Imagine você ser criança e viver crises profundas de tristeza, ter dificuldade para interagir e chegar a passar um tempo sem falar. Então, aos dez anos, dividir o tempo precioso da infância entre brincadeiras, escola, família e sessões de psicoterapia, que jogaram na mesa o diagnóstico de início de depressão nessa tenra idade. Essa é parte da história da terapeuta holística Maria Rita, de 40 anos, do Rio de Janeiro (RJ).
Desde muito criança, Maria não entendia por que se sentia tão mal. Passou uma infância e uma adolescência forjadas na timidez e com crises de ansiedade latentes que logo desembocavam num quadro depressivo.
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Um cenário de total instabilidade que na vida adulta se transformou em crises graves, que a deixavam de cama por vários dias, sem sair de casa, precisando de total cuidado da família. E não foi uma, duas ou três vezes. A intensidade e surgimento das crises pareciam acompanhar a evolução dos ponteiros do relógio.
Apesar da gravidade, ainda havia dentro de Maria uma força que ela mesma desconhecia. Portanto, mesmo diante de crises intensas, a terapeuta conseguiu sair do estado depressivo sem a ajuda de medicamentos por muitos anos. Mas a vida é movimento.
A derradeira
Aos 30 anos, a terapeuta estava prestes a realizar um sonho: ser mãe. Mas o sonho se desfez diante de três abortos espontâneos e a notícia que não poderia mais gerar um filho. A notícia foi avassaladora. Uma depressão profunda a acometeu e não teve jeito, os antidepressivos entraram em cena, o que aumentou a chateação de Maria.
Então o diagnóstico veio: depressão ansiosa, quadro depressivo que se apresenta após uma crise grave de ansiedade. Após um ano tomando a medicação e praticando ioga, atividades físicas entre outras atividades que poderiam ajudá-la a reduzir os sintomas, Maria foi melhorando. Mas a vida seguiu com seu movimento.
Em 2016 sua mãe morreu. A perda foi impactante, mas a depressão foi se instalando aos poucos, não foi automático após o fatídico dia. Em dois anos, a terapeuta se viu diante novamente da iminência de entrar com antidepressivos. Só que dessa vez os efeitos colaterais foram intensos. Enjoos, desconfortos abdominais e intestinais eram apenas alguns dos percalços que a terapeuta enfrentava. Mas o agravante era que, mesmo tomando os remédios, a depressão não ia embora.
A esperança em formato de gotas
Maria passou praticamente o ano todo de 2019 em casa. Suas saídas se resumiam a idas ao médico e ao terapeuta. Sem trabalho, foi perdendo sua autonomia, autoestima e força. O novo psicólogo apontava um quadro de fobia social, que explicava bastante muitos momentos da sua vida.
No total, Maria agora acumulava junto com a fobia social: depressão, ansiedade, dores na coluna, dislexia e tireoidite de Hashimoto, uma doença autoimune na qual o sistema imune ataca as células da tireoide.
Foi quando soube dos benefícios que a Cannabis poderia trazer para a sua vida, que Maria tirou forças para sair da cama e ir a um seminário internacional de Cannabis Medicinal. Então procurou a associação ABRACannabis (Associação Brasileira para Cannabis), que indicou um psiquiatra prescritor de medicamentos à base de Cannabis.
Hora de viver
Mesmo com a prescrição nas mãos, Maria demorou para conseguir a medicação. A parte burocrática e o alto custo foram adiando o tratamento. Então, em agosto de 2019, Maria começou a tomar o óleo de Cannabis com CBD e THC.
Em pouco tempo, os antidepressivos ficaram no passado, mesmo ainda fazendo testes para entender qual era o melhor tipo de óleo para ela, a gradação mais adequada. Em uma semana tomando o óleo certo, a terapeuta começou a sair de casa, os efeitos colaterais dos medicamentos alopáticos não existiam mais.
Em novembro de 2019, retomou diversas atividades, entre elas o trabalho. E ainda faz uso da pomada à base de Cannabis para aliviar as dores nas costas, causadas pelas hérnias de disco.
Maria afirma que após o óleo ela voltou a viver. Foram mais de 30 anos para encontrar sua paz em poucas gotas de um óleo extraído de uma planta ainda vista como um tabu por muita gente.