Saiba quais foram as dúvidas da Live Sechat sobre o uso do CBD na infância

O bate-papo com tira-dúvidas contou com o apoio de Carmen’s Medicinals. Para assistir à transmissão, basta acessar o canal do Sechat no Youtube.

Publicada em 10/03/2021

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Por Sechat Conteúdo

A Live Sechat realizada ontem (9) trouxe como tema a utilização da cannabis medicinal para o tratamento de crianças. Na oportunidade foram esclarecidos temas como o uso de óleo de CBD (Canabidiol) de espectro isolado e espectro ampliado, em uma sequência de perguntas e respostas com o esclarecimento de dúvidas com o doutor Pedro Pierro, que é neurocirurgião e diretor-científico do Sechat. O bate-papo com tira-dúvidas contou com o apoio de Carmen’s Medicinals. Para assistir à transmissão, basta acessar o canal do Sechat no Youtube.

Segundo Pedro Pierro, ao extrair os canabinoides da planta, é possível produzir três tipos diferentes de extratos. O extrato isolado refere-se a utilização de apenas um canabinoide, o espectro ampliado é quando se tem cerca de dois ou três canabinoides juntos, já o full spectrum é quando há, em um só óleo, todos os canabinoides da planta, mas nem sempre nas mesmas proporções encontradas na natureza. Somente neste caso é possível obter o efeito entourage. 

O novo produto anunciado na Live Sechat, o Carmen's Kids é um óleo de amplo espectro (Board spectrum), com alta concentração de CBD e isento de THC. “O nome ‘kids’ está muito mais relacionado ao fato de ter um sabor mais agradável para a criança, como sabor de morango, mas isso não significa que não pode ser usado em adultos”, explica o médico.

Abaixo organizamos as principais perguntas da Live Sechat!

Existe uma idade mínima para a criança usar cannabis medicinal?

Doutor Pedro Pierro - CBD não, mas o THC você já tem uma certa limitação da idade, como, muitas vezes a quantidade que você usa. Mas tem alguns testes, algumas manobras, que nos trazem um pouco mais de segurança, mas o uso do canabidiol não tem idade, até porque nascemos com um sistema endocanabinoide, então a gente produz endocanabinoides desde quando a gente nasce. Nós já temos os receptores no sistema, então não tem problema de se usar o canabidiol.

O canabidiol substitui a ritalina?

Doutor Pedro Pierro - Primeiro, para o que você usa a ritalina? Você tem a alternativa da ritalina para quando se tem deficit de atenção, mas nem sempre relacionado à hiperatividade, e às vezes você tem hiperatividade, ou pode ter os dois. O que se sabe é que, para o tratamento de deficit de atenção, o THC funciona muito bem, para qualquer idade, tanto para criança quanto para idoso. A questão é: vai usar THC na criança? Essa é a dúvida. Já o CBD não tem uma atuação no deficit de atenção, mas tem na hiperatividade, porque ele é um ansiolítico, ele diminui a ansiedade, então pode ser usado. Não precisa usar a ritalina ou o óleo, podem ser os dois e, ao longo do tempo, ao longo de outras terapias para o tratamento, você pode diminuir um ou outro. O importante é o paciente estar bem, como nós vamos chegar lá é que vai de perfil para perfil, de médico para médico, de paciente para paciente.

Para o autismo, você indica o uso do canabidiol?

Doutor Pedro Pierro - Sim, e muito. A criança autista é uma das grandes beneficiadas com o entendimento do sistema endocanabinoide, e como a gente observa isso? O que a gente teve de mudança com a síndrome de down na década de 80 e 90 é o que vemos hoje com o espectro autista e utilização de canabidiol, porque você não tem remédio para o autismo. O espectro autista não sei se é uma doença ou uma forma diferente de comunicação. Se é certa ou errada (a forma de comunicação), eu não sei, mas o canabidiol facilita essa ponte entre esses dois mundos. Então eu acho que tem que usar no espectro autista independente do tratamento que está sendo feito.

Como selecionar o espectro isolado ou ampliado?

Doutor Pedro Pierro - Tem doenças que funcionam melhor com CBD isolado. Algumas epilepsias graves, como Gravet, Lennox Gastaut, a maioria das crianças tem uma resposta melhor com o CBD isolado. Por sua vez, a Síndrome de Tourette, que acomete crianças e adolescentes e é uma das doenças que mais causam bullying, o óleo precisa ser rico em THC, de preferência THC isolado. Então depende o tipo de doença, a forma que ela se apresenta.

