Histórias: fibromialgia e terapia canabinoide

Entenda a relação entre o uso medicinal dos derivados da cannabis com a patologia, que tem sua causa ainda desconhecida pela classe médica

Publicada em 07/11/2022

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Por João R. Negromonte

A fibromialgia é um distúrbio de dor crônica que afeta os tecidos moles do corpo, como músculos, tendões, nervos e tecidos sinoviais (revestimento das articulações). Atingindo cerca de 2% de toda população mundial, a síndrome prejudica de seis a sete vezes mais o sexo feminino do que o masculino, contudo sua causa ainda é um mistério para a ciência.

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Os sintomas da doença podem ocorrer tanto nos músculos quanto no tecido conjuntivo e, os pacientes, frequentemente se queixam de dores e incômodos nos braços, pernas e costas. Normalmente, os pacientes também apresentam distúrbios do sono, exaustão, dores de cabeça, dor abdominal e problemas digestivos decorrentes da fibromialgia.

Como as possíveis causas ainda não são totalmente esclarecidas, supõe-se que a percepção da dor dos pacientes é alterada, de modo que os mesmos percebem os estímulos mais rapidamente e intensamente que o normal, contudo, em muitos casos a causa ou o gatilho da doença ainda não foram encontrados.

Uso medicinal da cannabis para fibromialgia

O uso dos canabinoides (substâncias derivadas da maconha) tem sido objeto de muitos estudos. Como o Sistema Endocanabinoide (SEC) está diretamente envolvido na percepção da dor, entre outras coisas, tal fato poderia explicar os resultados promissores de ensaios clínicos que, embora essa relação ainda não seja clara, os resultados são promissores. 

Em 2020, a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), publicou um estudo em que um ensaio clínico duplo-cego controlado por placebo de oito semanas, envolveu 17 mulheres portadoras da doença. Elas receberam uma dose diária de extrato de cannabis rica em THC (24,44 mg/mL) e baixo teor de CBD (0,51mg/mL).

Durante o período estipulado (oito semanas), os pacientes foram entrevistados regularmente e, em comparação com o grupo placebo (tratado com substância inerte), o grupo que utilizou a cannabis mostrou melhora acentuada nos escores de dor, bem-estar, fadiga e depressão, além de não serem relatados efeitos colaterais graves.

Os pesquisadores dizem que são necessários mais ensaios com diferentes canabinoides para avaliar os benefícios a longo prazo. “Esta é a única maneira de melhorar nossa compreensão dos efeitos da cannabis medicinal na fibromialgia”, destaca o pesquisador Paulo César Trevisol Bittencourt, um dos autores da pesquisa e Professor de Neurologia na Universidade Federal de Santa Catarina.

Caso real

Para entender mais sobre os benefícios da terapia canabinoide para o controle da fibromialgia, a Sechat procurou uma paciente para dar seu depoimento sobre o tema. Aline Franciele Nunes, 33 anos, é natural de Jaraguá do Sul/SC. Documentadora por profissão e paciente da Associação Santa Cannabis, Aline deu seu depoimento de como a planta tem ajudado a controlar as dores decorrentes da patologia. Confira.

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Aline Franciele Nunes (Imagem: arquivo pessoal)

Tudo começou em 2013 com dores muito fortes por todo corpo. Procurei um ortopedista que me passou uma bateria de exames: raio-x, exames de sangue e ressonância, nada significativo foi encontrado para justificar o que estava acontecendo. Eu não conseguia mais dormir e não tinha posição que melhorasse. Meu esposo me ajudava a tirar a roupa para tomar banho, penteava meus cabelos. Toda semana eu ia ao hospital com dores insuportáveis que me faziam vomitar. No hospital, os profissionais me desacreditaram, pediram que eu procurasse um psiquiatra. 

Fui encaminhada ao reumatologista, que fez um exame físico diagnosticando assim a Fibromialgia. Por um ano tomei vários medicamentos que me deixavam totalmente sonolenta, sem conseguir raciocinar ou fazer pequenas tarefas, até que um dia, tive uma crise alérgica muito grave devido à interação medicamentosa.

Pesquisando sobre a doença, encontrei uma matéria sobre a evolução do tratamento com o óleo da cannabis. Relutei por alguns meses, pois tinha preconceito sobre o assunto, mas resolvi procurar um médico prescritor de cannabis. No primeiro mês eu já não sentia mais dor. Lembro como se fosse hoje,  um sábado em que limpei a minha casa e no final estava chorando de tanta felicidade. Eu não sentia mais dores! 

Desde então, seis anos depois, eu uso o óleo da cannabis diariamente. Estou terminando a minha faculdade, tive mais uma filha e estou na minha melhor fase profissional. Meu filho, hoje com 12 anos, ainda fica emocionado em lembrar desses tempos difíceis. Ele recorda de quando eu não saia da cama e só chorava. É algo que ficou marcado para sempre. Ele sabe que o “óleo verdinho” mudou nossas vidas. O cannabinol salvou minha família. Hoje eu falo com muito orgulho e sem medo: a Cannabis salva vidas!

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