Saúde da pele, cannabis e cânhamo

Em mais uma coluna, Adriana Russowsky faz uma revisão dos benefícios da cannabis para os cuidados com a pele e suas respectivas decorrências

Publicada em 22/03/2022

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Por Adriana Russowsky

Coceira, vermelhidão, rachaduras, pele extremamente seca mesclando com oleosa, acne, furúnculos, dermatite atópica, eczema etc. Estas são condições que prejudicam a qualidade de vida e são agravadas pelo estilo de vida cotidiano: alimentação, de produtos cosméticos e de limpeza, vestimentas, toxinas ambientais, vários fatores acabam influenciando. Com a imunidade da região debilitada, bactérias e fungos encontram local para se estabelecerem, podendo prejudicar os quadros.

Algumas doenças, como as autoimunes, hepatites, HIV, peles mais claras, desbalanceamento hormonal, estresse, alergias e as relacionadas com as questões alimentares, podem ser fatores que desencadeiam problemas com a pele. Um check-up pensando nisto, antes de utilizar pomadas com medicamentos que muitas vezes resolvem por um curto período, mas pioram as lesões depois e originam crises de repetição do quadro (corticoides, antibacterianos, antifúngicos), sempre é uma boa pedida. 

A pele pode ser o indicativo de outra questão maior. E sempre devemos entender nosso corpo como uma máquina que depende do bom funcionamento de várias peças e setores. Outras condições autoimunes que atingem a pele, como psoríase e lúpus, devem inevitavelmente passar por um tratamento integrativo: quando é assim possível, observamos clinicamente melhora estável, com redução de crises. 

A medicina canabinoide e seus correlatos têm auxiliado no tratamento do maior órgão do nosso corpo. Estudos mostram que tanto receptores CB2 quanto CB1 são encontrados nos queratinócitos, fibras nervosas cutâneas, melanócitos, glândulas e folículos pilosos e do cabelo. São responsáveis pela manutenção da barreira da pele, crescimento e diferenciação celular, e pela maneira como respondem a processos imunológicos e inflamatórios. Outras plantas, além da Cannabis, atuam através do sistema endocanabinoide: Echinacea e Copaíba, através de receptores CB2. Cúrcuma e o ácido boswélico, estrutura encontrada no óleo de Olíbano, o bem cotado Franckincense, através de receptores CB1. 

CBD

O Canabidiol demonstrou habilidade para ação antioxidante e anti-inflamatória, através da sua ligação com os receptores do tipo CB2 que ficam na nossa pele, maior órgão do corpo. Por isso tanto se fala na utilização de dermocosméticos e produtos tópicos à base de Cannabis e CBD. Já foram inclusive realizados estudos clínicos (que são tipos de análises mais avançadas e mais reconhecidas cientificamente) com creme à base de extrato, mostrando reduzir sebo e eritema. Pensando em tratamentos de doenças de pele, podemos utilizar o extrato de diversas maneiras:  a) via oral, controlando o estresse, diminuindo a inflamação e atuando como complemento antioxidante, especialmente no caso de psoríase e dermatite atópica; b) através de cremes contendo o extrato da planta e c) através da aplicação do óleo puro na pele, acrescentado óleos essenciais diluídos próprios e específicos, talvez; Sempre é bom lembrar que o acompanhamento médico é essencial nestes casos, adequando as dosagens. Um outro lembrete é não aplicar diretamente em cima de lesões e feridas abertas. O ideal é esperar cicatrizar e, aí sim, utilizar os benefícios do extrato para otimizar e acelerar a regeneração celular. 

Quando se fala em acne, a Cannabis auxilia muito devido por providenciar hidratação sem entupir os poros, promovendo ação anti-inflamatória e antioxidante, ação regeneradora celular e ainda ação bactericida de alguns compostos da planta. Porém, normalmente as extrações são em óleo de coco, que pode obstruir os poros da pele, sendo necessário a retirada do mesmo após algum tempo em contato, para não piorar o quadro. Ou, ainda, encontrar uma extração com veículo adequado. 

