"Se universidades tivessem cultivo de Cannabis, saúde pública estaria melhor", diz cientista da UFRJ

"Portadores de epilepsia, autismo, Alzheimer, Parkinson e câncer seriam beneficiados de estudos clínicos e outras pesquisas, ao invés de usar produtos clandestinos", declarou a Dra Virgínia Carvalho, coordenadora do projeto Farmacannabis, em resposta

Publicada em 11/12/2019

capa
Compartilhe:

O ministro da Educação, Abraham Weintraub, em debate na Câmara dos Deputados nesta manhã, reafirmou que há plantações de maconha nas universidades e que seus laboratórios de química são usados para produção de drogas sintéticas. “As provas encontram-se em material acessível que encontrei na internet”, disse.

O ministro foi convocado pela Comissão de Educação da Câmara dos Deputados para dar explicações sobre declarações dada à imprensa no mesmo sentido.

Weintraub mostrou matéria antiga da TV Record mostrando plantação de maconha na Universidade de Brasília (UnB). “O problema não é a plantação em si, mas o que ela reflete”, disse. “As plantações são reflexo de um consumo exagerado, fora de controle, nas universidades.”

“Eu acho uma grande perda de tempo, pois é justamente isso que ele mais deseja: chamar atenção. Acho que temos que ficar mais atentos ao que pode está por trás dessa fala e perseguição dele. Se ele continuar com esse comportamento, acredito que logo logo vai arrumar um motivo para que a polícia ou outros setores de segurança sejam responsáveis por realizar vistorias periódicas nas universidades", alertou a pós-doutora Luzia Sampaio, especialista em farmacologia canabinoide e pesquisadora da UFRJ.

A Dra Virgínia Martins Carvalho, coordenadora do Projeto Farmacannabis da UFRJ, criticou de forma mais enfática a fala do ministro:

"Se as universidades federais tivessem "extensivos cultivos" de Cannabis, a saúde pública estaria em melhores condições. Pacientes portadores de epilepsia refratária, autismo, Alzheimer, Parkinson, esclerose múltipla, dores crônicas e pacientes oncológicos estariam sendo beneficiados em estudos clínicos e outras pesquisas, ao invés de usar produtos clandestinos ou importar suplementos alimentares a custo proibitivo".

Segundo Virgínia, a universidade deixou de receber recentemente a continuidade de um financiamento de um instituto privado, pois a empresa justificou que o projeto Farmacannabis tinha poucas perspectivas devido à "situação político-regulatória da Cannabis no Brasil".

"Suas calúnias e ameaças ajudam a afastar investimento/financiamento para um tema que já enfrenta enorme preconceito. No Brasil, 30 mL de Mevatyl (medicamento registrado à base de THC e CBD para esclerose múltipla) custa em torno do R$ 3 mil. Como vamos pesquisar e inovar tecnologicamente para que se tenha a produção nacional sob essa ameaça constante?", questionou Virgínia.

A legislação brasileira atual permite a União autorizar o plantio de Cannabis para fins medicinais e pesquisa. No entanto, o tema não é regulamentado. Ou seja: nenhuma instituição brasileira tem essa autorização. Segundo a Anvisa, desde 2010, foram emitidas apenas 22 autorizações especiais de pesquisa. Por isso, a maioria dos cientistas hoje recorre à importação ou pede às polícias as plantas apreendidas.