Farmgate: um novo modelo de negócios que promete elevar a experiência do consumidor

Em sua nova coluna, Tiago Zamponi explora os caminhos do uso adulto da cannabis no Canadá e mostra como um novo modelo de mercado pode revolucionar a indústria

Publicada em 20/01/2022

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Por Tiago Zamponi

Um grande desafio no setor da cannabis recreativa, hoje, é a superação das barreiras para que o produto chegue ao consumidor final. Primeiro você precisa convencer o estado a comprar seu produto, então o varejista precisa querer comprar seu produto do Estado e, finalmente, o consumidor precisa escolher seu produto. Assim, não há interação direta entre o produtor e o consumidor.

Nesse sentido, os produtores precisam investir em marketing, o que, diga-se de passagem, possui muitas restrições, bem como precisam investir nas sessões educativas (conhecimento do produto) dos Budtenders (nomenclatura dada para uma pessoa que atende clientes em um estabelecimento que vende cannabis). E mais, devido ao alto custo para se vender cannabis, os pequenos produtores acabam impossibilitados de competir com as grandes empresas. 

Os Farmgates criam uma oportunidade para os produtores licenciados no Canadá venderem seus produtos no local onde foram fabricados e se conectarem diretamente com os consumidores, construindo suas marcas de novas maneiras, além de contar uma história autêntica, ganhando a confiança dos clientes e aumentando a lealdade. E mais, os produtores têm a possibilidade de educar os consumidores em relação aos terpenos e canabinóides.

Para um melhor entendimento, faço uma analogia às cervejas artesanais. O que antes era dominado pelas as grandes cervejarias aos poucos foi perdendo espaço para as cervejas artesanais que começaram a introduzir novos tipos de sabor, com maior teor alcoólico, como por exemplo as IPA’s, Pale Ale’s.

Nesse sentido, acredito que o farmagate vai permitir o surgimento de um produto de cannabis mais elaborado, diferenciado e com mais qualidade (em termos de concentração de terpenos). A título de informação, a média de terpenos, que são responsáveis pelo sabor e aroma, em um produto de cannabis no mercado hoje é de cerca de 1,5% a 2%, o que poderá  aumentar significativamente. 

Esse novo modelo, além de permitir a venda direta para o consumidor, possibilita que os pequenos produtores possam introduzir os seus produtos no mercado, “quebrando” o "monopólio" das médias e grandes empresas. 

Em 21 de abril de 2021, Ontário foi o primeiro estado no Canadá a ter um produtor licenciado a vender produtos de cannabis no local onde são fabricados. Em 2022, outros estados irão aderir a esse novo modelo.

Outro fato importante é que existe a possibilidade de surgimento de novos strains. Hoje, no mercado canadense existem, em média, 350 strains, enquanto nos Estados Unidos esse número gira em torno de 1000. Isso porque é mais fácil controlar a plantação de 200 pés de cannabis do que 2000, permitindo aos pequenos produtores experimentar novas combinações de strains. No final, quem sai ganhando é o consumidor.

Farmgate, conforme idealizado, é tanto uma experiência como uma loja, oferecendo visitação pelas instalações, sessões educacionais e hospitalidade. Farmgate é apontado como um futuro empregador local e atração turística, comparável às vinícolas, cervejarias e destilarias. 

Contudo, no Canadá, os produtores devem se registrar como um produtor licenciado para participar de um estudo sensorial e de palatabilidade sob uma licença de pesquisa federal. Assim, os visitantes do site podem experimentar bebidas, comestíveis e produtos combustíveis, como canetas de vapor, Pre-roll e flores. 

Alguns produtores licenciados já obtiveram essa licença e produtores podem organizar passeios, cuidando da logística e do transporte, para garantir a segurança dos visitantes, tal como os projetos de sucesso já existentes e implementados em vinícolas e cervejarias

Assim, fica claro que os Farmgates têm um enorme potencial para se tornar uma realidade viável ao crescimento do comércio local e apresentar novas oportunidades aos visitantes e turistas e ainda aumentar a concorrência.

As opiniões veiculadas nesse artigo são pessoais e não correspondem, necessariamente, à posição do Sechat.

Sobre o autor:

Tiago Zamponi é advogado, mora no Canadá, trabalha com desenvolvimento de negócios e atualmente é diretor de vendas na Molecule, uma empresa canadense de bebidas de cannabis.