Existe ainda a ação terapêutica dos terpenos. O mirceno e o beta-cariofileno são importantes representantes destes compostos voláteis. Com ações analgésicas e anti-inflamatórias, respectivamente, eles têm a capacidade de ligar-se a receptores canabinoides endógenos. Já os flavonóides são potentes antioxidantes e anti-inflamatórios. Apigenina e Quercetina são os mais conhecidos. A Cannabis também apresenta moléculas com poder anti-inflamatório 20 vezes superior ao da aspirina, as já populares Canflavinas A e B.

Óleo de Semente do Cânhamo

As sementes de cânhamo contêm ácidos graxos ricos em ômega 3 e 6 e também são ricas em proteínas. Até mesmo na alimentação já demonstraram reduzir a secura e a coceira da pele. Elas hidratam a pele seca, extremamente seca, e até mesmo oleosa. Não são comedogênicas, podendo ser utilizadas na pele do rosto, sem obstruir os poros. Contém por volta de 20% de proteínas e 25% de carboidratos em sua composição, além de gorduras e fibras.. No caso das doenças de pele, podem ser agregadas aos tratamentos que escolher, pensando em manter a barreira natural de proteção da pele, aumentando sua vitalidade e imunidade, com hidratação e recuperação.

Tecidos

Qualquer coisa que irrite sua pele piora as condições dela, então, falar de tecidos é bem adequado. Polyester, rayon, nylon e borrachas devem ser evitados. Os apropriados para a condição de doenças de pele são os de fibras naturais, como 100% cotton, linho e os de cânhamo. Tecidos de cânhamo são de uso comum para a humanidade há milênios. De toque agradável, permitem a respiração e são de fácil limpeza e manutenção cotidiana. Como frequente utilizadora de roupas a base desta resistente fibra, posso dizer que se encaixam perfeitamente para o estilo de vida contemporâneo, são de fácil lavagem, manutenção, leves e circulam muito bem entre frio e calor. Sem contar que eu era fã do modelo tradicional Gazelle Adidas feito de cânhamo, must have de mais de uma geração.

Com o aumento da temática e tecnologias atuais, está cada vez mais possível as certificações de sustentabilidade nas produções. Como estamos com o olhar atento às plantações de cânhamo, crescendo nos países que possibilitam o cultivo, a previsibilidade de termos materiais disponíveis no mercado de vestuário e de acessórios, livres de agrotóxicos, beneficiando a sociedade e natureza de maneira ampla (redução da quantidade de químicos nas fontes fluviais, por exemplo), traz uma opção para o consumidor preocupado com ecologia e que busca saúde e praticidade em suas vestimentas. A preferência pelo consumo de produtos sem agrotóxicos é importante e influencia, inclusive, as recentes questões preocupantes, como a aprovação do Projeto de Lei 6299/2002, a chamada “PL do veneno”. 

Alimentação

Existem alimentos que podem, segundo predisposição individual (somos todos um, mas somos seres únicos) causar ou piorar problemas na pele. Glúten, lactose, outras proteínas encontradas no leite, conservantes, amendoim e outras castanhas, são os mais conhecidos. O ovo também pode ser bastante alergênico. Encontrar um balanço em sua alimentação, evitando industrializados e aqueles alimentos que não lhe fazem bem, reduzindo a concentração de químicos circulantes no seu corpo, com certeza, é uma das medidas mais inteligentes e resolutivas para a grande maioria dos casos. Mesmo a carne, pensando em alimento inflamatório, deve ser evitada em períodos de crises. Embutidos, então, nem necessita de comentários, prejudica o sistema vital neste caso como um todo: conservantes, excesso de sal e açúcar, radicais livres; devendo ser cortados da dieta. Conforme já comentado, sementes de cânhamo já foram analisadas em estudos de pessoas com problemas de pele como suplementação, obtendo resultados positivos com esta estratégia.

