Tay Feitosa fala sobre uso de cannabis no tratamento da endometriose

Após conviver 20 anos com fortes dores, a planta foi a única alternativa para recuperar a qualidade de vida, diz paciente

Publicada em 28/02/2024

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Taciany Nataly Matos Feitosa | Foto: arquivo pessoal

Desde a primeira menstruação, Taciany Nataly Matos Feitosa, conhecida como Tai, sofria com dores intensas na região abdominal. Sem diagnóstico definido, ela passou 20 anos convivendo com sintomas que, durante o período menstrual, a tornavam incapaz de exercer qualquer outro tipo de atividade.

“Era uma vida difícil e complicada, porque eu tinha muitas cólicas antes, durante e dois dias depois da menstruação. Eram dores incapacitantes! Eu vivia internada na urgência semanalmente tomando opioides, como tramal e morfina. Ficava ansiosa, não dormia, porque já ficava pensando que, por conta da minha menstruação, eu iria faltar às aulas e ao trabalho, e todos achavam que era frescura minha”, recorda Tai.

Aos 32 anos, finalmente o diagnóstico para explicar as dores foi constatado: endometriose. Uma doença que modifica o funcionamento normal da região reprodutiva das mulheres. As células do tecido que revestem o endométrio presente no útero não são expulsas durante a menstruação e se movimentam no sentido oposto, retornando aos ovários ou à cavidade abdominal e voltam a multiplicar-se causando fortes sangramentos e, consequentemente, dores intensas.

Com o diagnóstico em mãos, Tai, que é formada em enfermagem, começou a procurar as possibilidades de tratamento e nessa busca encontrou relatos sobre os efeitos da cannabis para alívio de dores crônicas.

“Desde os 12 anos, quando menstruei pela primeira vez, eu faço uso de anticoncepcionais para controle do sangramento e de medicamentos opióides muito fortes para dores e mesmo assim, nada resolvia. Quando você está numa situação dessas, você aceita testar as alternativas que aparecem. Eu comecei a pesquisar a cannabis, cheguei a fazer a importação do óleo e desde o primeiro contato as dores não apareceram na semana da menstruação, parecia um milagre e desde então, eu virei ativista, pois se me ajudou, pode ajudar muitas pessoas”, conta Tai.

Os efeitos da cannabis para a saúde da mulher

Os resultados com a cannabis foram tão eficientes e surpreendentes que Tai começou a pesquisar a fundo os efeitos medicinais da planta. Nessa jornada, ela encontrou a associação Salvar e passou a fazer acompanhamento médico com um ginecologista especializado em cannabinoides que passou a fazer a prescrição correta do óleo.

A região reprodutiva da mulher tem muitos receptores que se conectam aos fitocannabinoides da cannabis, entre eles o CBD e o THC, e por isso responde com eficácia aos efeitos terapêuticos da planta.

Dentre os benefícios medicinais estão as ações anti-inflamatória e analgésica, por isso a planta tem sido muito pesquisada como via de tratamento para endometriose, já que ela regula o organismo melhorando as dores crônicas, principal sintoma da doença.

“Além de amenizar as dores, o que me permite ter uma vida normal, a cannabis me ajudou a controlar também a ansiedade, algo que desenvolvi, pois eu já sofria antecipadamente pensando no que eu iria enfrentar no período menstrual. Eu resolvi dois problemas com uma planta, um tratamento natural e sem efeito colateral. Como enfermeira, não posso prescrever, mas posso falar sobre sua potência e indico o tratamento. Na minha família tem mais pessoas que passaram a se tratar com cannabis, afinal, todos viram o antes e o depois da planta entrar na minha vida”, reforça.