E em relação ao óleo full spectrum?

Doutor Pedro Pierro - Isso depende muito dos sistemas. O óleo full spectrum, na minha opinião, na minha prática diária, é o óleo que eu mais utilizo. Um exemplo: tanto em criança quanto em adulto, um óleo meu de entrada é, por exemplo, um óleo da Carmen’s 1500, 50mg/ml, é um óleo que consigo usar tanto em adulto quanto em criança. Mas tem casos que não quero usar o full spectrum, então nesses casos eu vou usar o isolado. Para a Síndrome de Rett, inicialmente eu usaria o full spectrum, a não ser que tenha alguma coisa que faça que eu prefira, naquele paciente, usar o isolado.

O uso da cannabis é para tratamento contínuo ou tem data certa pra acabar?

Doutor Pedro Pierro - Depende. Casos de ansiedade, depressão, pode ter data para acabar. Já para Parkinson ou epilepsia, nem sempre. A chance do paciente parar de tomar a medicação com a cannabis é a mesma do remédio alopático. Algumas crianças e adolescentes ficam dois anos sem ter crise convulsiva, a gente acaba parando a medicação ou diminuindo, para ver se ela volta a convulsionar ou não, então com a cannabis é a mesma coisa, até porque as indicações antiepilépticas não curam, elas vão prevenir as crises, assim como os canabinoides, seja ele de espectro isolado ou full spectrum.

Poderia mudar a condição de uma criança de 3 anos, autista e não vocal?

Doutor Pedro Pierro - Dependendo do que você entende com “mudar a condição?”. Ela pode se tornar vocal? Pode, já vi casos disso acontecer, não quer dizer que vai falar com fluência, vocabulário. Como eu falei, o problema do autista é comunicação, se ele consegue se comunicar de alguma forma, ele não tem necessidade de procurar outra. Tem casos que a criança diz “a”, e a mãe entende que está com sede ou fome. Qual a necessidade dessa criança de aprender o “e”, “i”, “o” e “u”? Ela não vê essa necessidade porque tudo o que ela precisa passar de comunicação ela está passando. Então, quando você usa o CBD você aumenta na criança essa necessidade de aumentar a comunicação. Então tem chance na questão de ser vocal? Tem, mas tem muitas outras coisas que acabam acontecendo junto, como uma conexão maior ao ambiente, muitas vezes passa a reconhecer emoções nas pessoas, atende comandos, então sim, tem essa chance de mudar.

Quanto à dor crônica, o CBD ajuda?

Doutor Pedro Pierro - Ajuda e muito, mas também depende de que dor você está falando. Se você tem uma dor de fibromialgia, o THC, óleos full spectrum é muito legal de usar. Se você tem uma dor da alma, o CBD acaba funcionando mais, o THC não tem tanta importância, a não ser que você queira fazer uma dissociação. 

Quais as diferenças do THC e do CBD em um tratamento? 

Doutor Pedro Pierro - Você tem vários receptores no corpo, e você tem aqueles que são exclusivos para canabinóides, o CB1 e CB2. Todo canabinoide para ser canabinoide tem que se conectar a esse receptor. O canabinoide pode se conectar a outros, mas nenhum outro neurotransmissor ou substância vai se conectar a esse receptor. Os dois canabinoides que os receptores CB1 e CB2 mais preferem, que eles dão preferência, e são os dois que mais têm em abundância, é o THC e o CBD. 

Então, se você tem um óleo que tem THC, o receptor prefere o THC que o CBD, ele vai se conectar primeiro com o THC. Já quando o óleo tem muito mais CBD, outros receptores vão se conectar ao CBD, que são os óleos full spectrum com baixo THC. Você vai ter mais conexões com o CBD pela quantidade de CBD que você tem no óleo. Quando se tira o THC do óleo, mesmo que seja de espectro ampliado, você não tem mais essa competição. 

A quantidade de CBN e CBG que você tem nesse tipo de óleo é muito pequena, diferente de quando você tem os espectros ampliados, que a metade da dose de CBD você tem de CBG, aí você tem uma diferença. O espectro ampliado com 0.02% de CBN, 0.1% de CBC, 0.3% de CBG, não vai fazer tanta diferença porque não provoca o efeito entourage. Para o efeito entourage você precisa ter todos os canabinoides. 

