Se alguém ler a bula de um antidepressivo, nunca mais toma, diz médica

A anestesista Daniele Tondolo afirma que a normalização do uso de medicamentos químicos precisa ser questionada

Publicada em 02/02/2023

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Por Leandro Maia

Em uma casa ambientada pelo som dos pássaros e com muito verde ao seu redor vive a médica Daniele Tondolo. O lugar distante da euforia dos grandes centros fica no Morro da Silveira, em Garopaba-SC. Acolhida por este reduto a poucos metros da praia, ela divide a rotina de anestesista em um hospital da região com os atendimentos de telemedicina como prescritora de cannabis medicinal. 

"Usar a cannabis medicinal é uma mudança de paradigma. Os derivados da planta são naturais."

Daniele Tondolo é especializada em anestesiologia e pós-graduada em cannabis medicinal e já prescreveu para mais de 150 pacientes.

Formada desde de 2007, Daniele só descobriu a fundo os benefícios terapêuticos e medicinais da cannabis sativa 10 anos depois ao visitar o estado do Colorado, nos Estados Unidos. "Eu conheci a plantação de um amigo. Foi ele quem me incentivou ao dizer que eu, como médica, deveria estudar sobre os benefícios medicinais da planta. Pois isso seria o futuro”, contou ao lembrar que sequer ouviu falar sobre o assunto na faculdade de medicina na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. 

Motivada pela experiência na fazenda, decidiu se aprofundar no assunto e iniciou uma pós-graduação em cannabis medicinal. "Durante os estudos com leituras de livros e artigos, parecia algo muito estático. Quando eu comecei a prescrever e ver os resultados, nasceu em mim um grande entusiasmo em relação à planta, porque eu constatei que todos os benefícios esperados para os pacientes foram entregues. Os resultados positivos foram me motivando a estudar cada vez mais a cannabis medicinal”. 

Ansiedade e depressão

Grande parte dos pacientes procura a prescritora para tratar ansiedade e depressão e, assim, conseguir reduzir as crises no dia a dia. De acordo com Daniele, o olhar para o paciente precisa ser integrativo. O tratamento canabinoide deve   ser associado com outras terapias e estilo de vida. Porém, nem todos conseguem morar em um lugar em meio à natureza e distante do caos da cidade. Assim sendo, a recomendação é o tratamento multidisciplinar.



“Não é só usar o remédio à base de cannabis. É preciso combinar terapias que ajudem o paciente a se conhecer melhor, entender as causas do problema e, em um conjunto de coisas, mudar a realidade e consequentemente ter melhor qualidade de vida”.

Em um ano e meio de atuação, Daniele já atendeu mais de 150 pacientes. O retorno sobre os benefícios da planta são positivos. Durante entrevista ao Sechat, ela comentou o caso de uma paciente com o objetivo de recuperar a musculatura e melhorar a performance esportiva na corrida e na bicicleta. Ao receber um áudio dela, ouviu: “Dani, eu estou impressionada, ao tomar o óleo, sou outra pessoa. Nada mais me estressa, eu não sabia que era estressada”. 

A cannabis medicinal não cura o Alzheimer, mas melhora os sintomas 

Outro caso que impressionou foi o de uma paciente com Alzheimer que não conversava durante as consultas.  “Eu fiz uma ligação e ela atendeu, eu até achei que tinha ligado para a casa de outro paciente, porque ela estava falando. Foi quando essa mesma paciente me contou que havia largado o remédio controlado para dormir, desenvolveu a fala e aumentou as frações de memória com o tratamento à base de cannabis”.

Na opinião dela, o preconceito e resistência de uma parcela da sociedade e da classe médicos ainda existem por falta de conhecimento. Segundo a especialista, a normalização do uso dos produtos químicos não é questionada. “Se alguém ler a bula de um anti-depressivo, nunca mais toma”. 

Hoje, é muito comum a pessoa ter ansiedade procurar um psiquiatra “que lhe receite o ansiolítico e a pessoa, sem questionamento, vai até a farmácia, compra e acha normal usar este medicamento. É essa normalização do uso de substância química que precisa ser questionada”, concluiu. 

Veja a cobertuda do Cannabis Connection:

https://www.youtube.com/watch?v=dYxPjwC2Xhk