Pesquisa revela que composto da cannabis pode melhorar a memória de mulheres na menopausa

Atuando no estrogênio, responsável pelo controle da ovulação e desenvolvimento das características femininas, o canabidiol age como neuroprotetor na redução da produção do hormônio

Publicada em 27/06/2022

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Por João R. Negromonte

Uma pesquisa, desenvolvida pelo Departamento de Fisiologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), mostrou que o canabidiol (CBD), composto derivado da planta da cannabis, possui propriedades neuroprotetoras que auxiliam mulheres na menopausa a reverter os prejuízos da memória causados pela disfunção hormonal.

O termo, menopausa, é muitas vezes utilizado indevidamente para designar o climatério, fase de transição do período reprodutivo para o não reprodutivo da vida da mulher. A disfunção inicia quando os ovários param de produzir hormônios, afetando o bem estar e a qualidade de vida das mulheres. A diminuição do hormônio estrogênio, ocorrida nesta fase, contribui para a perda da memória e o aumento do risco de desenvolvimento de danos neurais.

“Então, aquilo que vinha protegendo contra o mal de Alzheimer e outros tipos de demência a mulher perde ao perder o estrogênio'', revela a responsável pela pesquisa e professora do Departamento de Fisiologia da UFRGS, Nadja Schröder em entrevista ao portal G1.

A docente, que pesquisa o canabinoide há pelo menos 10 anos, destaca que começou com um modelo experimental de disfunção cognitiva associado a sobrecarga de ferro, sintoma característico de doenças degenerativas.  

“Como a gente comprovou que ele era melhorador da memória em outro modelo, mais recentemente, a gente teve o interesse de buscar se essa substância seria capaz de melhorar os déficits de são associados à menopausa”, explica a pesquisadora.

Para a pesquisa, o método utilizado foi feito a partir da retirada dos ovários de animais para reproduzir a queda na produção hormonal, assim como acontece com as mulheres. Desse modo, os pesquisadores puderam observar que a prevalência do Alzheimer, por exemplo, se dá tipicamente em mulheres a partir deste ponto.

Para Schröder, “Depois que a mulher entra na menopausa, dobra a chance dela ter complicações neuropáticas em relação aos homens na mesma idade”. Segundo ela, em idades mais jovens, as chances ficam iguais para ambos os sexos.

Atualmente, o método mais comum utilizado para melhorar os efeitos da menopausa, consiste em reposição hormonal, técnica esta controversa no meio científico devido ao aumento do risco de aparecimento de alguns tipos de câncer. Dessa maneira, o uso do canabidiol poderia ser uma alternativa para mulheres que não podem ou que consideram o risco da reposição hormonal.

"Eu sou super entusiasmada com os resultados que a gente obteve com o canabidiol. E como eu venho trabalhando com ele há muito tempo, eu o vejo realmente como uma alternativa potencial de tratamento para as mulheres em menopausa e para neuroproteção em geral.”, declara a pesquisadora. 

O grupo de pesquisa começará em breve um novo estudo para avaliar as interações entre o sistema endocanabinoide - presente em todos os vertebrados e responsável por modular algumas funções do corpo - e o sistema do estrogênio.