Novo estudo quer saber se o DMT pode ser útil contra a depressão

Muito se fala sobre essa substância psicodélica e seus efeitos terapêuticos, mas você sabe o que é a Dimetiltriptamina e para que ela serve?

Publicada em 07/11/2022

capa
Compartilhe:

Por João R. Negromonte

Um novo estudo coordenado por Deepak Cyril D’Souza, experiente pesquisador, professor e diretor do curso de psiquiatria e neurofarmacologia da esquizofrenia da Escola de Medicina da Universidade de Yale, EUA, pretende descobrir qual a ação da Dimetiltriptamina (DMT) em pacientes saudáveis e com depressão.

Em parceria com a biofarmacêutica psicodélica Algernon Pharmaceuticals, com sede no Canadá, os pesquisadores irão avaliar como age a substância quando administrada em doses intravenosas no tratamento do distúrbio psicológico. 

"Após cuidadosa consideração, decidimos apoiar o ensaio clínico de DMT do Dr. D'Souza e trabalhar com a Universidade de Yale", disse o CEO da Algernon, Christopher J. Moreau em entrevista ao portal El Planteo. "Uma maré alta levanta todos os barcos, e também sentimos a responsabilidade corporativa de aumentar a conscientização global e apoiar a pesquisa de medicina psicodélica sempre que possível", acrescentou.

O CEO afirma também, que o estudo ajudará a sociedade a melhorar sua compreensão sobre o atual regime de dosagens nos efeitos subjetivos induzidos pelo DMT.

Caso os resultados sejam positivos, a empresa deterá os direitos de propriedade intelectual para o uso clínico da substância, bem como a possibilidade de negociar as licenças correspondentes para esta tecnologia. 

O que é o DMT?

A Dimetiltriptamina (DMT) é uma substância psicodélica pertencente ao grupo das triptaminas, semelhante à serotonina e à melatonina, todos os três sendo derivados do aminoácido triptofano. Após a enzima triptofano hidroxilase transformar o triptofano em triptamina, uma nova hidroxilação a transforma em serotonina. Complicou? A gente explica.

A serotonina é um neurotransmissor que atua diretamente no cérebro, estabelecendo melhor comunicação entre neurônios. É produzida a partir da presença de alimentos ricos em triptofano, um aminoácido obtido por meio da alimentação.

Regula  o apetite, ritmo cardíaco, temperatura corporal, o sono e, como consequência, o humor. Quando se encontra em baixos níveis de concentração, pode causar ansiedade, mau humor, dificuldades para dormir e até depressão.

A melatonina, por sua vez, é um hormônio naturalmente produzido pelo organismo. Sua principal função é a regulação do ciclo circadiano (nome dado ao ritmo em que o organismo realiza suas funções ao longo de um dia), promovendo o bom funcionamento do organismo, além de poderosa ação antioxidante.

Conceito de ciclo circadiano (Imagem: Freepik/Redgreystock)

O hormônio é produzido pela glândula pineal somente na ausência de estímulos luminosos, ou seja, a produção de melatonina só ocorre à noite e no escuro, o que induz uma boa noite de sono. Estímulos visuais (como claridade) ou sonoros (como barulhos na rua) atrapalham a produção e diminuem os níveis de melatonina.

Por isso, os pesquisadores buscam entender como o DMT poderia estar ligado a estas sensações e em que medida ele poderia auxiliar no controle da depressão, dada a semelhança entre os compostos citados. 

Onde é encontrado e como se utiliza?

O DMT, é um alucinógeno normalmente encontrado em plantas nativas da América do Sul, como a Anadenanthera Peregina, nas folhas da Banisteriopsis Rusbyana, Diplopterys Cabrerana e na Virola Calophylla, árvore conhecida no Brasil como Epená.

A utilização da substância pode ser feita de três formas, incluindo o uso fumado, injeção intramuscular ou via oral, modelo mais utilizado atualmente por adeptos dos ritos do Santo Daime, religião que tem por objetivo conectar nosso ser exterior com nossa divindade interna por meio da ingestão do “chá da ayahuasca”, derivado das raízes da Epená e outras substâncias tidas como inibidoras dos efeitos alucinógenos. 

Como apresenta  efeitos psicodélicos, muitas pessoas ainda têm um certo preconceito contra ela, contudo, alguns estudos têm demonstrado que o uso medicinal do DMT poderá ser, no futuro, algo comum no tratamento de disfunções neurológicas.