O sistema endocanabinoide

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Estudo da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) desenvolvido por Emilio Antonio Francischetti; Virginia Genelhu de Abreu e publicado no Scielo (Biblioteca Eletrônica Científica Online)

A Cannabis sativa é a droga ilícita mais consumida no mundo a partir de 1960. Cultivada há mais de 5 mil anos para a obtenção de fibras utilizadas na manufatura de tecidos, a Cannabis era prescrita pelos chineses, desde 2600 A.C., para tratar cãibras, dores reumáticas e menstruais. Em 1964, o seu princípio ativo D9-tetra-hidrocanabinol (THC) foi isolado e sua estrutura química caracterizada. Atualmente, inúmeros análogos sintéticos da cannabis vêm sendo prescritos como antieméticos e estimulantes do apetite aos pacientes com doenças oncológicas, em uso de quimioterápicos. O dronabinol, um composto sintético derivado do THC é usado como tratamento auxiliar de fases avançadas de portadores de Aids e câncer que cursam com anorexia e caquexia.

Em 1988, o primeiro receptor canabinoide foi identificado. Em 1993, esse receptor foi cognominado CB1 pois, nesse mesmo ano, um segundo receptor foi caracterizado e designado CB2. Ambos os receptores estão acoplados às proteínas Gi/o e pertencem a uma grande e diversificada família de proteínas acopladas à membrana celular. A distribuição tecidual dessas estruturas explica a maior parte dos efeitos psicotrópicos do THC e atribuídos aos receptores CB1. Os efeitos dos receptores periféricos CB2 estão mais associados à resposta imune.

Os primeiros ligantes endógenos dos receptores canabinoides – os endocanabinoides – foram isolados em 1992. Nos dias atuais, a anandamida (N-araquidonoil etanolamina) e o 2-araquidonoil glicerol (2-AG) são, entre os canabinoides endógenos, os mais exaustivamente estudados. O termo “ananda” oriundo do Sânscrito significa felicidade extrema ou bem-aventurança. Ambos os endocanabinoides são agonistas dos receptores CB1 e CB2. Os níveis celulares e teciduais do 2-AG são mais elevados que os da anandamida por conta de seu maior envolvimento em várias vias metabólicas. Os receptores canabinoides, os endocanabinoides e as enzimas que catalisam sua biossíntese e degradação constituem o sistema endocanabinoide.

As múltiplas funções do sistema endocanabinóide

Estudos clínicos e experimentais têm demonstrado que os canabinoides endógenos e a ativação concomitante de seus receptores CB1 causam uma pletora de efeitos, entre os quais:

1) envolvimento na antinociceptividade (diminuição da sensibilidade aos estímulos dolorosos), controle do movimento e inibição da memória de curto prazo;
2) inibição da secreção de prolactina e do hormônio do crescimento e aumento na secreção do ACTH;
3) efeitos ansiolíticos, através de ações sobre o eixo hipotálamo-hipófise-adrenal;
4) modulação da resposta imune e inflamatória;
5) aumento da freqüência cardíaca, vasodilatação e broncodilatação
6) inibição da secreção de testosterona, anovulação e relaxamento uterino
7) atividade antitumoral
8) neuroproteção diante de situações de trauma e hipóxia
9) modulação da ingestão de alimentos graças aos seus efeitos sobre a liberação de peptídeos e hormônios hipotalâmicos e à regulação dos mesmos pelos esteróides

Todos esses efeitos pleiotrópicos foram concisamente resumidos por Di Marzo e colaboradores52 em uma única frase: “O sistema endocanabinóide reduz a sensação de dor, controla o movimento, a memória, o sono, o apetite e protege”.

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