Afinal, que produto utilizar?

A boa manutenção da barreira de proteção epitelial inclui a proteção contra radicais livres (sol, fumo, poluição, químicos etc.). Boa higiene, na medida certa, e com produtos adequados é fundamental. Cuidados com o sol, não utilizar produtos comedogênicos (óleos que obstruam os poros), tecidos leves e respiráveis, lençóis de tecidos naturais, toalhas limpas e claro… produtos cosméticos sem químicos. De acordo com sua condição pessoal, tratamentos com CBD, extratos da planta inteira, óleo de semente podem ser aplicados, mas, é importante conferir com profissional da área da saúde, sempre. Se trabalhar com marcenaria, construção ou afins existem alternativas naturais e hipoalergênicas e, com a crescente expansão do mercado, até umas com cânhamo incluído em sua base. 

Quando se fala em produtos naturais, deve-se evitar o contato com bicarbonato, arnica, cânfora, canela, frutas cítricas, eucalipto, isoeugenol, lavanda, menta e mentóis. O óleo de coco e outros óleos que não permitem a transpiração da pele podem prejudicar alguns quadros. 

Fora isto, Cannabis e derivados não tem contra-indicações, mas, pode ser que você seja hipersensível a algum composto. Por isto, quando testamos produtos novos em peles particularmente debilitadas, percepções quanto a irritação, coceira, queimação, são importantes e norteiam o cessamento da utilização do produto.

Químicos Prejudiciais normalmente encontrados em Cosméticos e Medicamentos

Ler rótulo é informação para saúde. Existem diversos compostos que podem estar sendo prejudiciais nos produtos que utilizamos no dia a dia. Parabenos (permitidos no Brasil, proibidos na U.E), PEG (composto 1,4 dioxane é carcinogênico), Sulfatos Menthoxypropanediol, Menthyl lactate, Isoeugenol, Sodium C14-16 olefin sulfate, Sodium lauryl sulfate, TEA-lauryl sulfato (são os tais LESS), peróxido de benzoíla, hidroquinonas, ácido retinóico, antibióticos, ftalatos e perfumes, palmitatos, ácido láurico, lanolina, entre outros, são os mais encontrados por aí. Felizmente, a indústria tem se atentado mais, apesar dos órgãos regulamentadores ainda permitirem, e opções mais naturais já começam a circular no mercado.

As opiniões veiculadas nesse artigo são pessoais e de responsabilidade de seus autores.

Sobre a autora:

Adriana Russowsky é farmacêutica, pós-graduada em administração de empresas e mestre em Ciências da Reabilitação. Atuou como docente em programa de pós-graduação e atua no mercado canabico desde 2018. Embasou sua carreira através da Fitoterapia e criação de protocolos de suplementação na medicina clínica preventiva e canabica. No momento, atua prestando consultoria em serviços no setor, além de desenvolvimento de produtos, suplementos, medicamentos e cosméticos, baseados na naturalidade e fitoterapia. Também escreve conteúdo científico para marketing na área da saúde e na área clínica e realiza atendimentos de Assistência Farmacêutica e Estruturação de Protocolos Terapêuticos.

Referências

  1. Baswan, S. M. et al.,Therapeutic Potential of CBD for Skin NjHealth and Disorders, Clinical, Cosmetic and Investigational Dermatoly; 2020(13), 2020.
  2. Callaway, J. Efficacy of dietary hempseed oil in patients with atopic dermatitis. Journal of Dermatology Treatment. 16(87), 2005.
  3. Erridge, S. Cannflavins – From plant to patient: A scoping review. Fitoterapia. 2020(146), 2020.
  4. Mason, R. Fabrics for atopic dermatitis; Journal of Family Health Care; 18(2), 2008.
  5. Nickes, M. A.; Lio, P. A. Cannabinoids in Dermatology: Hope or Hype? Cannabis and Cannabinoid Research; 5(4), 2020.