O THC é o que mais provoca efeitos psicoativos. Se alguém tem adição por cannabis, psicose, é por conta do THC. Mas eu acho que o THC tem que ser demonizado? Não, muito pelo contrário. Falo que meu óleo de preferência é o full spectrum com THC, mas tem casos que o THC atrapalha e, para isso, a gente tem os óleos isolados, ou os óleos de espectro ampliado com canabinoides menores em proporções de minuta, que ajudam muito.

Para crianças com ansiedade que desenvolvem tricotilomania, a cannabis auxilia? A paciente faz uso de sertralina. Poderá haver substituição?

Doutor Pedro Pierro - Pode ajudar bastante. Nesse caso um óleo isento de THC, como o Carmen 's Kids, funciona muito bem. Vai ter substituição da sertralina? Parar as medicações é muito mais uma consequência do que um objetivo, o objetivo é a pessoa estar bem, se isso vai acontecer com ou sem alopatia, é difícil falar. Se tem um caso que a alopatia está provocando danos no fígado, a gente tem um motivo para tentar parar. Caso contrário, menos é mais, quanto menos medicação, melhor, mas o importante é a pessoa bem, mesmo usando alopatia junto.

Por que muitos médicos têm medo de THC para crianças?

Doutor Pedro Pierro - O THC ninguém sabe se desencadeia esquizofrenia e psicose ou se pessoas que já teriam essa tendência genética, ao usar o THC, isso se manifesta mais cedo. Mas, a princípio, se fala que pode causar alterações psiquiátricas, então esse é o grande receio, e não existe um número cabalístico, como "até 3mg você pode usar com segurança e acima disso tem risco”, o que a gente sabe de pessoas que usaram de forma social, não de forma médica, em quantidades maiores que as usadas na prática terapêutica, apresentaram esse tipo de alteração. Particularmente, quando vou usar o THC em doses maiores em crianças, eu faço um teste genético para avaliar se existe esse risco ou não. O teste genético não dá 100% de garantia se isso pode acontecer ou não, mas dá uma boa segurança.

Para ansiedade o melhor é o THC?

Doutor Pedro Pierro - A princípio não. A princípio o CBD é ansiolítico e o THC é ansiogênico. Mas, na minha opinião, o THC não é ansiogênico, eu acho que as pessoas que nunca entraram em contato com o efeito psicoativo, quando entram, se assustam e geram ansiedade, falo isso apenas baseado na minha experiência no consultório. Mas o que temos à luz da ciência é que, para ansiedade, o melhor é o CBD, e se pode usar 0.3% de THC, então eu uso. Mas se algum colega médico não se sentir à vontade com isso, pode usar um óleo isento de THC, como o da Carmen’s Kids, que também pode ser usado em adultos. A questão é que o THC, até que se prove o contrário, é ansiogênico.

Pode usar CBD em recém nascidos?

Doutor Pedro Pierro - A questão é, por que nós usaríamos no recém nascido? Ele convulsionou? Eu usaria. Inclusive a primeira prescrição para epilepsia foi em um periódico inglês, em 1800 e alguma coisa. O médico usou um óleo feito de planta indica em uma criança de 2 dias por conta de epilepsias incontroláveis, então dependendo do motivo, eu usaria sim.

Confira as Lives Sechat organizadas por tema e data

Confira a lista completa de lives, organizadas por tema e convidado, que você pode assistir tanto pela nova aba “Vídeos”, localizada no menu da home do portal Sechat, como pelo nosso canal no Youtube: 

– Cannabis x Covid-19, com Pedro Pierro Neto (16/03/20) e (Live 2)

– Indústria x Covid-19, com José Bacellar (16/04/2020)

– A importância do cultivo de Cannabis, com Arthur Arsuffi (20/04/2020)

– Panorama da Cannabis na pandemia, com Wilson Lessa (20/04/2020)

– Atendimento a Associados Canábicos em tempos de Covid-19, com Margarete Brito (20/04/2020)

– Acesso a medicamentos, com Camila Teixeira (20/04/2020)

– Uso de Cannabis em Animais, com Erik Amazonas (20/04/2020)

– Cultivando direitos, com Cida Carvalho (05/05/2020) e parte 2

– Medicamentos à base de Cannabis, com Fabrício Pamplona (07/05/2020)

