"Estava desacreditado e voltei a viver", diz protagonista de documentário 'A Dor dos Outros'

Publicada em 12/07/2019

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Por Marcus Bruno

O documentário 'A Dor dos Outros', dirigido por Tarso Araújo e que estreia nesta terça-feira (18), conta o drama de Otto Bohm (na foto ao lado do filho de 6 anos). Diagnosticado com uma doença congênita aos 30, o carioca foi desacreditado pelos médicos. A última alternativa era uma cirurgia de risco para evitar a tetraplegia. Só que, no procedimento, um parafuso cruzou sua vértebra e tocou os nervos da medula, causando dores de nível máximo. Durante um ano, os tratamentos com opiáceos lhe transformaram num acamado, sem alegria de viver. Somente inalando vapores de cannabis in natura ele conseguiu controlar o quadro.

Otto levava uma vida reservada e nunca se expôs. Pouca gente até na família sabia que ele se tratava com maconha. Agora este homem, passados 8 anos daquele diagnóstico, se vê protagonizando um filme e uma campanha de conscientização que une sete associações de pacientes no Brasil, a Repense. Em entrevista ao portal Sechat, ele disse que entendeu a importância de compartilhar a sua história.

"Eu tinha uma série de receios quanto a expor o uso do meu remédio, tanto que meu HC (habeas corpus) é em segredo de justiça para evitar esse tipo de exposição. Mas as necessidades que estão rodeando meu universo têm tornado necessário me expor para ajudar um monte de gente que tem o mesmo problema que eu ou parecido e não tem a menor ideia que um medicamento tão simples como uma flor muda a sua realidade".

Durante a saga em busca de tratamento narrada no curta metragem, Otto passou a usar medicamentos pesados, como morfina, que lhe tiraram da vida social.

"Eu fazia uso de um opioide e não conseguia andar direito, não conseguia fazer nada. Passava 90% do meu dia na cama ou sentado. Hoje eu consigo caminhar todos os dias até 10 km e não tomo mais nenhum outro remédio. É um negócio gritante para ficar guardado comigo. Tem um mundo de pessoas que estão em depressão por causa dessa dor".

Com óleo, efeito leva 40 minutos; vapor é 20 segundos

Otto encontrou a informação sobre o tratamento com maconha através da associação Abracannabis. Foram eles que ensinaram o carioca a cultivar a planta em casa. Só que durante muito tempo ele usou apenas o óleo para combater a dor. E essa forma de ingestão, oral, levava até 40 minutos para fazer efeito.

"Vaporizado a planta in natura é uma diferença tão brutal. Eu não queria combustão, meu objetivo era médico, então eu queria o mais limpo possível. E na vaporização você sente na hora o impacto dela na dor. O efeito é 20 segundos depois." 

Por isso, Otto acha 'injusta" a proposta da Anvisa para a cannabis medicinal no Brasil, uma vez que o modelo apresentado prevê apenas o uso oral.

Formado em Direito e desenvolvimento de jogos digitais, hoje o carioca se diz um dono de casa e da sua plantação. Ele conta que enfrenta direto problemas com pragas e que "seria tão mais fácil" se todo mundo que precisasse pudesse cultivar a planta em casa e trocar experiências. 

Durante o período em que estava se tratando com opiáceo, Otto pediu à esposa para que tivessem um filho.

"Eu acreditava que não ia aguentar viver muito. Era um sonho, e agora foi ótimo porque eu faço minhas caminhadas levando meu filho para escola. A minha condição me deixou mais próximo dele, e essa é o melhor lado da minha história", emocionado ele revela.