Roupas de Cânhamo: Uma alternativa pouco conhecida de consumo sustentável e consciente

O cânhamo industrial pode servir para diversas finalidades, como, por exemplo, para a indústria têxtil

Publicada em 28/12/2022

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Por especial Rafael R. Pereira

O fim de ano chegou e você já deve estar pensando naquele look que você quer usar no Ano Novo, certo? Mas que tal aproveitar esse momento para refletir sobre como adquirir hábitos de consumo mais conscientes, roupas mais duráveis e qualidade incrível? Para isso, basta adquirir para o seu armário peças feitas com tecido produzido a partir da semente da cannabis? Por que não?

A discussão sobre a cannabis pode ir muito além da legalização, uso medicinal ou terapêutico e; tão pouco, ser limitada aos tabus que envolvem o assunto no Brasil. Nessa reportagem, nós trazemos algumas curiosidades interessantes sobre o cânhamo, matéria-prima que vem revolucionando e movimentando a indústria da moda.

Afinal, o que é o cânhamo?

É uma espécie da cannabis sativa, que é da mesma família da maconha e tem baixa concentração de tetrahidrocanabinol (THC), principal agente psicoativo da cannabis. O consumo não provoca efeito alucinógeno, pois ela apresenta uma concentração de menos de 0,3% de THC. Apesar disso, a planta, juntamente com a cannabis sativa, é proibida no nosso país.

O cânhamo industrial pode servir para diversas finalidades, como, por exemplo, para a indústria têxtil. Ela é extremamente forte e durável, além de ser resistente a raios UV. A sua textura, que se assemelha ao linho, pode ser misturada a várias fibras, como o algodão, à lã, ao poliéster, entre outros. O tecido resultante é aproveitado para a fabricação de blusas, calças jeans e acessórios, etc.

Cânhamo e maconha são a mesma coisa?

Não. Apesar de serem da mesma espécie - a Cannabis sativa - o que diferencia o cânhamo da maconha é o perfil químico de cada planta. Para ser classificado como cânhamo, a planta precisa ter menos de 0,3% de THC, o principal composto psicoativo da planta, em peso. Se o valor de THC estiver acima desse nível, a planta é considerada maconha.

E os seus benefícios?

O cânhamo possui um dos processos de fabricação mais sustentáveis do mundo. A sua técnica de produção utiliza pouca água e praticamente nenhum pesticida. Além disso, outro fator importante é que para transformar as fibras em tecido não é necessário nenhum processamento químico, ou seja, degrada bem menos o meio ambiente.

Os seus benefícios estão presentes tanto no seu cultivo como também no produto final. Para se ter uma ideia, o plantio do cânhamo produz mais fibras por hectare que o algodão, principal matéria-prima usada na fabricação de roupas no país.

Além de mais produtivas, as plantações de cânhamo também não requerem o uso de agrotóxicos, devido a sua alta resistência natural a pragas. Não é só isso, são muitas as vantagens, como um cultivo que demanda menos água que o algodão e o linho e o crescimento da planta se beneficia de climas quentes, como o do Brasil.

O processo de fiação e tecelagem também consome menor energia e o tecido pronto é mais resistente e durável que os demais tecidos naturais,

A partir desses aspectos, podemos considerá-la mais sustentável do que várias matérias-primas usadas atualmente na confecção de roupas. As roupas produzidas com cânhamo também trazem conforto e bem-estar para quem as veste, pois as suas fibras absorvem a umidade e secam mais rápido, além de poder ser lavado várias vezes, sem afetar a qualidade do produto. Por curiosidade, o tecido é cerca de quatro vezes mais forte que o algodão e quase não amarrota.

Existem marcas famosas que produzem roupas a base de hemp/cânhamo,
sabia? Algumas grandes marcas já aderiram à fibra. Desde 2013, a norte-americana Levi’s, vem incorporando a matéria-prima em algumas de suas peças e coleções. No Brasil, é possível encontrar roupas de algumas marcas brasileiras que se utilizam do cânhamo para produzir suas roupas e cosméticos, tais como a Greenco, Ginger, Levi’s, Reserva e Adidas.

A Ginger, marca da atriz Marina Ruy Barbosa, lançou sua primeira coleção oficial produzida com a planta da família da maconha. A Ginger teve 24 peças, entre camisetas, bodies e regatas com fibras a base de cânhamo que, segundo a marca, serve para dar forma às peças. Segundo a empresa, as referências vêm da arte contemporânea e, ao mesmo tempo, acrescentam uma pegada retrô, com um leve resgate aos anos 1980.

A Reserva e a Osklen também são outras duas lojas brasileiras que colocaram roupas com esse tecido em seus catálogos. Já a Weedog, empresa mineira, é uma marca que inseriu na moda pet o uso do cânhamo também.
Marcas internacionais, como Woolrich, Cannabeings Designs e Hemp Authority, também são especializadas na confecção de roupas de cânhamo, além de grandes marcas como Quicksilver e Patagonia que passaram a usufruir dos benefícios do cânhamo como tecido. Artistas que utilizam essas roupas.


Diversas celebridades pelo mundo apostam no setor de cannabis que deve
movimentar cerca de 34 bilhões de dólares até 2025, são eles Mike Tyson, Drake, Miley Cyrus e Snoop Dogg.

Já no setor da moda
, a atriz Marina Ruy Barbosa e a empresária Vanessa Ribeiro lançaram no final de 2020 a marca de roupas Ginger, que usa a fibra de cânhamo na sua composição.

Alguns dados sobre esse mercado Atualmente, são mais de 50 países que permitem o cultivo da planta, que é 100% aproveitável e tem mais de 25 mil possibilidades de uso pela indústria. Infelizmente, no Brasil, não há regulamentação e a produção segue proibida.

Apesar de não haver uma lei que o regulamente, o mercado de cannabis vem crescendo exponencialmente no Brasil. Nessa perspectiva, a Kaya Mind, primeira empresa brasileira especializada em dados e inteligência de mercado no segmento da cannabis, do cânhamo e de seus derivados, fez uma estimativa que indica que o setor pode chegar a R$917,2 milhões em 2024.

A empresa aponta que, até o final de 2022, o mercado da cannabis pode
movimentar R$ 363,9 milhões. Isto é, um crescimento de 9734% em relação a 2018, que teve uma receita estimada em R$ 3,7 milhões. Além disso, o mercado deve atingir, em 2023, R$ 655,1 milhões.

Os dados citados fazem parte do ”Anuário da Cannabis no Brasil", lançado no dia 16 de novembro, com um material inédito sobre a regulamentação da cannabis no país e seus desdobramentos no mercado. Com mais de 15 patrocinadores e grandes apoiadores do setor, institucionais e de mídia, é o único anuário completo com dados sobre o mercado da cannabis no Brasil.