Por especial Rafael R. Pereira

Apesar de ser algo tão esperado por algumas pessoas, a transição de gênero é um processo difícil, delicado e que envolve uma série de questões de aceitação, autoestima e identificação por seres humanos que não se identificam com o sexo atribuído no dia do nascimento.

A transição de gênero é um assunto muito debatido há alguns anos e que ganhou mais força no mundo atual, porém, na contramão disso tudo, existem grandes barreiras culturais e sociais para que pessoas transgêneros, que almejam realizar a transição, sejam acolhidas, aceitas e respeitadas por seus familiares e sociedade. Os medicamentos à base de canabinoides podem ser o caminho para uma transição mais leve e sem traumas. E por que não dizer uma forma segura de ajudar a essa população que já sofre muitos preconceitos.

O Brasil lidera o topo do ranking de país que mais mata pessoas transgêneros no mundo, pelo 13º ano consecutivo, conforme dados do Dossiê Assassinatos e Violências contra Travestis e Transexuais Brasileiras, realizado pela Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra).

Como é feita a transição de gênero?

Muitas vezes, as pessoas acabam associando a transição de gênero à redesignação sexual, o que não é uma verdade por completo, uma vez que embora parte da população trans escolha se submeter à cirurgia, essa não é a única alternativa para a transição.

As pessoas que optam por realizar a transição de gênero, por intermédio de terapias hormonais, fazem uso de hormônios condizentes com o gênero com o qual se identifica. Muitas dessas pessoas escolhem apenas a terapia hormonal e pela mudança de nome.

Nas mulheres trans, ocorre a aplicação de estrogênio, que é responsável pela diminuição do crescimento de pelos pelo corpo, além de trazer outros efeitos que acentuam a aparência feminina como a diminuição da massa muscular, acentuação da gordura nos quadris e possível diminuição do tamanho do órgão reprodutor.

Nos homens trans, é usada a testosterona, hormônio que aumenta a produção de pelos, favorecendo o aparecimento de barba. Também há o aumento de massa muscular, engrossamento da voz e possível aumento do clitóris, entre outras mudanças.

A terapia hormonal

O tratamento com terapia hormonal deve ser feito por toda a vida, sem interrupção. No entanto, as doses dos hormônios aplicadas podem ser ajustadas sempre que necessário. O endocrinologista é o médico responsável por receitar a terapia hormonal e fazer o acompanhamento dos pacientes.

Canabinoides que podem ajudar no tratamento hormonal

Os fitocanabinoides, substâncias naturais presentes na cannabis, podem ajudar já que os fitocanabinoides, como o CBD (canabidiol), reagem positivamente a um par de receptores (chamados de CB1 e CB2) que estão presentes no sistema nervoso e em outras partes do corpo. Além dele, temos o THC (outro fitocanabinoide) que é capaz de modular diferentes neurotransmissores dentro do hipotálamo – a seção central-inferior do cérebro que conecta o sistema endócrino ao sistema nervoso central.

Os fitocanabinoides têm papel de auxiliar na promoção do estado de equilíbrio, ajudando a atenuar os efeitos colaterais (físicos e emocionais) de uma terapia hormonal. Dentre os efeitos positivos podemos destacar:
melhora da qualidade do sono diminuição da ansiedade melhora do apetite.

Ainda que muitos médicos não conheçam o poder da cannabis medicinal, há uma comunidade cada vez maior de pesquisadores e profissionais de saúde que estão estudando e receitando os fitocanabinóides por todo o mundo.

De acordo com a biomédica Bárbara Arranz, os medicamentos à base de canabinoides podem fornecer equilíbrio hormonal e tornar a transição mais confortável para as pessoas trans. Segundo ela, "os estudos são super escassos e é difícil encontrar material que fale de gênero e cannabis. Mas é possível perceber que a maconha pode auxiliar no conforto e no nível de acolhimento durante o processo.”

A médica afirma que, de acordo com estudos, o THC tem um grande impacto na regulação de hormônios do corpo e é o único capaz de regular diferentes tipos de hormônio, como a prolactina e hormônios que estimulam o crescimento. Já os efeitos do CBD influenciam no ciclo estral, mudanças fisiológicas recorrentes que são induzidas por hormônios.

Além disso, estudos clínicos apontam que este canabinoide possui efeito terapêutico maior em pessoas que possuem hormônios reprodutivos considerados femininos.

Quais os alertas?

A depender dos tipos de canabinoides aplicados e suas respectivas dosagens de maneira equivocada ou não orientada podem provocar sérios danos à saúde. Embora o tratamento funcione de forma eficaz e bem, a médica especialista alerta que é preciso ficar atento aos efeitos adversos que podem ocorrer.

"Cada organismo funciona de uma forma, então é importante esse conhecimento para que as pessoas levem o tratamento adiante”, concluiu Arranz.