Interações medicamentosas é evento clínico em que os efeitos de um fármaco são alterados pela presença de outro fármaco, alimento, bebida ou algum agente químico ambiental.

Uso medicinal da cannabis: interações medicamentosas 

Por redação Sechat

Dentre os diversos canabinoides existentes na planta da cannabis, alguns como o canabidiol (CBD) e o tetrahidrocanabinol (THC),  se destacam por apresentarem benefícios à saúde e possibilidades de tratamento. Seja ajudando pessoas com câncer, reduzindo a inflamação, ou diminuindo crises epilépticas de pacientes que sofrem com distúrbios neurológicos, o potencial terapêutico desta planta oferece a muitos a chance de uma vida melhor.

Contudo, apesar de seus benefícios, os pacientes devem agir com cautela, pois os compostos da planta podem interagir com outros compostos. Embora estudos mais conclusivos sejam necessários antes que se possa determinar a extensão total das interações medicamentosas dos derivados da cannabis, os pesquisadores já identificaram algumas delas.

THC 

As interações medicamentosas mais significativas envolvendo a cannabis são aquelas pertencentes à família de enzimas P450 (CYP), que são responsáveis ​​pelo metabolismo da maioria dos medicamentos. Quando inalado, o THC acelera a atividade da enzima CYP, resultando em uma quebra acelerada das drogas. Essa repartição resulta em níveis gerais mais baixos da substância dentro do corpo.

Os medicamentos suscetíveis a essas interações incluem: clozapina, duloxetina, naproxeno, ciclobenzaprina, olanzapina, haloperidol e clorpromazina.

CBD 

Outro composto da cannabis que também interage com a CYP, inibindo enzimas responsáveis ​​pela degradação dos medicamentos, é o CBD. O uso concomitante dessa substância com medicamentos selecionados pode resultar em níveis intensificados do fitocanabinoide no corpo. 

Os medicamentos potenciais incluem: Inibidores Seletivos de Recaptação de Serotonina (ISRS), antidepressivos tricíclicos, antipsicóticos, beta-bloqueadores e opioides (incluindo codeína e oxicodona). O CBD também pode aumentar as concentrações de: macrolídeos, bloqueadores dos canais de cálcio, benzodiazepínicos, ciclosporina, sildenafil, anti-histamínicos, haloperidol, antirretrovirais e algumas estatinas.

Alguns remédios podem inibir a enzima que metaboliza o CBD, resultando no acúmulo de canabidiol no organismo. Alguns desses incluem cetoconazol, itraconazol, ritonavir e claritromicina. Outros medicamentos agem de maneira oposta, acelerando o metabolismo do CBD pela enzima e resultando em redução da biodisponibilidade do composto. Algumas dessas drogas incluem fenobarbital, rifampicina, carbamazepina e fenitoína.

As interações medicamentosas do CBD podem variar. Dependem se o medicamento aumenta ou diminui a atividade das enzimas CYP.

Álcool

O álcool pode exacerbar os efeitos da cannabis. Os pesquisadores descobriram que baixas doses do composto – aproximadamente 0,065% – aumentaram significativamente os níveis sanguíneos de THC. Este aumento pode causar prejuízos na cognição e no julgamento, bem como outros efeitos colaterais, como tontura e sonolência, portanto, aja com cuidado ao combinar os dois.

ISRS

Não se sabe muito sobre as potenciais interações medicamentosas com os Inibidores Seletivos da Recaptação da Serotonina (ISRS), uma classe de medicamentos comumente usados ​​como antidepressivos. Todavia, estudos destacam a relação entre o uso medicinal da cannabis já demonstrou benefícios no controle da depressão. 

O Departamento de Saúde dos Estados Unidos emitiu um aviso especial em uma apresentação sobre as interações com o Prozac, declarando: “Usar maconha com fluoxetina (Prozac) pode fazer com que você se sinta irritado, nervoso, agitado e excitado. Os médicos chamam isso de hipomania.”

Como tão pouca informação está disponível atualmente, os pacientes com ISRS devem consultar um médico antes de usar a cannabis.

Antidepressivos tricíclicos

Outra classe de medicamentos a serem observados são os antidepressivos tricíclicos (ATC’s). O Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido observou que “Cannabis medicinal ou maconha podem interagir com antidepressivos tricíclicos, como amitriptilina, imipramina e dothiepin. “O raciocínio por trás disso é que a combinação dos dois pode resultar em pressão alta (hipertensão) ou batimento cardíaco acelerado (taquicardia). Outros efeitos colaterais potenciais podem incluir alterações de humor, inquietação, confusão e alucinações”, destacou o documento.

