<strong>Inovação e empreendedorismo: A jornada do empresário Alex Lucena, um dos pioneiros no mercado da cannabis no Brasil</strong>

O empresário conversou com o portal Sechat e falou da sua trajetória, os desafios e o que espera para o futuro nos negócios

Publicada em 16/05/2023

capa
Compartilhe:

Por Tylla Lima

A cannabis tem aberto portas para um mercado emergente com potencial econômico significativo. Empresários visionários vêm se dedicando a explorar as possibilidades dessa indústria promissora, criando startups inovadoras que atendem às necessidades dos consumidores e promovem avanços tecnológicos.

Alex Lucena é um empresário líder nesse cenário. Com vasta experiência no setor de cannabis, ele fundou e gerenciou várias startups bem-sucedidas, sempre impulsionado pela paixão e pelo desejo de transformar a indústria. Reconhecido como um pioneiro em seu segmento, conquistou reconhecimento nacional e internacional.

Durante esta entrevista, exploraremos sua trajetória pessoal, os desafios que enfrentou ao empreender em um setor ainda sem uma regulamentação clara e as inovações que suas startups estão trazendo para a indústria da cannabis.

Leia a entrevista exclusiva do Portal Sechat com o empresário Alex Lucena

Alex Lucena é empresário com atuação no setor canábico. (Foto: Divulgação)

Como foi a sua trajetória no mundo das startups e por que você decidiu trilhar esse caminho? 

Sou um empreendedor/investidor em série. Fundei a minha primeira startup com meus dois irmãos e mais dois amigos no início da Internet comercial no Brasil (e no mundo) na virada de 1996-97. Ou seja...há um milhão de anos (risos). A internet nesse tempo era uma “carroça” e trouxemos para o mercado corporativo o que na época era uma grande inovação, que denominou-se chamar e-learning. Basicamente, vendíamos serviços, plataformas e conteúdos digitais para empresas com necessidade de capacitar seus funcionários em grande escala. Essa startup chamava-se EduWeb e quase 20 anos depois, vendemos para um grupo grande de investimento. Após isso, foram inúmeras outras experiências como empreendedor e investidor, algumas muito bem-sucedidas, outras não e isso faz parte do jogo. 

Além disso, tenho três passagens pelo mundo corporativo durante minha trajetória profissional e, coincidentemente, em cada uma delas, três anos cada. O que me leva a crer que tenho um prazo de validade de três anos para trabalhar para os outros. O empreendedorismo está no meu sangue e é isso que me apaixona.   

De uma maneira prática, qual é o principal objetivo de uma startup, reforçando quais são as principais soluções que elas buscam consolidar?  E a diferença para outras empresas no mesmo mercado? 

Quando comecei a empreender a palavra startup não existia, pelo menos não aqui no Brasil. Chamavam de Empresas Nascentes. Em outras palavras, com pouco tempo de vida. É difícil precisar exatamente o termo e sinceramente não me preocupo com isso. Atualmente existem startups, principalmente no mundo digital com pouco tempo de existência, mas, valendo milhões. 

Penso que a maior característica de uma startup seja a sua capacidade de inovar, de pensar fora da caixa, de testar e de mudar a direção se for necessário. Criou-se até um termo para isso que é Pivotar. Empresas de maior porte em geral têm mais dificuldade de trabalhar assim. É muito mais fácil mudar um barco de direção do que um transatlântico, concorda? E, é exatamente por isso que as grandes empresas estão constantemente em busca de se conectar com as startups. Eu chamo esse movimento de inovação aberta, em inglês, Open Innovation.   

Atualmente, quais são as principais startups brasileiras e o que elas trazem de soluções para o mercado? 

Eu sou meio suspeito nessa resposta pois, para mim, as principais startups brasileiras são aquelas do portfólio da The Green Hub. Para quem tiver curiosidade, basta entrar no nosso site, estão todas lá. Atualmente são 19 e temos uma meta interna de chegar a 44 em dois anos, levando em conta que algumas irão desaparecer pelo caminho e isso é normal que aconteça.  Temos startups ligadas ao agro, à saúde, à biotecnologia, à educação, à tecnologia da informação (TI) e até mesmo ao negócio da comunicação, como no caso da Sechat.  

Quais são os setores do mercado da cannabis com mais possibilidades de crescimento? 

