Por Norberto Fischer
Há uma década, nossa família se viu diante de uma “viagem” inesperada: a busca pelo melhor tratamento para a síndrome CDKL5 de nossa filha, Anny. Almejávamos algo que pudesse oferecer algum auxílio, sobretudo no controle de suas crises convulsivas.
Essa jornada ocorreu às cegas, como se costuma dizer, uma batalha contra um sistema de regras confusas e impregnado por muito preconceito. Felizmente, porém, resultou em uma conquista que parecia inatingível.
O desenrolar dessa história tomou um rumo notável quando a ANVISA reclassificou os canabinoides, abrindo portas para a utilização medicinal do CBD.
Concomitantemente a essa trajetória, um grupo de médicos entra em cena, cuja dedicação, compaixão e ética elevaram a medicina para além dos limites do consultório. Esses profissionais não são apenas praticantes de saúde; são indivíduos que reconheceram o sofrimento das famílias e enfrentaram o evidente preconceito, inclusive dentro do CFM – Conselho Federal de Medicina.
Esses médicos arriscaram suas carreiras para cumprir o juramento que fizeram: lutar pela saúde e pela qualidade de vida de seus pacientes.
No começo, a prescrição do CBD era um caminho pouco percorrido, frequentemente marcado por hesitações. Entretanto, a ousadia de médicos como Pedro Pierro (SP), Leandro Ramires (MG), Eduardo Faveret (RJ), Carolina Nocetti (SP), entre outros, brilhou intensamente.
Eles abraçaram a utilização medicinal da cannabis, mas também se tornaram verdadeiros guardiões da esperança para Anny e inúmeras outras crianças.
Cada consulta, cada prescrição, representou um ato de fé na capacidade da medicina de transcender barreiras e proporcionar alívio onde parecia impossível. Esses médicos vão além da definição de meros profissionais; eles personificam um comprometimento inabalável, uma dedicação incansável e uma compreensão compassiva.
Assim o percurso percorrido por esses doutores os transformou em referência para tantos outros médicos que, hoje, destilam esperança em milhares de famílias.
Ao olharmos para trás, ao refletirmos sobre como tudo ocorreu, restou-nos dizer: “Obrigado” – sim, pode parecer uma expressão modesta, mas o sentimento certamente transcende essa simples palavra.
Por outro lado, temos a convicção de que nosso singelo “obrigado” será um eco de amor e apreço que ressoará nos corações de tantas famílias cujas vidas foram tocadas por esses médicos excepcionais.
Que cada vez mais médicos sigam os passos desses Doutores, que seus exemplos se multipliquem e que centenas, quiçá milhares de famílias, encontrem também médicos que enfrentem a batalha com orgulho, vistam seus jalecos com honra e abracem sem preconceito as novas abordagens terapêuticas.
Doutores Pedro, Ramirez, Faveret, Carolina vocês estão representando aqui, nesse artigo, os médicos que também já se engajaram nessa luta.
A todos vocês, nosso sincero obrigado.
Família Fischer
As opiniões veiculadas nesse artigo são pessoais e de responsabilidade de seus autores.
Norberto Fischer é pai de Anny Fischer, primeira brasileira autorizada legalmente a importar o extrato da maconha para uso medicinal. Tornou-se articulador político no Brasil, com repercussão internacional, destacando-se no ativismo pelo direito ao acesso, distribuição pelo SUS, custeio dos tratamentos pelos planos de saúde, plantio e produção nacional por empresas, ONGs e autocultivo.