Lauro Pontes: Só se defende o CBD sintético pelo viés da ignorância ou outros interesses

Publicada em 16/08/2019

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Entramos na última semana para as consultas públicas da Anvisa sobre a cannabis medicinal no Brasil. Por isso, o portal Sechat pediu para personalidades envolvidas no setor escreverem artigos sobre suas contribuições ao debate. Os textos serão publicados até a próxima segunda-feira, fim do prazo das consultas.

A regulação é fundamental para que a pesquisa possa deslanchar no Brasil, bem como a produção nacional dos insumos para a produção do óleo. Defendemos o cultivo por instituições de pesquisa, como a Fiocruz, que detém toda a capacidade técnico-cientifica para produzir um extrato de alta qualidade a preços acessíveis. As associações de pacientes também deverão poder produzir seus extratos em parceira com instituições de pesquisa como a UFRJ e a própria Fiocruz.

Sabemos que o sonho da maconha ser tratada como um fitoterápico de uso cultural como o boldo é (que se apresenta como medicamento vendido em farmácias, como chá comercial em sachê, ou plantado e usado em casa como farmácia viva), não acontecerá ainda. Portanto, temos que deixar espaço para essas articulações entre associações e entidades de pesquisa possam ocorrer. Esse é um ponto muito importante.

É necessário garantir o direito ao cultivo do insumo fitoterápico integral. Há dezenas de estudos que mostram que o uso da planta integral é superior, com ampla vantagem, do que o uso do CBD isolado.

A sugestão de um medicamento sintético emulando o CBD que existe naturalmente na planta é ridícula, não traz nenhuma vinculação com a ciência ou com o pensamento minimamente lógico. Essa proposta só pode ser feita pelo viés da ignorância dos fatos ou por outros interesses, visto que a maconha já é permitida sobre a forma do Mevatyl, que é feito da planta integral e está disponível no mercado atualmente.

Assim, vejo a consulta pública como algo que deveria ser simples e lógico: basta que usemos o Google Scholar ou o Pubmed e estudar 5 minutos para entender a urgência da necessidade de se regular imediatamente a maconha terapêutica no pais. Fazendo uso apenas do saber científico, para decisões como essa.

Desejos pessoais, factoides informacionais, pseudo-científicos e distorções da realidade pragmática não podem novamente serem o fiel da balança numa decisão com tanto acesso ao saber que temos hoje. Que a ciência seja soberana, que não se duvide da ciência, que se tenha boa vontade para estudar antes de repetir factóides causem vergonha alheia em quem houve. Está na hora da maconha sair das garras do proibicionismo (que não é científico e sim político) e vir para o século XXI, para que o potencial terapêutico dessa incrível planta possa ser aprofundado.