Tailândia: dilema sobre a maconha medicinal se divide entre fé e descrença

A "ganja" foi usada antigamente como remédio para diversos males tanto na Tailândia como em outros países asiáticos. Até mesmo o conhecido templo Pho, em Bangcoc, exibe em suas paredes placas inscritas com receitas de cannabis.

Publicada em 24/10/2019

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A cannabis medicinal, que começou a ser receitada em agosto na Tailândia para atenuar sintomas como a dor ou a falta de apetite, despertou um excesso de fé em alguns pacientes, que acreditam que ela pode curar até o câncer, apesar da falta de evidências científicas.

O país em questão legalizou a cannabis medicinal em dezembro do ano passado e se transformou no primeiro país a fazê-lo no Sudeste Asiático, embora seu fornecimento legal tenha atrasado vários meses devido às dificuldades logísticas e de regulação.

Receitada de forma experimental para pacientes com câncer em 13 hospitais tailandeses, a maconha é administrada para combater a dor e os efeitos secundários de tratamentos como a quimioterapia e a radioterapia. Porém, nenhum estudo científico provou que ela cure o câncer.

No hospital público de Ratchaburi, uma capital provincial ao sudoeste de Bangkok, Sutbantad Dechwises, um paciente de 68 anos com câncer mostra um conta-gotas de 5 mililitros de óleo de cannabis produzido pelas autoridades tailandesas. A indústria da maconha medicinal, em breve, pode movimentar o equivalente a R$ 900 milhões no país.

"O óleo de maconha me ajuda, em primeiro lugar, a parar a dor. Em segundo, a comer bem. Em terceiro, a dormir mais tempo e, em quarto, a reduzir os níveis de câncer", contou Sutbantad à Agência Efe.

Por enquanto, o hospital fornece tetrahidrocannabinol (o princípio psicoativo da maconha, também conhecido como THC) a cinco pacientes com câncer. Outros três estão na lista de espera, e dezenas de pessoas já apresentaram solicitações para receber o tratamento.

Além da desinformação de alguns de seus pacientes, a médica enfrenta, também, a rejeição à maconha medicinal por parte de vários colegas, seja por razões morais ou ceticismo.

Dos quatro médicos aptos em Ratchaburi a ministrar maconha medicinal, três passaram a rejeitar o tratamento, de modo que só sobrou Kireewan para atender dezenas de pacientes que procuram o hospital em busca de cannabis medicinal.

De qualquer forma, a médica comemora que o tratamento seja gratuito e que os pacientes não tenham que pagar até 3000 bahts (cerca de R$ 395) por frasco de cannabis não regulamentado, que costuma ser vendido em clínicas ilegais ou pela internet.

"No futuro, também se beneficiarão pacientes com epilepsia, Parkinson, Alzheimer, etc", previu com otimismo a médica.

A maconha ("ganja" em tailandês) era usada antigamente como um remédio natural para diversos males tanto na Tailândia como em outros países asiáticos. Até mesmo o conhecido templo Pho, em Bangcoc, exibe em suas paredes placas inscritas com receitas de cannabis.

Porém, influenciadas pelos países ocidentais, as autoridades tailandesas criminalizaram a maconha nos anos 1930 e, hoje em dia, a posse ou transporte dessa droga são punidos com até 15 anos de prisão. Mesmo diante das duras penas de prisão, grupos clandestinos começaram, há mais de dez anos, a distribuir maconha medicinal entre pacientes com câncer e outras doenças.

O exemplo da Tailândia encorajou outros países da região, como Laos e Malásia, a debaterem a possibilidade de legalização da maconha medicinal no futuro. Por sua vez, o Sri Lanka já permite o cultivo limitado para a exportação e produtos ayurvédicos, referentes à medicina tradicional da Índia.

Segundo a empresa de consultoria Prohibition Partners, o mercado da maconha medicinal na Tailândia pode chegar, em 2024, a US$ 237,2 milhões (R$ 955 milhões), caso ela seja legalizada de forma generalizada no continente.

Fonte: Agência EFE