Novo estudo rebate teoria da “síndrome amotivacional” da cannabis

Caracterizada pela diminuição da energia e da vontade, assim como prejuízo social e ocupacional significativos, a síndrome amotivacional relacionada a cannabis não tem apoio científico, garante estudo.

Publicada em 10/02/2022

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Por João Negromonte

Uma questão que sempre intrigou pacientes e usuários de cannabis é se o consumo da planta faz com que as pessoas fiquem mais preguiçosas a longo prazo. A “síndrome amotivacional”, promovida pelo uso de cannabis, é uma teoria aceita por milhões de pessoas há anos, sugerindo que o uso regular da planta pode torná-las apáticas e com comportamentos desanimadores em relação aos objetivos diários.

No entanto, um estudo recente publicado na revista American Psychological Association, que possui uma revisão por pares (quando mais de um especialista da área revisa o estudo), diz o contrário. A pesquisa, que contesta a teoria da síndrome amotivacional induzida pela cannabis, não encontrou nenhuma evidência clara o suficiente para apoiá-la. 

Já estudos anteriores, mostraram que a cannabis tem um efeito indireto nos níveis de dopamina (neurotransmissor que induz a sensação de prazer e o controle motivacional), tornando as pessoas mais preguiçosas.   

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Segundo Josiah Hesse, corredor norte-americano em entrevista ao portal Hightimes, tal teoria teria sido endossada por ex-presidentes (Richard Nixon e Ronald Regan) que intensificaram essa percepção referente ao consumo da cannabis. 

O novo estudo, no entanto, observou 47 estudantes universitários, sendo 25 consumidores regulares de cannabis e 22 que compunham o grupo dos não usuários. Não foi possível avaliar um parâmetro específico sobre a quantidade da substância utilizada, ou seja, o que os pesquisadores avaliaram foi o quanto o transtorno afeta a rotina de trabalho, estudos e outras funções diárias, não a dosagem específica. 

“Não parece haver um parâmetro específico de quanto é maconha demais, mas basicamente se torna um transtorno quando começa afetar as funções rotineiras,” explica o estudo. 

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Os participantes da pesquisa foram designados a desenvolver tarefas de esforço com base em recompensas, isto é, para cada ação completada, os estudantes recebiam uma compensação.

Os resultados, segundo os pesquisadores, foram melhores que o esperado. Em vez de encontrar problemas significativos, o uso da cannabis na verdade melhorou sintomas de TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade). Além disso, nenhuma outra condição relacionada à "síndrome amotivacional” foi evidenciada. 

Assim, os pesquisadores concluíram que pesquisas futuras com amostras maiores são necessárias, entretanto, evidências preliminares sugerem que “os estudantes universitários que usam cannabis são mais propensos a despender esforços para obter recompensas, mesmo depois de controlar a magnitude da recompensa e a probabilidade de recebimento da mesma”. Ou seja, ao observar o grupo que faz uso regular da cannabis, os cientistas notaram que esses estudantes além de corresponderem melhor aos estímulos que foram submetidos, não apresentaram nenhum atraso cognitivo.  

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Ainda estamos longe de uma definição eficaz a respeito desse tema devido às dificuldades de se medir os níveis motivacionais de cada pessoa, contudo, o novo estudo mostra que o uso da cannabis NÃO está diretamente relacionado com a procrastinação e a preguiça, refutando teorias anteriores.