Jovens relatam que usam cannabis para lidar com adversidades

Pesquisa aponta que os grupos de minorias sexuais vivem com estresse sobrecarregado, além do estresse normal da vida

Publicada em 24/01/2023

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A cannabis vem sendo usada com mais frequência por jovens que se definem como bissexuais para lidar melhor com os problemas de saúde mental. Os pesquisadores chamam isso de "aprimoramento" experiencial. 

Nos Estados Unidos, foi realizado um estudo que examinou de forma quantitativa os motivos para o uso de cannabis entre minorias sexuais. Os trabalhos foram liderados por psicólogos da Washington State University. Quase 4.700 estudantes universitários de todo o país foram analisados: 23% foram classificados como bissexuais ao afirmarem que se sentiam atraídos exclusivamente por apenas um gênero. 

De acordo com Kyle Schofield, primeiro autor do estudo publicado na revista científica Cannabis and Cannabinoid Research, o grupo classificado como bissexual foi mais propenso a relatar o uso de cannabis para lidar com adversidades. Ainda segundo ele, o motivo de enfrentamento foi menos surpreendente porque também vimos que o grupo classificado como bissexual relatou níveis mais altos de todos os problemas de saúde mental que analisamos no estudo.

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O estudo mostrou que o grupo bissexual relatou níveis mais altos de transtorno por uso de cannabis, ansiedade social, ansiedade generalizada, depressão e tendências suicidas do que os grupos classificados como exclusivamente “heteros” ou “gays” – achados que estão de acordo com pesquisas anteriores.

Ainda de acordo com as análises de Schofield, os grupos de minorias sexuais vivem com estresse sobrecarregado, além do estresse normal da vida.

“Para pessoas bissexuais, pode haver ainda mais tipos diferentes de estresse, uma vez que podem enfrentar discriminação de comunidades gays e heterossexuais, e estresse adicional pode levar a resultados negativos de saúde mental”, completa.

Os autores definem que os resultados do estudo podem ajudar a melhorar as intervenções de saúde mental para indivíduos bissexuais. 

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Para a realização da pesquisa, foram entrevistadas pessoas com idades entre 18 e 30 anos. O estudo foi baseado em uma pergunta sobre a autoclassificação dos participantes por gênero em uma escala. Os que relataram ser heterossexuais e homossexuais como bissexuais foram agrupados junto com aqueles que reivindicaram os dois tipos de atração. 

O resultado foi: 3.483 que estavam no grupo “hétero”, outros 1.081 no grupo “bissexual” e um pequeno grupo de 105 indivíduos que foram classificados como “gays”.

Os pesquisadores explicaram que usaram a “Medida de Motivos da Maconha”, que se baseia em uma métrica desenvolvida para o álcool, para avaliar cinco possíveis razões para o uso: aprimoramento, conformidade, expansão, enfrentamento e sociabilidade.

Segundo Carrie Cuttler, professora assistente de psicologia e autora sênior do estudo, “o aprimoramento é expandir a própria consciência, ser mais aberto à experiência e mais criativo, então talvez tudo isso tenha relação”. 

Com essa amostra, os pesquisadores também identificaram que as pessoas no grupo bissexual não eram apenas mais propensas a relatar o uso de cannabis e usá-la com mais frequência, mas também eram mais propensas a usar todos os três tipos de cannabis listados na pesquisa: flor, comestíveis e concentrados.

Alerta 

Os pesquisadores avaliaram os achados como preocupantes. É que os concentrados normalmente contêm um nível mais alto de THC ou tetrahidrocanabinol, o componente psicoativo da cannabis.

É consenso entre os autores que o estudo foi limitado pelo uso de dados de atração sexual em vez de identidade sexual. Eles também esperam que os resultados estimulem novas investigações. Os autores também divulgaram que tinham poder limitado para detectar diferenças no grupo classificado como gay, dado o tamanho relativamente pequeno do grupo avaliado.

“Espero que esta pesquisa ajude a instigar futuros estudos em larga escala, onde as pessoas possam se identificar como gays, bissexuais ou heterossexuais, bem como aqueles com grandes amostras de outros grupos menos estudados, como indivíduos transgêneros e não-binários”, disse Cutler.