Você confia nos rótulos?

A cannabis já é rodeada de mitos e alegações negativas, o que menos a indústria precisa agora é de produtos que não entreguem o que prometem

Publicada em 13/10/2022

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Por Cintia Vernalha

Essa semana entrou em vigor no Brasil uma nova lei em relação aos rótulos de produtos alimentícios. A ideia é deixar a informação mais clara para que os consumidores consigam fazer melhores escolhas no ponto de venda. Esse movimento busca impedir que empresas mal-intencionadas utilizem chamadas de marketing para atrair consumidores sem entregar o que realmente prometem.

Os produtos de cannabis também deveriam passar por esse processo. Mas infelizmente ainda não há regras claras quanto ao que deve estar presente nos rótulos, tampouco uma determinação a respeito de quais critérios os produtos deveriam ser testados antes de serem vendidos. 

Nos EUA, país que representa 87% do mercado de cannabis mundial segundo a New Frontier Data, não há uma supervisão federal que regulamente e aprove os produtos e as embalagens antes de elas chegarem aos consumidores. 

Alguns estados têm orientações específicas para que as empresas apresentem testes de laboratórios terceiros. Porém, mesmo nesses casos, não há um padrão quanto a tecnologia a ser utilizada ou quanto à exigência de informações que devem estar presentes nos rótulos ou apresentadas em relação a contaminação dos produtos.

Rigidez regulatória

Estudo publicado na revista The Science of the Total Environment em agosto último  mostrou que quase 60% dos produtos de CBD comercializados não indicavam nos seus rótulos a porcentagem correta de CBD anunciada. Além disso, os pesquisadores detectaram a presença de metais pesados em 42% dos produtos testados. Esses resultados destacam a necessidade de regulamentação mais rígida acerca do rótulo dos produtos de cannabis. 

(Imagem: Freepik)

Olhando para o Brasil, estamos assistindo a uma mudança no comportamento de consumo dentro da indústria: os pacientes, que antes buscavam a cannabis apenas para o tratamento de doenças complexas, hoje buscam uma maior variedade de produtos, visando a uma melhora na qualidade de vida, ainda que necessariamente não esteja ligada à resolução de patologias.

A consequência dessa mudança no padrão de consumo se traduz no aumento da oferta e da variedade de produtos. Aproveitando a regra da ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária),  que possibilita a importação de produtos derivados de cannabis, estão surgindo diversas empresas buscando atender esse novo consumidor e satisfazer as diferentes necessidades de cada um. 

Ao mesmo tempo, esse movimento é positivo para o mercado pois possibilita que uma maior parcela de consumidores tenha acesso aos produtos e à planta, o que ajuda a diminuir o estigma e a fomentar uma mudança nas leis para facilitar o acesso. 

A indústria está se aproximando de mercados de bens de consumo tradicionais, onde imperam a alta competitividade, a guerra por preços mais baixos e grandes ações de marketing que muitas vezes “escondem” a realidade por trás de produtos supostamente saudáveis. Assim, na medida em que não há uma regra da qualidade das ofertas, tampouco controle das ações de marketing que estão sendo feitas, todo o mercado pode sair prejudicado.

É preciso responsabilidade quando o assunto é saúde

A cannabis já é rodeada de mitos e alegações negativas. O que menos a indústria precisa agora é de produtos que não entreguem o que prometem, ou que não tenham benefícios reais e que sejam apenas para atrair consumidores despreparados.

A criação de padrões em torno de rotulagem, embalagens e comunicação mostra o desejo da indústria em garantir a segurança de seus consumidores e mudar as percepções negativas que ainda giram em torno dessa planta. 

Se os países de origem dos produtos importados não têm regras de rotulagem ou testes que comprovem  a qualidade do produto, cabe ao Brasil criar regras que colaborem para que a indústria mantenha a confiança de seus consumidores e, assim, possa crescer de forma saudável e segura.

As opiniões veiculadas nesse artigo são pessoais e não correspondem, necessariamente, à posição do Sechat.

Sobre o autor:

Cintia mora nos EUA, onde conheceu e se apaixonou pelo mercado de cannabis. Com mais de 15 anos trabalhando na área comercial de grandes empresas como Nestlé, Reckitt Benckiser e EMS, uniu a sua paixão pela planta, a sua experiência executiva e a sua vivência em um dos maiores mercados de cannabis para constituir, junto com duas sócias, a CannBoom: empresa que tem como propósito conectar, educar e promover o mercado de cannabis no Brasil. A CannBoom assessora empresas que desejam atuar ou melhorar seu posicionamento no Brasil por meio de treinamentos, workshops e consultorias.