O consumo de maconha é histórico e mais antigo do que nossas leis podem alcançar

"Isso acaba gerando a situação que nos encontramos hoje, onde pacientes buscam o tratamento, mas os médicos não sentem segurança de indicar, pois tem medo e desconhecimento", afirma

Publicada em 17/03/2023

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Por Cindi Mello

Existe um “medo social” das possibilidades que plantas do poder (como dmt, psilocibina e a própria maconha) podem atingir dentro da mente humana, principalmente por nosso pensamento ser pautado e direcionado para o modo empírico, tememos tudo que nos transcende e com a maconha não é diferente. 

Porém o passar do tempo nos mostra que nossas escolhas e direcionamentos governamentais e sociais não são tão certos e bons como fomos levados a pensar. Vemos a grande crise depressiva de toda uma geração, a infelicidade e insatisfação com esse modo de vida pré-estabelecido, e então se faz presente a necessidade de nos permitirmos mais, rompendo assim com normas estabelecidas sem fundamento orgânico. 

Hoje os médicos passam por um dilema, onde a ciência comprova a eficácia terapêutica dessas plantas e que há uma grande procura por parte da sociedade, porém há pouca evolução no campo legal, fato que gera insegurança para os profissionais da saúde e para os pacientes.

Timidamente a sociedade cobra um posicionamento do profissional médico, que tem o dever social de informar adequadamente e, para tanto, precisamos levar em conta toda a individualidade do ser, toda a complexidade de cada um para aprendermos juntos e acabarmos com o vazio de pesquisa que tivemos nesses últimos 80 anos de história. 

Pontos importantes a serem considerados, além da individualização do paciente, é a educação sobre o sistema endocanabinoide para nós médicos, que em nosso país, é pouquíssimo explorado nas faculdades de medicina e grande parte dos profissionais não fazem ideia da extensão e potencialidade da exploração medicinal do mesmo, ficando somente com a opinião historicamente preconceituosa da planta. 

Isso acaba gerando a situação que nos encontramos hoje, onde pacientes buscam o tratamento, mas os médicos não sentem segurança de indicar, pois tem medo e desconhecimento. 

O corpo médico brasileiro precisa tratar o assunto com maior seriedade e se informar, entidades representativas como conselhos de classe precisam atualizar seus sócios e faculdades de graduação precisam atualizar seu currículo, assim como escolas de ensino médio devem abordar o assunto em suas aulas de biologia. Não podemos fingir que um sistema tão importante e integrativo como esse para o corpo humano simplesmente não existe.

Não há receita mágica para problemas, a maconha não é uma “bala de prata”, porém ela é mais uma, entre tantas possibilidades que a vida nos apresenta, de sermos melhores e mais saudáveis. Negar o óbvio é que se torna problema. 

Nunca tivemos tantas informações e tanta desinformação ao mesmo tempo, fica difícil filtrar o que é correto e o que é falso. Estudos científicos sérios provam, definitivamente, a efetividade da maconha como erva medicinal, quem nega isso hoje é claramente desinformado, não é questão de opinião, de ser contra ou favor, é algo indiscutível. O consumo dessa planta milenar nos transpassa. 

Independentemente do que pensamos, a cannabis é utilizada por seres humanos muito antes de nós existirmos, ou de nossos tataravós existirem. Ela é muito maior do que a arrogância humana e a cegueira que se alastrou, por esse motivo, mesmo mentindo por anos sobre os perigos da planta, mesmo fazendo uma guerra ao tráfico mundial, mesmo matando e prendendo pessoas, ela ainda é a planta ilegal mais consumida no mundo, porque é uma terapia que trata o corpo e a mente.