Pedro Sabaciauskis: Quando o agro descobrir o potencial do cânhamo, o milho e a soja ficarão em 2º plano

O cânhamo está de volta ao jogo e, em breve, deve assumir protagonismo na agricultura e indústria; entenda

Publicada em 14/03/2023

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Por Leandro Maia

Crescimento rápido e resistência às condições climáticas desfavoráveis, são algumas características que diferenciam o cânhamo de outras espécies. A versatilidade da planta da família da cannabis amplia o seu aproveitamento na indústria, como alimentação, ração animal, material para construção e remédio, por exemplo. Além disso,  a matéria-prima também pode ser usada na fabricação de cordas e velas. Nem todo mundo sabe, mas antes que o algodão dominasse a indústria no século 19, o cânhamo ocupava esse protagonismo.

Mas essa realidade vem mudando. E, aos poucos, o cânhamo está retomando uma participação importante na indústria. Na opinião do fundador da Associação Santa Cannabis (SC), Pedro  Sabaciauskis, palestrante confirmado para o Congresso Brasileiro de Cannabis Medicinal 2023, o dia em que o agro descobrir o poder do cânhamo, o milho e a soja vão ficar em segundo plano. A ideia de baseia em três pilares: apoio do governo, investimento e coragem das empresas do setor para quebrar a barreira que impede o desenvolvimento do cânhamo no país.

Pedro  Sabaciauskis é fundador da Associação Santa Cannabis e um dos palestrantes confirmados para o Congresso Brasileiro da Cannabis Medicinal 2023. Ele irá participar do bloco Negócios e Legislação e abordará o tema: O Cenário da cannabis no Brasil.

“Para isso acontecer, o governo precisa dar instrumentos e fomentar essa mudança de matriz. O hempconcrete (concreto feito de maconha), tem um potencial gigante para a construção civil, mas para isso será preciso arriscar para mudar o modelo construído em cima de cimento, areia e tijolo, por exemplo”, afirmou. 

No entendo, Sabaciauskis vez um contraponto, ao apontar que muitas empresas não estariam dispostas a assumir o risco sem o apoio governamental.

“Para mudar a matriz é necessário ter investimento. E esse investimento precisa vir do governo. Porque, pelo perfil das empresas, elas não vão querer correr risco. Isso serve para a fabricação de linho, fibras, plantação de cânhamo para desmineralizar o solo, ou seja, limpar o solo. Por isso, nada melhor do que plantar cânhamo na entressafra da soja para limpar o solo e aproveitar o que sobra. Seja linho, hemp concrete ou semente que tem muita proteína”, argumentou. 

O congresso Brasileiro da Cannabis Medicinal será realizado entre os dias 4 e 5 de maio, no Expo Center Norte, em São Paulo. É o principal congresso da América Latina sobre os avanços do uso medicinal e industrial da cannabis

O cânhamo no mundo

De acordo com Clara Norell, fundadora da Svensk Hampaindustri, empresa Sueca, a espécie canábica está menos esquecida e, já se pode afirmar, que o cânhamo está de volta ao grande jogo e cheio de oportunidades.

Clara Norell (imagem: Helena M. Eden)

Engenheira civil, Norell passou a se interessar pelos derivados da maconha 20 anos atrás durante uma viagem à África do Sul onde descobriu que o cânhamo era usado na construção de habitações. Esse contato com a cultura daquela população ajudou a mudar radicalmente sua vida. 

Segundo ela, em todo o mundo, o cânhamo está se tornando cada vez mais popular e é usado tanto na produção de roupas quanto na produção de alimentos e plástico. 

 “O cânhamo não é apenas um material de construção bom e acessível, mas também extremamente ecológico. Se você cultivar um hectare de cânhamo, ele absorve 20 toneladas de dióxido de carbono da atmosfera. Isso é quase cinco vezes mais do que se você estivesse cultivando uma floresta na mesma área. E quando construído com cânhamo, o material continua a sequestrar dióxido de carbono, de modo que as casas se tornam sumidouros de carbono. Portanto, para a agricultura sueca, o cânhamo pode ser um sumidouro de carbono eficaz, o que tem um efeito positivo no clima. Além disso, a cultura requer irrigação mínima e é cultivada completamente sem pesticidas”, concluiu.