Opiáceos

Um dos aspectos mais promissores da cannabis medicinal é seu potencial terapêutico para o tratamento da dependência de opiáceos. Estudos revelam que os pacientes que têm acesso à maconha medicinal diminuem o uso de opióides entre 40% e 60%.

Curiosamente, foi demonstrado que a maconha vaporizada aumenta os aspectos analgésicos dos opióides sem afetar os níveis plasmáticos dos mesmos.

Depressores SNC

Os depressores do SNC são uma classe de drogas que reduzem a estimulação ao diminuir os níveis de neurotransmissão no Sistema Nervoso Central. O resultado é uma diminuição da atividade cerebral que promove o relaxamento muscular e uma sensação de calma. Esses medicamentos incluem clonazepam (Klonopin), lorazepam (Ativan) e zolpidem (Ambien), entre outros.

O Departamento de Saúde dos Estados Unidos observou que a cannabis aumenta os efeitos depressores do SNC quando combinada com álcool, barbitúricos (anticonvulsivantes) e  benzodiazepínicos. O consumo de maconha medicinal pode amplificar o efeito sonolento desses medicamentos.

Bloqueadores do canal de cálcio

O uso de cannabis pode afetar certos medicamentos bloqueadores dos canais de cálcio, como o Diltiazem, bloqueador dos canais e anti-hipertensivo. Os fabricantes do Diltiazem afirmam que é preciso ter cautela ao combinar os dois, pois o Diltiazem pode amplificar os efeitos do THC.

Diluidores de sangue

Os pacientes que usam anticoagulantes como o Warfarin (também conhecido como Coumadin) devem evitar o uso de cannabis. O Departamento de Saúde dos Estados Unidos alerta que “fumar maconha” enquanto toma Warfarina (Coumadin) pode aumentar as chances de hematomas e sangramentos”.

Teofilina

A teofilina é um broncodilatador (um medicamento que ajuda a aumentar o fluxo de ar para os pulmões). Um estudo de 2014 observou que a cannabis pode diminuir os níveis de teofilina quando fumada.

ISRS’s, antidepressivos tricíclicos (ATCs) e benzodiazepínicos

O CBD é um inibidor potente do CYP2D6. Como essa droga é responsável pelo metabolismo de diferentes tipos de antidepressivos, o CBD pode aumentar as concentrações séricas de ISRS, antidepressivos tricíclicos e benzodiazepínicos.

Anticonvulsivantes

O CBD é frequentemente usado para ajudar a tratar convulsões e pacientes epilépticos. No entanto, pode alterar o número de outros anticonvulsivantes se tomados concomitantemente. O uso do CBD em conjunto com Clobazam, um sedativo usado para tratar convulsões, resulta em um nível maior de Clobazam em crianças com epilepsia devido à inibição potente da enzima CYP2C19.

Pesquisadores também observaram que resultados de testes de função hepática anormais foram encontrados em participantes que tomaram o anticonvulsivante Valproato em conjunto com o CBD. Por isso, cuidado extremo deve ser tomado ao combinar CBD com anticonvulsivantes ou outras drogas epilépticas. Pesquisadores aconselham o monitoramento obrigatório dos níveis de drogas para observar as funções hepáticas dos pacientes.

Conclusão

A cannabis tem uma ampla gama de benefícios terapêuticos. No entanto, seu uso concomitante com outras drogas pode resultar em uma variedade de interações medicamentosas. Dado o fato de que o THC e o CBD afetam o corpo de maneira única, os pacientes devem ter muito cuidado ao combinar a maconha com outros medicamentos. Consulte um médico antes de iniciar o uso da maconha medicinal. Na maioria das vezes, nenhuma mudança ou alteração na dose dos medicamentos é garantida.

Em termos de segurança, os grupos que são especialmente vulneráveis ​​aos efeitos da cannabis incluem pacientes idosos, pessoas que sofrem de doenças autoimunes ou hepáticas e pacientes com tendência à psicose (especialmente adolescentes). A sugestão é consultar o médico se tiver alguma dúvida sobre como a maconha pode afetá-lo.

Compartilhe:

ASSINE NOSSA NEWSLETTER PARA RECEBER AS NOVIDADES

    Mais lidas