Por Leandro Maia
Na obstetrícia, o uso de medicamentos à base de cannabis é um tema que divide opiniões entre os médicos. Por se tratar de um assunto importante, o Sechat conversou com profissionais para trazer informações e orientações sobre os efeitos dos derivados da planta durante a gravidez.
A gestação é uma fase muito delicada, é preciso considerar também as individualidades. Um dos exemplos é o caso de pacientes que já faziam o uso de produtos derivados da planta antes mesmo de engravidar, seja para uso adulto ou, então, para o tratamento de transtornos mentais. No Brasil, estima-se que uma em cada cinco mulheres apresenta Transtornos Mentais Comuns (TMC), já a taxa de depressão corresponde a mais que o dobro da verificada em homens, de acordo com os dados do Instituto Castus de 2021.
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Na medicina canabinoide, os medicamentos à base da planta são prescritos para muitas doenças, como os transtornos mentais. Portanto, considerando o caso, por exemplo, de uma paciente diagnosticada com depressão e adepta ao tratamento alternativo, que descobre a gravidez. Fica a pergunta: o que seria menos prejudicial para o desenvolvimento do bebê, suspender os remédios à base de canabidiol e recorrer à alopatia, como antidepressivos, ou manter a terapia canábica prescrita?
O Sechat conversou com a ginecologista Mariana Prado que explicou que a falta de evidências científicas robustas deixam os profissionais em meio ao “limbo” – expressão que faz referência à dúvida, incerteza ou indecisão.
Ginecologista Mariana Prado explica o risco x benefício do uso da cannabis na gestação. pic.twitter.com/h5qD8UMbYU
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“Na gestação, é preciso enfatizar que o THC (substância psicoativa) é contraindicado” , Mariana Prado
É importante lembrar que nosso corpo possui o sistema endocanabinoide. O CB1 e o CB2 são os dois tipos principais de receptores do sistema endocanabinoide. São como “estações” ou locais de ligação, presentes em diversos tipos de células em todo o organismo. Segundo a médica, esses dois receptores são muito importantes para a formação do útero.
“Sabe-se muito bem que o feto tem o sistema endocanabinóide. E isso é muito importante na formação do feto intra útero, se a maconha é usada de forma adulta, com todos os compostos, como o TCH, isso interfere na formação do bebê”, disse.
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“O uso adulto da cannabis na gestação causa alterações no feto, principalmente neurológicas e distúrbio de crescimento. Isso tem que ser digno de nota e precisa ser falado quando o assunto é o uso da cannabis na gestação”, afirmou.
Os canabinoides podem se ligar, bloquear ou moldar a atividade destes receptores, produzindo assim os efeitos terapêuticos desejados.
Risco x Benefício
Sobre o risco versus o benefício é importante considerar uma avaliação com uma equipe multidisciplinar, com psiquiatra e psicólogo, para avaliar o quadro clínico do paciente e saber o nível do problema psiquiátrico.
Considerando a possibilidade da prescrição do canabidiol, é necessário “compreender que a paciente pode usar uma droga que é muito mais danosa, a exemplo dos antidepressivos, no primeiro ou segundo semestre da gestação, é um risco que precisa ser considerado. Imaginando as duas possibilidades, é muito mais lógico usar algo muito mais natural, mesmo que não tenha tantas evidências científicas”, pontuou.
Colunista do Portal Sechat, Adriana Russowsky chamou a atenção para os riscos da amamentação associada ao uso adulto da cannabis. De acordo com ela, muitas mulheres têm dificuldade para interromper o uso, hábito que pode prejudicar o desenvolvimento cognitivo da criança. Ela explicou que o THC circula facilmente pelo leite materno por ser uma molécula que se liga à gordura. Isso potencializa o risco do comprometimento do desenvolvimento neurológico da criança em amamentação.
Farmacêutica Adriana Russowsky compara a cannabis medicinal com substâncias imunomoduladoras na gestação. pic.twitter.com/f6q2GR0lH4
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“No caso de uma gestante, que sofre de lúpus, uma doença autoimune, usar a cannabis medicinal em um protocolo adequado seria muito melhor do que a paciente ficar sem o uso do canabidiol (composto que não tem substâncias psicoativas como THC), do que optar por imunomoduladores, substâncias que têm muitos efeitos adversos”, considerou.
Adriana Russowsky afirma que THC pode ser levado ao bebê por meio do leite materno e comprometer o sistema neurológico. pic.twitter.com/X3wXdIoUU3
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Ao finalizar, a farmacêutica afirmou que é necessário considerar todas as situações. “Nós temos que falar a realidade. Existem muitas mulheres que gostam de fumar maconha ou skunk (droga conhecida como super maconha) e descobriu que está grávida e não querem parar de fumar porque têm esse costume. Muitos ginecologistas dizem que é melhor a gestante fumar um cigarro antes de dormir, do que ficar naquela ansiedade por causa da abstinência”, finalizou. ‘