Paciente de 8 anos zera o número de crises convulsivas refratárias após tratamento com cannabis medicinal.

Criança de 9 anos zera crises convulsivas refratárias após tratamento com cannabis medicinal

gabriela fernandes

O caso do menino Ismael, de apenas 9 anos, é mais uma história comovente. Ele que apresentava crises convulsivas refratárias desde os 6 anos de idade. Durante uma internação na UTI de 27 dias, a mãe, Telma, foi informada pelos médicos de que caso Ismael conseguisse sair do hospital com vida, teria graves consequências. Isso fez com que ela, mulher religiosa evangélica, criasse uma corrente de oração por meio de mensagens enviadas pelo WhatsApp que foram repassadas para diversas pessoas, até chegar na médica, através da terapeuta Luciana Miranda. A equipe da clínica entrou em contato com Telma para prestar atendimento ao seu filho, sabendo da possibilidade de tratamento com a cannabis medicinal.

Ismael, aos 9 anos, leva uma vida mais leve e feliz após conseguir ótimos resultados com a terapia canabinoide. | Foto: Arquivo Pessoal

No dia 31 de março de 2022, Ismael teve sua primeira consulta na clínica, de forma gratuita, pois a mãe não tinha condições de arcar com os custos. Com isso, foi prescrita a cannabis medicinal para o tratamento, porém, Telma não conseguia arcar com o valor do óleo. Dessa forma, com a ajuda de parceiros, conseguiu a doação do óleo para que Ismael pudesse iniciar o  tratamento com cannabis medicinal. Naquele momento, Ismael tinha  8 anos e usava 6 medicamentos anticonvulsivantes, sendo um deles tarja preta, e mais um medicamento antiemético, para modular os efeitos colaterais dos outros medicamentos, que o deixavam tonto e cambaleante. Nesse momento, Telma enviava vídeos de Ismael engatinhando e com salivação excessiva. Já não comparecia mais à escola, pois precisava ser cuidado em casa, não conseguia andar e apresentava dificuldades na fala.

Saiba como a cannabis pode auxiliar do tratamento de outras doenças

Uma semana após o início do tratamento com o acompanhamento da terapeuta Luciana Miranda, ainda sem interromper o uso dos medicamentos que já utilizava, foram notadas melhorias. Ismael estava mais calmo. Um mês depois conseguiu voltar a frequentar às aulas na escola regularmente e dois meses depois conseguiu deixar 6 dos 7 medicamentos que usava. Aos poucos, ele voltava a andar e falar.

Com uma ótima resposta ao tratamento com o óleo de cannabis, dois meses depois, a empresa que fazia as doações até então, não conseguiu continuar fornecendo o medicamento. Telma conseguiu então, a doação de um óleo artesanal que diz ter sido o responsável pela virada de chave na melhora de seu filho, alegando que em uma semana de uso, Ismael estava ótimo, andava normalmente, corria, brincava e estava muito falante.

Atualmente Ismael se encontra bem, não apresenta crises há um ano e meio, não utiliza mais nenhum dos medicamentos convencionais que usava e está no processo de modulação da posologia do óleo, que está sendo feito aos poucos, com sucesso. Carolina permanece atendendo pacientes e se aprofundando na medicina canabinoide.

Ela e a clínica estão promovendo o evento Cacaunabis, sendo a primeira edição, que vai ser realizada nos dias 19, 20 e 21 de abril de 2024, em Serra Grande – BA. O evento já conta com 11 palestrantes confirmados, sendo a maioria mulheres que atua no meio. A ideia é proporcionar a médicos, profissionais da saúde, terapeutas e pessoas que atuam na área da gestão pública um momento de muito aprendizado, intercalado com práticas e vivências integrativas que fortalecem e modulam o sistema endocanabinoide. Dentre elas, práticas corporais, Sound Healing com cristais, meditação, massagens e consagração da bebida do cacau cru orgânico da região.  

O amor pela cannabis

Carolina Carvalho Dantas, mais conhecida como Dra. Lina, exerce sua profissão com um olhar para as diversas camadas da sociedade, não deixando de lado aqueles que por vezes não têm acesso a uma medicina popular. São diversas as etapas que precisam ser avançadas para que o paciente com uma patologia, que pode ser tratada com a cannabis medicinal, tenha a receita do médico prescrevendo a cannabis e o acesso ao tratamento. 

Baiana, de 37 anos, formada pela Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública (EBMSP), sempre atuou na área da saúde pública, em especial, no interior do Estado, conhecendo assim a fundo as demandas da população. 

O primeiro contato com a cannabis medicinal foi no ano de 2018, quando conheceu o caso de uma criança autista, moradora da cidade Morro de São Paulo, que passou a utilizar a cannabis medicinal como parte do tratamento. Esse foi o primeiro habeas corpus para cultivo na Bahia e o que fez com que ela sentisse grande interesse em saber mais sobre o assunto. “Juntei meus nove anos de experiência em saúde comunitária, com aquela frustração de ver certos casos que a gente não conseguia fazer muita coisa, via aquele mesmo paciente voltando e voltando para o consultório e de repente, a gente começa a trabalhar (com a cannabis medicinal) e começa a perceber resultado. Isso me desenvolveu o entusiasmo que ressignificou a minha paixão e devoção pela medicina e pela academia científica”, conta.

“De repente, a gente começa a trabalhar (com a cannabis medicinal) e começa a perceber resultado. Isso me desenvolveu o entusiasmo que ressignificou a minha paixão e devoção pela medicina e pela academia científica”

Carolina Carvalho Dantas – “Dra Lina”, médica

Em 2019, Carolina já buscava conexões com colegas da área da saúde que estudavam e já tinham conhecimento e estudos sobre os benefícios da planta. Assim conheceu Paulo Fleury, com quem fez um estágio em uma caravana pela Chapada Diamantina, absorvendo conhecimentos sobre como trabalhar com a cannabis medicinal no dia a dia do consultório. Também nesse período foi ministrado um curso da Cannabis Medicinal no Vale do Capão (Povoado de Caeté-Açu, Palmeiras-BA), que teve como resultado a formação da Organização Bahiana de Estudos da Cannabis (OBEC), que existe até hoje com o objetivo de dar apoio e acolhimento às famílias e pacientes, humanos e animais, que precisam do tratamento com cannabis medicinal.

Carolina chegou a ser presidente da OBEC por um ano e após sua saída da presidência, em março de 2021, passou a focar em sua clínica. Ela entendeu a necessidade de organizar o atendimento e o registro dos prontuários de pacientes da cannabis medicinal e assim o fez, somando hoje mais de 500 prontuários registrados.

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