Tudo começa no agronegócio e, de lá, passa pela indústria da transformação da planta para servir a diferentes segmentos, tais como alimentos, bebidas, cosméticos, biodiesel, concreto de cânhamo, também conhecido como hempcrete para construção civil, setor da moda e por aí vai.  Muito se fala num número mágico de 25.000 produtos que podem derivar da planta. Não sei se é isso tudo, mas, em todo caso, as possibilidades são imensas. Os americanos determinam a indústria com qualquer coisa entre “Seed-to-Sale”, ou seja, da semente até o ponto de venda existem oportunidades para quem quer atuar na cannabis. 

O que diferencia o desenvolvimento de uma startup do setor da cannabis das demais? Quais as métricas-chave de sucesso para o progresso?

São muitas as diferenças, a cannabis tem inúmeras especificidades e precisa ser entendida e respeitada como uma planta única, especial. O ser humano se relaciona com a planta a milênios para fins medicinais, industriais, espirituais etc.

Quem trabalha nessa indústria, como eu, tem o privilégio de aprender algo novo todos os dias e se relacionar com pessoas incríveis. As métricas de sucesso são as mesmas de qualquer indústria, se o negócio não for autossustentável, se a empresa não se pagar, simplesmente morre e some do mapa.  

Sem uma regulamentação clara sobre o uso da cannabis no Brasil, empresas brasileiras crescem em outros países. Como você avalia essa situação?

Certamente não é o ideal, e não é onde queremos e podemos estar. Temos empresas do nosso portfólio nos Estados Unidos, Canadá, Uruguai e até na Bélgica. O Brasil é uma potência agrícola e um dos países onde mais se consome cannabis no mundo. Os números são imprecisos, mas, imaginemos que 10% da população brasileira faça uso de algum produto derivado da planta, estamos falando de mais de 20 milhões de pessoas. A cannabis faz parte da cultura brasileira desde a chegada dos primeiros portugueses colonizadores e escravos vindos da África. Precisamos regulamentar e ponto. 

E, falo isso para todas suas possibilidades medicinais, industriais e para uso individual das pessoas em geral. Precisamos fazer isso de maneira responsável e com muita educação e informação. Estamos correndo atrás nesse quesito até mesmo dos nossos países vizinhos como Uruguai, Paraguai e Colômbia, só para citar alguns. O Brasil reúne todos os elementos necessários para ser (e vai ser) um player global de relevância no setor. Temos natureza em abundância, dominamos tecnologias essenciais e temos o mais importante de tudo que é um capital humano incomparável. Trabalhei e morei por mais de 13 anos da minha vida fora do Brasil e digo isso com muita segurança. Sou otimista e acredito que nossa regulamentação avançará em pouco tempo, abrindo assim, para as tantas possibilidades mencionadas.  

Qual é o valor gerado por ano pelo mercado da cannabis? É possível estimar daqui pra frente como será esse cenário? 

De acordo com dados que dispomos, já somos cerca de 200 mil brasileiros (as), com projeções de vendas de produtos medicinais de cannabis no Brasil (regulatório atual) na casa de R$ 600 milhões.. A estimativa para 2024 é de quase R$ 1 bilhão.  Mas, repare, que estou falando aqui apenas do chamado uso medicinal, pois é isso que o nosso regulatório permite hoje. Temos ainda as possibilidades industriais e recreativas. Sinceramente não saberia dizer, mas, é possível dimensionar que seria (será) uma indústria extremamente importante para o PIB – Produto Interno Bruto brasileiro no futuro. Estou falando aqui da criação de centenas de startups, inclusão de empresas de diferentes setores, criação de milhares de empregos e arrecadação de impostos.

A cannabis exerce um papel fundamental na preservação do planeta por ser uma matéria-prima renovável, limpa e biodegradável. Como avalia esse cenário da sustentabilidade da planta no mercado?

Redução de CO2 no planeta, remover os metais e produtos químicos tóxicos do solo, consumir menos água e por aí vai... Aproveito para novamente convidar a quem quer aprender mais sobre o assunto para visitar o site da TGH. Meu sócio Marcelo Grecco publicou dezenas de artigos e todos estão lá. Só para dar uma ideia, das 17 ODS, objetivos de desenvolvimento sustentável da ONU (Organização das Nações Unidas) para 2030, a cannabis cruza diretamente com 15 deles. A planta é parte da solução e não do problema. 

O que você avalia como desafio para o mercado da cannabis avançar mais?

Precisamos destravar a pauta do regulatório no Brasil e fazer a coisa acontecer. Precisamos normalizar cada vez mais o assunto e quebrar tabus que não fazem nenhum sentido. Precisamos pesquisar cada vez mais a planta e gerar um ecossistema pungente empreendedor para surfar todas as oportunidades descritas nessa entrevista. Precisamos educar e informar com responsabilidade e qualidade. E, é para isso que existe a The Green Hub.