Mãe encontrou na cannabis solução para qualidade de vida da filha de 12 anos

A paciente sofria com fortes crises de ansiedade que dificultavam sua sociabilização. O nome da mãe e da filha não serão divulgados

Publicada em 21/02/2024

capa
Compartilhe:

V.A é representante de vendas e mora em Natal com sua filha de 12 anos que lida com quadros de ansiedade pós-pandemia, afetando o seu convívio social, e após meses no tratamento de remédios controlados, foi na cannabis a notável melhora após buscas próprias.

Tudo começou na troca da escola durante a volta das atividades presenciais em 2022, e foi justamente nesse período que sua filha começou a apresentar dificuldades. ''Começou a apresentar quadros de ansiedade e acordava às quatro da manhã vomitando e após um diagnóstico negativo de gastrite, foi relacionado a ansiedade'', disse.

Segundo V.A, a orientação foi prosseguir com um psicólogo no tratamento. Por conta das crises cada vez mais frequentes, foi orientada a afastar a filha por um tempo da escola que causava os efeitos na criança e mesmo assim não melhorou até com auxílio pedagógico.

Ainda em 2022, ele voltou a frequentar, mas com dificuldades, e quando começou as férias, a mãe notou sintomas fora da curva. No ano seguinte, teve a primeira crise forte e não conseguiu voltar para a escola e foi ficando mais reclusa.

''Eu percebi ser bem grave, porque ela não parava mais, ela tinha só intervalos, pois ela ficava mais calma, mas ela chorava várias e várias vezes por dia e tinha esses ataques de ansiedade que não conseguia mais voltar para a escola.''

A busca pela cannabis

Nesse momento, V.A procurou por outras alternativas e lembrou que sua irmã, residente nos Estados Unidos, utiliza óleo da planta e poderia ser útil para filha. Quando encontrou uma médica prescritora, agendou a consulta.

''Ela foi muito escutada e eu só fui orientada, nas outras vezes, os profissionais ouviam só a mim. Assim que iniciou o novo tratamento, o remédio de tarja preta foi substituído pelo CBD para tomar algumas gotas pela manhã e à noite.''

V.A afirma que já faz cerca de quatro meses com a cannabis, mas os sinais positivos apareceram bem antes, ao contrário do longo processo com os outros fármacos.

''Junto com o antidepressivo, ela começou a ficar mais calma e foi diminuindo as crises de choro, foi diminuindo essa ansiedade. Vale salientar que ela ficou todo o ano de 2023 sem conseguir nem voltar para a escola. Desde março do ano passado, ela nunca mais pisou na escola o ano inteiro. Aos poucos foi retomando as atividades e começou a frequentar.''

A mãe descreve a mudança no comportamento da filha como algo surpreendente em pouco tempo depois de várias tentativas que prejudicaram a qualidade de vida da criança.

''Como mãe, para mim foi quase uma mágica, o óleo ajuda ela a se reconectar com as pessoas e tudo mais. Ela conseguiu entrar na escola e ficar na escola com apenas dois meses de uso. Na minha visão, o CBD foi fundamental, pois até ano passado ela não conseguia fazer isso… meu objetivo é ela continuar apenas com a cannabis.''

A filha de 12 anos diz que sente a necessidade do remédio e reconhece os benefícios, sempre deixando a mãe alerta para não esquecer o produto. ''Ele vai me acalmando. Eu sinto me acalmar, eu sinto ficar mais tranquila.''

O CBD como última opção

Antes do tratamento atual, passou por psiquiatras e iniciou o uso de  remédios controlados que só foram subindo os miligramas e não surtiam efeito em parar as crises. V.A conta sobre esse período ser o surgimento da fobia social.

''Ela (a filha) começou a ter fobia social e não conseguia atender mais interfones. Tinha medo de sair do apartamento, de entrar em qualquer lugar com outras pessoas. Se a gente estava em algum lugar e chegasse outra pessoa e perguntasse alguma coisa para ela, entrava em pânico, não conseguia responder. Precisava falar no meu ouvido para falar com a pessoa, sendo que ela tem 12 anos, então não é um comportamento normal.''

O tempo passava e os efeitos positivos não chegavam e a busca por um novo profissional foi feita novamente que indicou outro remédio tarja preta mais potente, mas isso preocupou V.A pelos efeitos futuros na filha.

''Foi indicado um remédio muito forte para a minha filha, muito mais forte. Do tipo que se não tomasse na hora certa, se atrasasse uma hora, já podia começar a tremer, já podia começar a ter sintomas graves da falta do remédio. Ela ainda é uma criança e já fazia meses nesse processo difícil, foi quando ela estava na casa da minha mãe e foi com minha irmã para praia com as filhas dela e meu pai acabou descobrindo uma carta de suicídio, foi bem desesperador.''

O difícil acesso aos produtos no Brasil

Quando iniciou o tratamento, V.A se questionou porque o remédio não tinha um acesso facilitado no país e reconhece que grande parte da população não consegue usufruir dos benefícios da cannabis medicinal.

''Eu não entendo porque a gente não tem acesso a esse remédio hoje no Brasil, para mim pode não ser tão caro, mas você fazer o processo de importação desse remédio, acaba custando muito e dificultando para outras pessoas.''

Atualmente no Brasil é preciso a formalização de documentos com autorização da ANVISA para ter o direito de importação de produtos com cannabis. Associações ao redor do país, facilitam o processo para pacientes recentes no tratamento.

Além disso, afirma que o tratamento é bem delicado pela demora nos processos regulamentadores. ''O frasco dura muito, mas eu imagino que crianças com autismo tenham uma dose um pouco maior. E, obviamente, a rotatividade do frasco vai ser frequente. Você está trazendo isso o tempo todo e tem um custo. No tratamento da minha filha, um frasco de CBD leva de 30 a 40 dias para chegar em Natal''.