A comunicação oculta dos fungos

Teriam os fungos sua própria linguagem? Estudo sugere que sim

Publicada em 07/03/2024

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A linguagem, há muito considerada uma característica exclusiva dos seres humanos, está sendo reexaminada e trazendo luz à novas descobertas científicas. Pesquisas recentes indicam que a comunicação complexa pode não ser uma exclusividade nossa, mas sim uma habilidade compartilhada por diversas formas de vida, incluindo os fungos.

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Um estudo inovador, liderado pelo professor Andrew Adamatzky da Universidade do Oeste da Inglaterra e publicado na Royal Society em 2022, provocou uma intrigante questão: os fungos são capazes de se comunicar entre si? Eles têm sua própria linguagem?

Embora os resultados iniciais deste estudo não sejam conclusivos, sugerem fortemente que sim. O laboratório de Adamatzky empregou uma análise matemática dos sinais elétricos transmitidos através das hifas dos fungos, os quais se assemelham às células nervosas humanas ou às raízes de uma planta. Surpreendentemente, os padrões desses sinais elétricos demonstraram semelhanças estruturais com idiomas humanos.

Em suas análises, foram identificados impulsos elétricos organizados em padrões que se assemelham a "trens" de palavras humanas. Além disso, foi observado um potencial vocabulário de até 50 palavras, sugerindo a existência de uma forma primitiva de linguagem fúngica. A ordem em que essas "palavras" é utilizada também parece seguir padrões, indicando a presença de uma sintaxe específica.

Outra descoberta intrigante foi a resposta dos fungos a mudanças ambientais. Quando estimulados mecanicamente, quimicamente ou opticamente, os fungos alteram os padrões de seus sinais elétricos, o que poderia indicar uma forma de comunicação sobre recursos ou perigos dentro da colônia fúngica.

Embora o estudo tenha identificado um léxico básico de 50 palavras, a análise realizada pode subestimar a verdadeira complexidade da linguagem fúngica. Como destacado por Adamatzky, uma análise mais refinada poderia revelar milhares de palavras únicas, tornando a linguagem fúngica muito mais sofisticada do que se pensava inicialmente.

É importante ressaltar que diferentes espécies de fungos demonstraram variações em suas formas de comunicação, sugerindo a existência de "dialetos" fúngicos. No entanto, é crucial reconhecer que este campo de estudo está em seus estágios iniciais e requer mais pesquisa para confirmar e compreender plenamente a comunicação entre eles.

Em última análise, se os fungos são de fato capazes de comunicar e exibem formas de inteligência fúngica, isso desafia nossa compreensão sobre a natureza da linguagem e da inteligência em diferentes formas de vida. Ao explorar mais a fundo esse fascinante mundo subterrâneo, podemos ampliar nossos horizontes e reconhecer a diversidade e complexidade da vida em nosso planeta.