EUA: estados com proibição de cannabis apresentam maiores taxas de internação em saúde mental 

Estudo federal revela correlação entre legalização da maconha e redução nas admissões para tratamento psiquiátrico

Publicada em 15/12/2023

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Apesar das preocupações levantadas pelos críticos em relação à legalização da maconha e seu potencial impacto no uso problemático, um recente relatório da Administração Federal de Abuso de Substâncias e Serviços de Saúde Mental (SAMHSA) destaca uma contradição intrigante. Os estados onde a cannabis permanece ilegal são, na verdade, os que registram as taxas mais elevadas de internações para tratamento de saúde mental. 

Os dados, abrangendo o ano de 2021 e divulgados pela SAMHSA, revelam um total impressionante de quase 1,5 milhão de internações em todo o país. Surpreendentemente, as admissões relacionadas à maconha ou haxixe foram responsáveis por 10,2% do total, tornando-se a quarta substância mais comum, atrás apenas do álcool, heroína e metanfetamina. 

Ao analisar os estados com as maiores taxas de admissão por maconha como substância primária, uma conclusão chama a atenção. Dakota do Sul, Iowa, Connecticut e outros estados onde o uso adulto permanecia ilegal lideraram a lista em termos per capita. Mesmo aqueles que permitiam o uso medicinal, como Nova York e Nova Jersey, figuraram entre os primeiros, sugerindo uma possível desconexão entre a legalização medicinal e as taxas de internação. 

Destaca-se que estados onde as vendas recreativas eram legais em 2021, como Washington e Oregon, não divulgaram seus números para o relatório da SAMHSA, adicionando uma camada de complexidade ao entendimento do fenômeno. 

Enquanto as admissões para tratamento em geral diminuíram nacionalmente entre 2020 e 2021, durante a pandemia de coronavírus, as admissões relacionadas à maconha também experimentaram uma redução notável. Essa queda, apesar de mais estados legalizarem a substância, desafia as previsões de um aumento acentuado no uso problemático após a legalização. 

Contudo, é crucial interpretar esses números com cautela. O relatório da SAMHSA indica que as admissões para tratamento são influenciadas por uma variedade de fatores, incluindo recursos disponíveis, encaminhamentos através do sistema de justiça criminal e as próprias políticas de encaminhamento. 

Dispensário de cannabis nos EUA (Imagem: reprodução)

Um estudo anterior, baseado em dados da SAMHSA, revelou uma tendência interessante: os encaminhamentos para tratamento relacionado à maconha diminuíram mais rapidamente em estados que legalizaram a substância. Os autores sugerem que essa redução pode estar relacionada à diminuição das prisões relacionadas à maconha, especialmente entre jovens adultos. 

Em última análise, os números apresentados pela SAMHSA lançam luz sobre uma complexa interseção entre políticas de drogas, saúde mental e sistemas de tratamento. Enquanto a legalização da maconha continua a ser debatida, a compreensão desses dados pode informar futuras discussões sobre o impacto das políticas de drogas na saúde mental da população.