<strong>Por que a maconha se tornou ILEGAL?</strong>

Felizmente, em 2020, por solicitação da OMS, a cannabis foi retirada dessa lista e classificada com outras definições. Entenda

Publicada em 16/05/2023

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Por Bruna Kohler
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Esse assunto abre questionamentos logo de cara, já que a informação difundida a respeito é de que a maconha compõe o grupo de drogas viciantes, de certa periculosidade e, por consequência, seu porte e comercialização são ilegais, porém, ela foi classificada dessa forma há pouco mais de 100 anos. Mas quando e por quê tudo mudou? Vamos entender!
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Nos últimos anos o cenário da disseminação de informações a respeito da maconha tem sido transformado, graças aos meios de comunicação mais eficientes e fluidos, o compromisso com a veracidade e seriedade por parte dos responsáveis por esses veículos, o próprio crescimento e desenvolvimento dos estudos, as pesquisas referentes à cannabis, já que seu uso terapêutico causa revoluções na administração de tratamentos, além das novas formas de abordagem na medicina. A derrubada das ideias tão equivocadas sobre o tema ainda está no começo e prevê longa jornada, mas para desmistificar esses elementos no presente, é preciso entender o passado e o fundamento inicial da história de sua proibição.

Bruna Kohler

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 Já é do conhecimento de nossos leitores a relação da humanidade com nossa querida planta. Os escritos e materiais deixados por diversas civilizações e o registro dos antepassados que passaram por diversas regiões do mundo comprovam que a cannabis sempre compôs a gama de fármacos, curativos e embasou diversas formas de terapia. Há indícios dessas utilizações datados em mais de 5.000 anos atrás, aproximadamente. Em épocas mais recentes (século XIX), os diversos extratos eram comercializados em farmácias comuns, como podemos conferir na imagem abaixo em que, a própria folha de cannabis representa o estabelecimento destinado à venda de remédios e produtos medicinais.

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Farmácia com folha de Cannabis como símbolo do estabelecimento no final do século XIX, antes da proibição estabelecida. (Foto: Reprodução Internet)

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Pouco mais de um século após essa contextualização da cannabis na medicina, um quadro de grande burocracia e barreiras é observado quando se inicia a busca e inserção em um tratamento com tal medicina, quando se requer condições para a produção do medicamento e também, quando se trata do acesso à todos, já que todos os processos dificultosos encarecem o resultado final. Sendo assim, algumas questões são observadas: E se a maconha nunca tivesse sido proibida, em que patamar estaríamos nesse ramo medicinal? Mesmo com tantas comprovações de sua potência, por quê ainda há tanta resistência? E afinal, por quê a cannabis entrou na ilegalidade se sempre foi remédio? Essas perguntas podem ser respondidas com algumas informações sobre a história e a política em nossa sociedade.

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No final do século XIX foram criadas políticas de proibições a certas substâncias, denominadas narcóticos, a partir de acordos entre países participantes da Liga das Nações (precedente à fundação da ONU). Essas ações foram tomadas devido à necessidade de governos asiáticos em solucionar problemas resultantes do grande uso de ópio por parte de suas populações, o que resultou na proibição dessa substância e seus derivados, assim como, mais tarde, incluindo também a heroína e cocaína nessas restrições.

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Essas proibições foram aplicadas em diversos países do mundo, dentre eles, os Estados Unidos, que, também em busca do controle do uso de drogas no país, estabeleceu a Lei Seca, em 1920, restringindo o consumo de álcool e especificando os contextos em que este seria permitido. Em frente a este novo momento, em substituição ao álcool, muitas pessoas começaram a conhecer e fazer uso recreativo da maconha, que, a princípio, pertencia culturalmente às comunidades negras e mexicanas, por quem foi inserida na sociedade estadunidense.

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As populações brancas travaram relações mais próximas com esses grupos, a partir do uso da maconha, tornando-os cada vez mais integrantes e participativos na coletividade estadunidense. Essa substância alternativa trazia um efeito bem diferente do álcool, despertava sensações de relaxamento, alegria e facilitava a sociabilização, o que integrou de vez os nativos e estrangeiros e, então, uma questão xenófoba e racista se iniciou.

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Henry Aslinger, chefe da Divisão de Controle Estrangeoro do Comitê de Proibição da época, não aceitando essa inserção, tomou como pessoal, a missão de segregação desses círculos e, como solução, inseriu a maconha na lista de drogas ilícitas. Para justificar e afirmar a decisão, diversas fake news foram espalhadas em meios de comunicação, sobre efeitos perigosos da cannabis, como, surtos, mortes, assassinatos motivados pelo efeito, notícias que nunca foram comprovadas, ou se quer, tiveram suas fontes encontradas. Sendo assim, a maconha foi classificada como droga perigosa, igualada à cocaína e heroína, em seu grau de dependência e dano.

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Felizmente, em 2020, por solicitação da OMS, a cannabis foi retirada dessa lista e classificada com outras definições, o que facilita, cada vez mais, seu estudo e reinserção na medicina.

Ainda há muito preconceito e opressão a serem combatidos pela humanidade, além dos "sub preconceitos", surgidos a partir de intolerâncias já estabelecidas, como foi o caso da proibição da maconha. A celebração pelas conquistas que temos hoje, já é válida, em vista de toda a cultura mal embasada que foi enraizada ao longo do último século. Continuar aliado, em prol da informação verídica e honesta, levará essa potente planta rumo à transformação que a medicina canábica trará ao mundo.

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Por fim, uma sugestão de leitura sobre a história da cannabis no mundo e, uma recomendação de documentário a respeito do assunto tratado no texto:

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Livro: O Grande Livro da Cannabis - Rowan Robinson
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Documentário: Baseado em Fatos Raciais - disponível na Netflix