Os mecanismos da sinalização retrógrada de THC e CBD para alívio da dor crônica em animais

“Existem controvérsias quanto à aplicação do THC e CBD na dor crônica, principalmente devido à quantidade limitada de estudos publicados, com ênfase no canabidiol (CBD)”, afirma Julia Rezende

Publicada em 03/11/2023

capa
Compartilhe:

Por Julia Rezende Souza, médica veterinária 

A sinalização retrógrada é um processo biológico em que a comunicação entre as células nervosas ocorre de forma reversa, ou seja, do neurônio pós-sináptico para o neurônio pré-sináptico. No contexto da dor crônica em animais, o THC (tetrahidrocanabinol) e o CBD (canabidiol), dois dos principais entre os diversos compostos encontrados na cannabis, podem influenciar essa sinalização de maneiras diferentes, proporcionando potencial alívio da dor. 

Existem controvérsias quanto à aplicação do THC e CBD na dor crônica, principalmente devido à quantidade limitada de estudos publicados, com ênfase no canabidiol (CBD). No entanto, ao considerarmos o tratamento da dor crônica, é fundamental compreender profundamente a fisiologia da dor, integrando o conhecimento da fisiologia do sistema endocanabinoide e as moléculas presentes na maconha.

"Ao considerarmos o tratamento da dor crônica, é fundamental compreender profundamente a fisiologia da dor, integrando o conhecimento da fisiologia do sistema endocanabinoide e as moléculas presentes na maconha."

Julia Rezende, médica veterinária

THC na sinalização retrógrada na dor crônica

O THC é um dos principais compostos da cannabis e se liga principalmente aos receptores CB1 no sistema nervoso central. Quando um animal experimenta dor crônica, há uma ativação anormal dos neurônios que transmitem sinais de dor. O THC interfere nesse processo.

Redução da liberação de neurotransmissores: O THC pode reduzir a liberação de neurotransmissores excitatórios, como o glutamato, diminuindo a capacidade dos neurônios de transmitirem sinais de dor.

Modulação da sinalização retrógrada: Ao interferir na liberação de neurotransmissores, o THC modula a sinalização retrógrada, diminuindo a sensibilidade dos neurônios à dor. Isso pode resultar em um efeito analgésico, ajudando a aliviar a dor crônica.

CBD na sinalização retrógrada na dor crônica:

Ao contrário do THC, o CBD não se liga diretamente aos receptores CB1 ou CB2, ele modula indiretamente esses receptores e outros sistemas de sinalização.

Modulação de receptores e canais de íons: O CBD interage com uma variedade de receptores, incluindo receptores de serotonina e vaniloides, bem como canais de íons como TRPV1. Isso pode influenciar a percepção da dor e reduzir a sensibilidade aos estímulos dolorosos.

Redução da inflamação: O CBD possui propriedades anti-inflamatórias, reduzindo a inflamação nos tecidos que frequentemente acompanha a dor crônica. Ao reduzir a inflamação, o CBD pode contribuir para a redução da dor.

Ambos os canabinoides, THC e CBD, têm potencial para aliviar a dor crônica em animais. 

No entanto, é fundamental notar que a resposta aos canabinoides pode variar entre os animais, devido a uma série de fatores, desde a qualidade do medicamento até o metabolismo, biodisponibilidade e a dosagem adequada. A forma de administração deve ser determinada por um veterinário, e a supervisão veterinária é essencial para garantir a segurança e a eficácia do tratamento, bem como para evitar efeitos colaterais indesejados.