Maior empresa de cannabis do mundo se instala no Brasil e prevê R$ 60 milhões em investimentos

Publicada em 12/07/2019

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Por Marcus Bruno

A Canopy Growth, empresa canadense que se tornou a maior produtora mundial de cannabis, apresentou ao mercado brasileiro nesta quarta-feira (12), em São Paulo, sua divisão médica no país, a Spectrum Therapeutics. A multinacional acaba de se instalar na capital paulista e estima que cerca de 1,7 milhão de pacientes possam se beneficiar da cannabis medicinal no Brasil. Ela pretende investir até R$ 60 milhões em programas de educação e atividades de capacitação para médicos brasileiros, e esse investimento pode chegar a R$ 150 milhões após a regulação.

O anúncio foi feito pelo Dr Mark Ware, diretor global da Canopy Growth (ao centro da foto). Numa breve palestra, ele fez um resgate histórico do uso medicinal da cannabis, explicou aos jornalistas o sistema endocanabinóide e as indicações para o uso. "Há cinco anos poucas pessoas levavam com seriedade esse mercado. E ainda hoje questionam se há um valor medicinal nisso. Mas é um remédio como qualquer outro", salientou o executivo.

A empresa é conhecida por seu sistema de cores para categorizar os medicamentos, de acordo com os níveis de CBD e THC - daí o nome Spectrum Therapeutics. Esses remédios, segundo Mark Ware, vão frear o uso excessivo de opióides no país e as mortes causadas por essas substâncias.

"Por isso precisamos tratar a cannabis de forma mais séria. Não há, na literatura médica, nenhum caso de overdose por cannabis. E nós não estamos falando de uso recreativo."

O Brasil é o quarto país da América Latina onde a Canopy investe. A multinacional iniciou suas operações em julho de 2018 na Colômbia, seguido de Chile e Peru. E aqui, o comunicado acontece um dia após a reunião da Anvisa que aprovou uma consulta pública para regular o plantio de maconha com fins medicinais e de pesquisa. Questionado sobre produção, plantio e importação de cannabis, o diretor da Spectrum Therapeutics no Brasil, Jaime Ozi (à esquerda da foto), disse que tudo vai depender justamente desta consulta.

"A consulta pública é um meio democrático, toda sociedade vai poder se manifestar, e com isso, nós acreditamos que dentro dos prazos previstos, 60 dias para consulta, nós teremos condições de direcionar nossa estratégia, seja ela de importação, e até a possibilidade, sim, de plantar localmente."

Investimentos no Brasil podem chegar a R$ 150 milhões

A proposta apresentada pela Anvisa na terça-feira (11) prevê uma série de restrições ao cultivo da planta. Por exemplo: não poderá ser feito por pessoas físicas nem entregue a farmácias de manipulação; será somente plantio indoor em local vigiado 24h e sem identificação externa. Além disso, a entrada de pessoas deve ser feita através de reconhecimento por biometria.

Por isso, caso a Spectrum não consiga plantar em território nacional, o plano B seria produzir na Colômbia e importar. No país andino, a Canopy iniciou as operações investindo R$ 90 milhões e deve encerrar o ano com R$ 150 milhões em investimentos. Esse mesmo valor poderá ser aplicado no Brasil após a regulação do mercado.

"Na Colômbia, já estamos com uma área para plantio e um início de produção que deve acontecer no próximo ano. Essa mesma situação poderia acontecer no Brasil. A geração dessa nova economia que a cannabis permite é algo que o Brasil não deveria ficar de lado, principalmente porque existem fundamentos de processos agrícolas no qual o Brasil é referência mundial".

Canopy promete parceria com associações de pacientes

Na reunião em que a Anvisa aprovou a consulta pública e apresentou o projeto de regulação do plantio da cannabis, as associações de pacientes criticaram duramente a proposta. Alegaram que foram elas que iniciaram todo esse processo, mas que agora ficaram de fora, enquanto a agência está privilegiando apenas as grandes empresas.

O médico Wellington Briques, diretor de assuntos médicos para América Latina e Caribe da Canopy, garante que a empresa canadense será parceira dessas entidades, e não uma concorrente.

"As associações de pacientes são muito importantes para a gente entender a necessidade desses pacientes, a necessidade do médico, a jornada desse paciente, quais são as dores até ele chegar no médico, até ter o acesso ao medicamento. Essas associações podem nos ajudar inclusive a desenhar o estudo clínico".

O executivo também elogiou a iniciativa do governo federal, na figura da Anvisa, de dar o primeiro passo para regular a cannabis medicinal no Brasil, mesmo num cenário político bastante conservador.

"Que bacana que saia essa consulta pública para cannabis medicinal dentro de um ambiente político que teoricamente não nos favoreceria. Mas ele é maduro o suficiente para entender que o medicamento é uma coisa importante, que existe demanda, que os pacientes têm necessidade. Porque existe evidência. O governo está de parabéns da forma como está fazendo", concluiu.