Empresas reagem com pouco otimismo e cautela sobre regulamentação da Cannabis pela Anvisa

Portal Sechat ouviu representantes da Canopy Growth, Entourage, Indeov e HempCare sobre o novo cenário para medicamentos à base de maconha no Brasil

Publicada em 05/12/2019

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A regulamentação da Cannabis medicinal aprovada pela Anvisa na terça-feira (03) gerou diferentes reações por parte dos pacientes, associações, médicos, advogados, e também empresários. O modelo não é unanimidade para o setor, e desperta tanto otimismo quanto decepção.

Por isso, o portal Sechat ouviu representantes da Canopy Growth, Entourage Phytolab, Indeov e HempCare sobre o novo cenário para medicamentos à base de maconha no Brasil.

"Existe um caminho para o plantio", destaca Caio Abreu, da Entourage Phytolab 

Sediada em Valinhos, no interior de São Paulo, a Entourage trabalha com pesquisa e desenvolvimento de remédios a partir do extrato de Cannabis sativa. A empresa pretende colocá-los à venda em farmácias até 2021. O fundador da empresa, Caio Abreu, garante que o arquivamento da resolução sobre o plantio não afeta os planos da empresa, embora veja a medida com decepção:

"No aspecto do plantio, já era imaginado, pois existia realmente uma resistência grande, obviamente que foi uma decepção. Por outro lado, o voto do diretor Barra Torres apontou  diferenças fundamentais quando se fala em cultivo para pesquisa e comercial. Ele deixa bem claro, no voto dele, que dentro da regulamentação atual existiria um caminho, e o Ministério da Saúde poderia autorizar o cultivo para pesquisa, diferente da interpretação da competência do cultivo comercial. Ele fez essa distinção clara, então a gente viu esse caminho e vamos persegui-lo, mas é uma pena que não tenha uma regulamentação clara para cultivo".

Caio Abreu, Fundador da Entourage Phytolab (Foto: StarTupi)

"Quanto ao registro, a gente achou muito bom. A Entourage está preparada e vem se desenvolvendo para ter um medicamento no mercado, passando por todos os ensaios clínicos e pré-clínicos, e como estávamos preparados para um processo exigente, essa norma acelera para levar nossos produtos no mercado. Obviamente serão com matéria prima importada da Colômbia e Uruguai. Então vemos com muitos bons olhos. Preservou critérios de controle de qualidade para garantir a segurança. Isso é uma coisa positiva que garante acesso a produtos em condições adequadas".

"Porém, na vida da Entourage muda muito pouco, porque esse controle de qualidade a gente já vem trabalhando nos últimos anos para atender o rigor farmacêutico de um medicamento como outro qualquer. Seguimos na formulação de outras medicações e vamos juntar a documentação para, tão logo a norma entre em vigor em 90 dias, a gente ter um produto no mercado no segundo semestre do ano que vem".

"Proposta não faz jus à realidade", destaca Camila Teixeira, da Indeov

Primeira empresa de consultoria especializada em Cannabis Medicinal no Brasil, a Indeov deve mudar seu modelo. É o que adianta a CEO da startup, Camila Teixeira.

"A gente passa a ter um norte, apesar de não ser o ideal. Sempre esteve em nossas estratégias estabelecer diferentes cenários, alinhado com os fornecedores que a gente vem trabalhando nos últimos anos e que têm bastante interesse em seguir agora. E com as parcerias estratégicas que a gente vem estabelecendo, pensamos uma pivotagem do modelo".

Camila Teixeira é fundadora e CEO da Indeov

"Temos 90 dias para se adequar. A gente está com uma força-tarefa, temos planos B, como a Câmara dos Deputados, que está trabalhando com muito esforço e compromisso social de ouvir os diferentes stakeholders de Cannabis que a gente já tem no país, pacientes, médicos, empresas, associações. Então eu vejo com bons olhos, porque eles estão querendo montar uma proposta que faça jus à realidade, e não essa que a Anvisa trouxe, que não pensa a cadeia verticalizada, potencial que a gente tem, e que privilegia somente poucos e traz mais dificuldades no acesso.

"A exemplo da questão de receita, que precisa ser renovada a cada 60 dias. A questão de entenderem que só produtos com até 0,2% poderiam ser comercializados, sendo que a gente tem muitos casos que ficarão comprometidos, porque se passa disso tem que entrar num outro modelo, se assemelhando à morfina, e isso torna tudo mais complexo. Levando em consideração que a maior parte dos clientes do Brasil hoje tem importação dos Estados Unidos, a gente vai ter desafios para adequação. E quem vai sofrer vão ser os pacientes". 

"É um marco regulatório de um setor que vem fazer uma transformação social", diz Cristiana Taddeo, da HempCare Pharma

Cristiana Taddeo é CEO da HempCare Pharma, uma laboratório que desenvolve tratamentos a base de cannabis. A executiva tem uma visão mais positiva sobre a regulamentação aprovada pela Anvisa.

"Achei muito mais simples do que a anterior. Foi uma proposta muito bem elaborada, eles estudaram certinho a situação de como entrar com o medicamento no país de uma maneira que não seja tratada tão a fundo como medicamento, mas que tenha uma eficácia e segurança. Então eles pouparam a indústria de ter um registro muito amplo de medicamento. Estão exigindo apenas as certificações internacionais".

Crisiana Taddeo é CEO da HempCare Pharma

"Eu acho que é um marco regulatório, porque a é a primeira regulação de um setor que vem fazer uma transformação social, mesmo sendo muito pequeno, que afete só as indústrias, como a gente estava prevendo, é uma abertura e toda abertura tem que ser comemorada. E tem muita coisa para acontecer.

"Acho que as associações têm que começar a se manifestar ainda mais do que já estão fazendo. A gente tem um caminho pelo Judiciário e Congresso pela frente. Acho que o Brasil não está em condição de ter o plantio tão liberado, mesmo porque iriam liberar apenas para indústrias, então para as associações daria no mesmo. Acho que isso vai acontecer com o tempo. O mercado existe mais do que nunca e começou a ferver. Os investidores já estão procurando a gente para fazer esse mercado acontecer. Parabéns a Anvisa e agora só temos a ganhar!

"Crédito deve ser dado aos pacientes", destaca Canopy Growth

Principal empresa de Cannabis do mundo, a Canopy Growth enviou seu posicionamento através de uma nota. Liliana Morales, gerente de comunicação Latam da Spectrum Therapeutics, a divisão da empresa dedicada à medicina canabinoide, destacou que a regulamentação aconteceu graças à pressão dos pacientes e grupos que defendem a causa.

“A decisão de hoje da ANVISA é um avanço significativo para os pacientes e profissionais de saúde no Brasil e o crédito deve ser dado aos pacientes e grupos que defenderam a regulamentação. Além do foco contínuo na educação, a Spectrum Therapeutics irá agora revisar as novas regulamentações em detalhe e, uma vez que elas estejam em vigor, esperamos atender os pacientes brasileiros com a mesma qualidade e segurança dos nossos produtos à base de cannabis atualmente usados por mais de 100.000 pacientes em todo o mundo”.