Revista médica norte americana aponta que alta concentração de THC pode causar dependência

A revista Lancet Psychiatry afirma que a concentração pode influenciar no vício, mas existe uma dosagem padrão para utilização medicinal do composto?

Publicada em 27/07/2022

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Por Sofia Missiato

O estudo feito em 2020 pela revista Lancet Psychiatry, revelou que o uso de cannabis com alto teor de THC, isto é, acima de 10 miligramas por cada grama, pode causar dependência. Entretanto, há informações cruzadas quando é avaliado a abrangência desta análise. A pesquisa norte-americana envolveu 196 pessoas saudáveis e utilizou TCH isolado e, logo depois da experiência, foi concluído que uma única administração de alto porcentual da substância induz sintomas psicóticos e negativos.

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Leticia Mayer, médica de família especialista em geriatria e cuidados paliativos, entende que os episódios de psicose pode acometer pessoas que já detém alguma predisposição: ‘’Um erro comum é falar de Cannabis de forma generalizada, não fazendo a distinção adequada entre uso medicinal e uso adulto. O uso periódico e de altas doses de THC em forma recreativa pode desencadear sintomas psiquiátricos em pessoas predispostas. Quanto à dependência, esta não é vista nos tratamentos medicinais propostos habitualmente, especialmente devido às quantidades muito menores de THC utilizadas em comparação com o uso adulto. Nos tratamentos realizados com cannabis medicinal existe a dose correta para cada paciente dependendo de suas necessidades individuais.’’

Os componentes mais estudados da maconha são o tetrahidrocanabinol (THC) e o canabidiol (CBD), compostos naturais da planta cannabis sativa. Mas um grande detalhe os diferencia: o THC é o principal ingrediente psicotrópico da cannabis, já o CBD não. 

O THC estimula os receptores visuais e auditivos do cérebro, com leve efeito eufórico para o usuário. O segundo, por sua vez, causa um efeito sedativo no organismo. Tanto o CBD quanto o THC atuam nos receptores canabinóides em nosso corpo, que são encontrados principalmente no cérebro e em nossos sistemas nervoso e imunológico.

A cannabis tem mais de 500 outras substâncias químicas, incluindo mais de 100 compostos quimicamente ligados ao THC, ou seja, é uma planta muito mais complexa do que costuma ser abordada. Cada composto químico desempenha um papel diferente na forma como afeta a mente e o corpo. Os terpenos, por exemplo, que também são compostos encontrados na maconha e são responsáveis ​​pelos sabores e odores, ao atuarem de maneira conjunta com os canabinoides, apresentam uma maior eficácia na modulação do Sistema Endocanabinoide, o que pode resultar em uma melhor absorção pelo organismo. 

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A concentração máxima de THC recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) é de 0,2% em produtos derivados da cannabis sativa, porém pode ser encontrado diversos produtos com concentrações mais altas. Há uma toxicidade que pode ser provocada em qualquer indivíduo quando este consome quantidade superior ao que o organismo possa absorver, o estudo feito pela revista Lancet Psychiatry não prevê individualidades.

Leticia Mayer salienta: ‘’Cannabis medicinal é realmente uma medicina personalizada, portanto é difícil falar em doses recomendadas. É claro que existem algumas doses que servem como balizas para as prescrições, no entanto, o médico deve avaliar quais as patologias, os sintomas e a sensibilidade do paciente para definir a melhor dosagem e posologia. É preciso ficar atento ao surgimento de efeitos colaterais, pois este provavelmente será o fator limitante com relação a dose limite diária, e isto é variável de pessoa para pessoa.’’

As espécies de cannabis com alta concentração de THC funcionam bem como um relaxante muscular, dor crônica e antiespasmódico, sendo um psicoativo com benefícios para pacientes com deficiência cognitiva, como demonstrou o estudo publicado no Journal of Medical Case Reports, que aponta melhora no quadro do paciente portador de Alzheimer. A investigação científica mostrou que o tratamento com cannabis medicinal melhora as funções cognitivas e comportamentais que normalmente estão alteradas nesta doença.

Portanto, o potencial efeito terapêutico da maconha está na dosagem individualizada. É importante estar atento para entender o corpo tratado e qual a combinação de canabinóides funciona para cada qual. Um tema que terá continuidade apenas com pesquisa e educação, a eficácia do tratamento alternativo com fitocanabinoides requer prescrição adequada como qualquer outro medicamento.

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