Cientistas brasileiros encontram DNA de Cannabis em Ilha da Antártida liberada para turismo

“Não quer dizer que tenha o pé dessas plantas, mas pode ser que tenham sido introduzidas por meio de pólen, comida, ou dos sapatos dos turistas”, explica um botânico da UnB que pesquisa plantas no continente

Publicada em 16/01/2020

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A Ilha Deception, na Antártida, funciona como laboratório sobre o impacto que o turismo pode trazer à região. Ela está localizada a 150 km da estação brasileira Comandante Ferraz e possui uma área destinada a turistas, chamada de Whalers Bay, onde há águas termais vulcânicas.

Pesquisadores dos projetos Bryoantar (UnB) e Mycoantar (UFMG), que estudam plantas e fungos, respectivamente, na Antártida, coletaram amostras do solo dessa região e compararam com outra, na mesma ilha, protegida e só acessada com licenças especiais. Onde há turismo liberado, foi encontrado, através de sequenciamento genético, DNA de plantas como Cannabis sativa, cebola e uva. Já no lado protegido, nada disso foi achado.

“Não quer dizer que tenha o pé dessas plantas, mas pode ser que elas tenham sido introduzidas lá por meio de pólen [trazido pelo vento] ou da comida, do cabelo ou do sapato de turistas”, diz o botânico Paulo Câmara, professor da UnB (Universidade de Brasília) que pesquisa plantas na Antártida, em entrevista à Folha de São Paulo.

Nessa técnica chamada de metagenômica, os pesquisadores coletam amostras do solo, da neve ou do ar. No laboratório da Estação Comandante Ferraz, elas passam por reações químicas que possibilitam a extração do DNA das células, seguido de sequenciamento genético. Por fim, são comparadas com material genético existente em bancos de dados.

O projeto Bryoantar tem o intuito de coletar amostras de solo, água e ar da região Antártica, para realizar estudos com o DNA ambiental, visando o entendimento dos organismos presentes na localidade (principalmente as plantas), bem como aqueles que estão se deslocando até a região ou ainda, acidentalmente, sendo introduzidos.

Essa diferenciação é importante, pois com as mudanças climáticas, em especial o aquecimento do ambiente, que na localidade é maior, novas espécies podem futuramente se estabelecer, demandando um manejo adequado dessas.