Novembro azul: como a cannabis auxilia no tratamento do câncer de próstata

Segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), um homem morre a cada 38 minutos no Brasil devido a doença

Publicada em 13/11/2022

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Por João R. Negromonte

Tipo mais comum entre os homens, o câncer de próstata é a causa de morte de 28,6% da população masculina que desenvolve neoplasias malignas. Somente no Brasil, segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca), um homem morre devido ao câncer de próstata a cada 38 minutos. 

Mas o que é a próstata?

Localizada abaixo da bexiga, a próstata é uma glândula do sistema reprodutor masculino responsável, juntamente com as vesículas seminais, pela produção do esperma.

Na fase inicial, o câncer de próstata não apresenta sintomas e quando alguns sinais começam a aparecer, cerca de 95% dos tumores já estão em fase avançada, dificultando a cura. Neste estágio, os pacientes costumam apresentar dor óssea, vontade de urinar com frequência, presença de sangue na urina e/ou sêmem e dores ao urinar.

Prevenção 

Segundo o Ministério da Saúde, a única forma de garantir a cura do câncer de próstata é o diagnóstico precoce. Mesmo na ausência de sintomas, homens a partir dos 45 anos com fatores de risco, ou 50 anos sem estes fatores, devem ir ao urologista para conversar sobre o exame de toque retal, que permite ao médico avaliar alterações da glândula, como endurecimento e presença de nódulos suspeitos, e sobre o exame de sangue PSA (antígeno prostático específico).

Cerca de 20% dos pacientes com câncer de próstata são diagnosticados somente pela alteração no toque retal. Outros exames poderão ser solicitados se houver suspeita de câncer de próstata, como as biópsias, que retiram fragmentos da próstata para análise, guiadas pelo ultrassom transretal.

Tratamento com cannabis 

Estudos realizados tanto com THC quanto CBD mostram que a principal função do uso do cannabis no tratamento do paciente diagnosticado com câncer é para ajudar no manejo da dor, no controle de efeitos colaterais da quimioterapia, como náusea e vômitos e a fim de auxiliar no controle da ansiedade e da depressão que podem ser provocadas pelo tratamento. 

Um estudo publicado no dia 13 de agosto de 2021, na revista Câncer, feita por pesquisadores da Virginia Commonwealth University Massey Cancer Center, que analisou dados coletados de mais de 20 mil pessoas entre 2013 e 2018, mostra que pacientes que fizeram uso de canabinoides tiveram redução significativa nos sintomas causados pelo tratamento da doença, melhoraram também o apetite e a qualidade do sono.

Revisão dos estudos existentes

Uma revisão bibliográfica feita por meio do acesso às bases de dados da Scientific Electronic Library Online (SciELO), do Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE/PubMed), do Google Acadêmico, além de dados obtidos pelo site do Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (Inca), da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), por meio das palavras chaves: câncer; cannabis; dor do câncer e cannabis medicinal, mostra estudos que destacam, em sua maioria, redução significativa dos efeitos colaterais causados pelos tratamentos convencionais de câncer após o uso medicinal de compostos da planta.

“Os ensaios clínicos suportam o uso dos agentes canabinoides como analgésicos para a dor oncológica, criando a perspectiva de que os fármacos à base de fitocanabinoides possam vir a ser utilizados como adjuvantes no tratamento de alguns tipos de cânceres. Devido ao perfil farmacológico único, com efeito multimodal e o baixo risco de efeitos adversos graves, os agentes canabinoides têm potencial de oferecer aos profissionais da saúde uma opção útil para o tratamento da dor e dos efeitos adversos relacionados a doença”, relata em conclusão um dos estudos denominado “Derivados canabinoides e o tratamento farmacológico da dor”.

Estudos indicam redução em tumores em pacientes que fazem uso medicinal de cannabis

Semelhantemente, outro estudo, publicado recentemente na revista Cannabis and Cannabinoid Research, mostrou que pesquisadores da Augusta University, nos Estados Unidos, usaram células de glioblastoma modificadas de humanos (modelo de tumor mais próximo da realidade, o chamado glioblastoma ortotópico), nos testes com camundongos que, durante oito dias, ficaram sem nenhum tipo de medicação até que o câncer estabelecesse a forma mais agressiva no cérebro dos mesmos. No nono dia, os pesquisadores deram início ao tratamento, com doses diárias de CBD inalado em uma parte e a outra, recebeu somente placebo. Como resultado, após sete dias da introdução do tratamento, os cientistas observaram uma redução significativa do tamanho da doença nos ratos que ingeriram o CBD, o que não foi visto no grupo placebo.

“Vimos uma redução expressiva no tamanho do tumor e também no microambiente tumoral estabelecido pelas células cancerosas, o que inclui vasos sanguíneos e fatores de crescimento diversos que fazem com que ele se espalhe”, explica em comunicado Babak Baban, imunologista e um dos autores do estudo, ao relatar o resultado da experiência com o CBD.

Além disso, outros estudos, como o realizado pela médica brasileira especializada em canabinoides Dra. Paula Dall Stella e o químico, pesquisador e professor emérito da Universidade Hebraica de Jerusalém, Raphael Mechoulam, mostrou, por meio de testes in vitro e em animais, que o canabidiol tem a capacidade de matar células cancerosas em tumores cerebrais, em um processo chamado de “apoptose” (morte celular). Também foi descoberto, nesta mesma pesquisa, que o componente presente na cannabis, apresentou bons resultados ao “bloquear” a metástase de alguns tipos de câncer, inclusive os cerebrais. 

Ou seja, ao evitar que o câncer se espalhasse pelo organismo, os cientistas descobriram que conseguiam atacá-lo com maior eficiência e, assim, impedir a progressão da doença.