Potencial agronômico do cânhamo industrial: redução de defensivos químicos e aumento da renda no campo

Por Lorenzo Rolim da Silva

Já fui responsável por diversas produções de cannabis medicinal e cânhamo, iniciei minha carreira profissional cultivando em ambientes indoor para o mercado farmacêutico, depois migrei para o cultivo de em estufas visando os mercados medicinal e recreativo, até que cheguei ao cultivo de cânhamo em grande escala, onde fui responsável por mais de seis mil hectares de cultivo no Paraguai desde 2019. Posso afirmar com conhecimento de causa, que atualmente, o maior potencial do Brasil para geração de renda com cannabis, será o agronegócio.

Lorenzo Rolim da Silva em meio a produção de cânhamo no Paraguai

O cânhamo industrial apresenta uma sinergia notável com o agronegócio brasileiro, especialmente em estratégias de rotação com a soja, a principal cultura agrícola do país. O cultivo do cânhamo traz benefícios agronômicos significativos, melhorando o controle de pragas e plantas invasoras tanto no curto quanto no longo prazo. Isso resulta na redução do uso de defensivos químicos e, consequentemente, em um aumento da renda dos produtores rurais.

Uma das vantagens agronômicas do cultivo do cânhamo é sua capacidade de inibir o crescimento de plantas invasoras. Devido ao crescimento rápido e denso do cânhamo, ele compete efetivamente com as plantas indesejadas por luz, nutrientes e espaço. Isso reduz a necessidade de aplicação de herbicidas, diminuindo o impacto ambiental e os custos associados ao controle de plantas invasoras.

Além disso, o cultivo do cânhamo ajuda a controlar pragas agrícolas, como nematóides e insetos. O cânhamo produz naturalmente compostos químicos chamados terpenos, que possuem propriedades repelentes para muitas pragas comuns, associado a isso, a planta possui uma rusticidade natural, o que lhe dá muita resistência a diferentes níveis de ataque de insetos. Essa capacidade de controle de pragas, aliada ao fato de que o cânhamo é de uma família botânica que não possui outras plantas na nossa matriz agrícola, oferecendo períodos maiores para eliminação de certas pragas específicas de outras culturas, faz com que a dependência de inseticidas químicos e nematicidas sejam reduzidas, promovendo práticas agrícolas mais sustentáveis.

A rotação de culturas entre o cânhamo e a soja pode trazer benefícios ainda maiores. A soja é suscetível a algumas pragas específicas, como a lagarta da soja. Ao introduzir o cultivo do cânhamo em rotação com a soja, ocorre uma quebra do ciclo dessas pragas, reduzindo sua incidência. Essa prática de rotação também melhora a saúde do solo, reduzindo a pressão de doenças e melhorando a disponibilidade de nutrientes, além do cânhamo oferecer um processo de descompactação do solo devido ao seu forte sistema radicular e com raiz pivotante profunda.

Outro fator importante é que o cânhamo é uma cultura adaptada ao clima de regiões mais frias, o que faz com que seu cultivo na região do cerrado, principal região produtora de soja no Brasil, seja mais propício durante o inverno, oferecendo ao produtor mais uma opção de cultura de entressafra e não competindo em área com a soja, o que não compromete a produção do carro chefe da nossa agricultura.

Essas vantagens agronômicas do cultivo do cânhamo trazem benefícios tanto para os agricultores quanto para o meio ambiente. O uso reduzido de defensivos químicos não apenas reduz os custos de produção, mas também diminui os riscos para a saúde humana e a contaminação ambiental. Isso resulta em uma agricultura mais sustentável e de maior valorização dos produtos agrícolas brasileiros.

Vale ressaltar que o cânhamo industrial tem despertado interesse global, inclusive de celebridades que decidiram investir nessa cultura. Nos Estados Unidos, por exemplo, personalidades como Martha Stewart e Jay-Z investiram em empresas de cânhamo e estão colhendo os benefícios dessa decisão. Essa tendência demonstra o potencial econômico do cânhamo e a confiança em seu crescimento sustentável.

Dados gerais sobre a agricultura e produção de cânhamo reforçam seu potencial no agronegócio brasileiro. Segundo relatórios, a área global de cultivo de cânhamo triplicou de 2016 a 2020, atingindo mais de 180.000 hectares. A produção mundial de fibras de cânhamo aumentou em média 30% ao ano durante o mesmo período. Esses números indicam uma demanda crescente por produtos derivados do cânhamo e oferecem uma oportunidade para o Brasil entrar nesse mercado em expansão.

A sinergia entre o cânhamo industrial e o agronegócio brasileiro é evidente. Ao introduzir o cultivo do cânhamo em rotação com a soja, os produtores rurais podem melhorar o controle de pragas e plantas invasoras, reduzirem o uso de defensivos químicos e aumentarem suas rendas. 

Com exemplos de grandes empresas, como as multinacionais do tabaco, celebridades e até países inteiro que implementaram programas de incentivo à espécie e que investiram no cultivo, fica claro que o cânhamo possui um potencial econômico significativo. O Brasil tem a oportunidade de se posicionar como um importante produtor e fornecedor de produtos derivados do cânhamo, impulsionando o agronegócio e contribuindo para práticas agrícolas mais sustentáveis.

As opiniões veiculadas nesse artigo são pessoais e não correspondem, necessariamente, à posição do Sechat.

Sobre o autor:

Lorenzo Rolim da Silva é Engenheiro Agrônomo e presidente da LAIHA (Associação Latino-Americana de Cânhamo Industrial).

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