Por Valéria França

A Cannabis medicinal é o mais novo desafio do mercado, oficialmente desde dezembro, quando a Avisa regulou a comercialização do produto. O setor e as inúmeras oportunidades que apresentam ainda são desconhecidos da maioria dos brasileiros. Foi pensando nisso, que a The Green Hub, em parceria com o CIVI-CO, organizou o Cannabis Thinking.

Neste sábado (7), o evento conseguiu reunir em apenas uma manhã políticos, empresários, advogados e pesquisadores que estão na área há muito mais tempo. Não foram apresentações profundas para um público especializado, mas uma introdução do papel de cada um deles na cadeia produtiva e no que contribuem para a sociedade. Ao todo o público viu 11 palestras em quatro horas.

Boas notícias

O público ouviu boas notícias. O deputado federal Paulo Teixeira (PT-SP), hoje presidente da comissão da câmara, incumbida de estudar a melhor forma de comercialização do mercado avisou que o projeto de lei logo será apresentado. "Vamos entregar o projeto de lei em abril", avisou à plateia. E falou o que todos queriam ouvir. "O plantio no Brasil é necessário para que todos tenham acesso ao medicamento." Pouco antes o ex-presidente Fernando Henrique falou da necessidade do Brasil educar a população e informar, que proibir não é o caminho. Assista um trecho da apresentação.

Stevens Hehen, do Instituto D'Or de Pesquisa e Ensino, disse haver evidências de comprovações científicas do efeito da Cannabis medicinal. "O Brasil tem pesquisa", afirmou. Mostrou o trabalho feito no instituto e publicações em revistas médicas do Elisaldo Carlini, professor emérito da Universidade Federal de São Paulo, sobre Cannabis medicinal. A Entourage Phytolab, que está no mercado desde 2015, falou sobre os testes clínicos de medicamentos em andamento no laboratório.

Conselho de como achar um negócio

Já Luciana Guimarães subiu para contar como, aos 46 anos, tem no currículo seis negócios montados na área de saúde. "O empreendedorismo é algo natural nas pessoas", disse ela. "Você olha para o lado, vê um problema, e quer resolvê-lo. Foi assim que tive ideia para negócios diferentes." No fim deu um recado: "Na minha experiência, quando se vai trabalhar com inovação em um mercado incerto, é importante recorrer a fórmulas que não mudam, me refiro a conexão direta com o outro."

Rei da judicialização vira empreendedor

Entre os palestrantes mais populares, o advogado Emílio Figueiredo, fundador da Reforma, grupo de advogados que trabalha gratuitamente para pacientes que precisam da autorização da Justiça para cultivarem em casa. Ele atende pessoas sem recursos para importar o medicamento à base de Cannabis. O advogado, que hoje tem uma consultoria para empresas, lembrou da importância do papel das associações de pacientes no avanço do mercado. A regulação da Anvisa da Cannabis medicinal foi o primeiro passo para atender a necessidade real dos pacientes e familiares. Falta ter preço acessível.

Comprar Cannabis medicinal de origem não conhecida é um risco

Com agenda lotada –de consultas, eventos, aulas e empreendimentos – , o palestrante e neurocirurgião Pedro Pietro não compareceu, mas mandou um vídeo de 15 minutos, onde contou sobre a experiência dele com a Cannabis medicinal. Pietro foi um dos primeiros médicos a prescrever em São Paulo. Também alertou sobre o perigo dos medicamentos paralelos para os pacientes sem recursos de importar. "Eles não sabem o que estão tomando."

A segunda parte do evento foi prática. Os participantes foram desafiados a representar em um papel todos os players da Cannabis medicinal. No exercício lúdico, usaram caneta, massinha, revistas e cola. Analisaram os principais riscos e vantagens. Trocaram cartões, experiências e também se divertiram. Mas quem saiu feliz mesmo do evento foi Marcel Grecco, fundador do The Green Hub. Ao ver o salão lotado comentou: "Quisemos mostrar a totalidade do mercado da Cannabis e acho que conseguimos."