– Telemedicina, com Viviane Sedola (14/05/2020)

– Família e Cannabis Medicinal, com Neila Medeiros (26/05/2020)

– Desafios de uma startup no Mercado de Cannabis Medicinal, com Jaime Ozi (28/05/2020)

– Pesquísas cientícas dos medicamentos de Cannabis, com Dr. Wellington Briques (02/06/2020)

– Lei de Fomento à pesquisa de Cannabis no RJ, com Carlos Minc (09/06/2020)

– Esclerose múltipla e Cannabis, com Gilberto Castro (11/06/2020)

– A cultura do cânhamo, com Lorenzo Rolim da Silva (16/06/2020)

– Prescrição de Cannabis em animais, com Tarcísio Barreto (18/06/2020)

– Cannabis, ansiedade e bem-estar, com Mohamad Barakat (23/06/2020)

– Prospecções da regulação canábica no Brasil, com Rodrigo Mesquita (25/06/2020)

– Como a expansão das associações ajuda pacientes, com Pedro Sabaciauskis (30/06/2020)

– Teste clínico com Cannabis medicinal, com Murilo Gouvêa (02/07/2020)

– Direito do paciente e a Cannabis medicinal, com Ana Izabel Carvana de Hollanda (07/07)

– Inovação e Cannabis medicinal, com Alex Lucena (09/07/2020)

– Como participar do ecossistema da Cannabis medicinal, com Marcel Grecco (14/07/2020)

– O mercado de Cannabis no Uruguai, com Gabriela Cezar (16/07/2020)

– Cannabis no tratamento de Parkinson, com Flávio Henrique de Rezende de Costa (21/07/2020)

 A necessidade de uma legislação para medicamentos, com Fábio Mercante de San Juan (30/07/2020)

– Tipos de extratos e vias de administração dos produtos à base de Cannabis, com Renata Monteiro (04/08/2020)

– Tratamento com Cannabis medicinal, com Paula Dall’Stella (06/08/2020)

– A Nova política para a Cannabis, com Marco Algorta (13/08/2020)

– Canabinoides em Neuropsiquiatria: uma nova fronteira clínica, com Dr. Wilson Lessa Junior (20/08/2020)

– Substitutivo do PL 399/2015, com Cassiano Teixeira (21/08/2020)

– PL 399-2015 e o aumento de acesso à Cannabis medicinal, com Deputado Federal Eduardo Costa (28/08/2020)

– Andamento do PL 399-2015, com Pedro Sabaciauskis (08/09/2020)

– Dificuldades de trabalhar com a Cannabis, com Ana Hounie (10/09/2020)

– Avanços e Desafios da PL 399, com Pedro Gabriel Lopes (15/09/2020)

– Preço de tratamentos com Cannabis, com Rodolfo Rosato (24/09/2020)

– Análise de Canabinoides usando Cromatografia de Camada Delgada, com Paulo Jordão Fortes (14/10/2020)

– Centro de Excelência Canabinóide, com Marcelo Sarro (20/10/2020)

– A Importância do Acolhimento, com Neide Martins (28/10/2020)

– PL 399/2015 , com Rodrigo Mesquita (03/11/2020)

– Conversando sobre Cannabis Medicinal, com Dr. Pedro Pierro Neto (10/11/2020)

– PL 399, com Deputado Federal Luciano Ducci (17/11/2020)

– A Cannabis Medicinal após o filme “Ilegal”, com Tarso Araujo (24/11/2020)

– Panorama da Cannabis Medicinal em 2020, com Emílio Figueiredo (01/12/2020)

– Bioética na Cannabis para uso Medicinal, com Jackeline Barbosa (07/12/2020)

– O caminho que levou Paulo Teixeira ao PL da Cannabis, com Deputado Paulo Teixeira (15/12/20)

– Conversando sobre Cannabis Medicinal (22/12/20)

- Conversando sobre Cannabis Medicinal, part 2, com Dr. Pedro Pierro (02/02/2021)

- Tecnologias para a cadeia da Cannabis Medicinal e Industrial no Brasil, com Sérgio Rocha (09/02/2021)

- Os quadrinhos da Jamba Estúdios, com Luiz Mandara (23/02/2021)

- Medical Cannabis Fair, com Malu Savieri (02/03/2021)

- A decisão da justiça que suspendeu o trabalho da Abrace, com Pedro Sabaciauskis (04/03/2021)