez mais melhora no quadro do TEA.

“Eu até me emociono, mas no primeiro mês de uso do óleo, minha filha formou a primeira frase. É caro, mas é uma libertação, uma possibilidade de qualidade de vida”, frisa Talita, que hoje se tornou uma voz pela causa do uso medicinal da cannabis, ela é acolhedora de outras famílias que precisam de direcionamento para a medicação. 

A família da Helena não está sozinha. No Brasil, estima-se que 2 milhões de pessoas têm Transtorno do Espectro Autista. E, neste domingo é lembrado o Dia Mundial da Conscientização do Autismo, para reforçar a importância do diagnóstico e tratamento. 

Médica Amanda Medeiros Dias reforça os benefícios do CBD para pessoas autistas. (Foto: divulgação)

De acordo com a médica Amanda Medeiros Dias, com formação em pediatria e psiquiatria infantil, o TEA é um distúrbio do neurodesenvolvimento, caracterizado por desenvolvimento atípico. “Os sintomas normalmente são atraso na linguagem, atraso no desenvolvimento global, movimentos repetitivos, falta de interesse pelas relações interpessoais, dificuldade de interação social e de vínculo afetivo e aversão ao toque", afirma a médica.

Tratamento de cannabis para autismo

A planta auxilia no tratamento para o quadro de autismo com eficácia comprovada pelos médicos. “A cannabis é boa para começar em qualquer idade após diagnóstico médico. Tem efeito ansiolítico importante melhorando os comportamentos ansiosos, ativando áreas do cérebro que antes estavam inativadas, principalmente, a área da fala. E, eu gosto mais da cannabis porque não tem efeito colateral”,  reforça a médica.

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“Como mãe eu posso garantir que foi a melhor escolha que fiz, mas esbarramos ainda no preconceito e na falta de informação da comunidade médica, que ainda criminalizam o tratamento. Mas sabemos, hoje, que é seguro, funciona e que é uma necessidade”

Alexandra Mello, mãe do Theo

Assim como a Helena, o Theo de 6 anos de idade, faz uso de canabidiol para tratar o TEA. Diagnosticado com autismo em 2018, apresentava dificuldades na fala, de socialização e autoagressão. Aos 2 anos de idade começou o tratamento com remédios  convencionais. Mas logo a famíla descobriu a possibilidade de tratar a criança com cannabis. “No final de 2021, procuramos um tratamento alternativo com CBD [canabidiol] , e a resposta foi muito boa, melhorou a atenção, humor e o comportamento do meu filho”, diz Alexandra Mello, servidora pública e mãe do garoto.

A administração de fitocanabinoides pode restaurar os níveis de endocanabinoides, no caso do autismo, diminuindo a excitação dos neurônios. “Isso também poderia explicar a eficácia no tratamento de crises convulsivas, principalmente, porque já se sabe que cerca de 30% dos pacientes com transtorno  tem algum tipo de epilepsia”, confirma a médica Amanda Medeiros. Isso se aplica nos casos de Theo e Helena, ambos com autismo e quadros de convulsões.

Vidas transformadas com o tratamento medicinal da cannabis. “Como mãe eu posso garantir que foi a melhor escolha que fiz, mas esbarramos ainda no preconceito e na falta de informação da comunidade médica, que ainda criminalizam o tratamento. Mas sabemos, hoje, que é seguro, funciona e que é uma necessidade”, finaliza Alexandra.