Dificuldade de familiar acessar a Cannabis Medicinal inspira criação de associação no Espírito Santo

Em entrevista exclusiva ao Sechat, Jeterson Loss (D), um dos fundadores da ACAMC, conta que a falta de conhecimento acerca do uso da cannabis para fins medicinais no estado capixaba foi outro motivador para a criação da entidade

Publicada em 04/02/2021

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Caroline Vaz (texto) / Charles Vilela (edição)

Jeterson Loss é professor, historiador e um dos fundadores da recém criada Associação de Cannabis Medicinal Capixaba (ACAMC), a primeira associação de Cannabis Medicinal do Espírito Santo, que possui o objetivo de promover o uso terapêutico da cannabis, realizar cursos, fornecer informações e acolhimento, avançar com pesquisas na área e oferecer orientação médica e jurídica. 

Segundo Loss, o interesse pelo assunto, que já existia há anos, foi potencializado com a descoberta da doença do irmão mais novo, Tales. O garoto sofre com espondiloartrite, uma doença autoimune que gera inflamações, crises de dores intensas e atrofia dos membros. O historiador conta que após finalmente obterem o diagnóstico de Tales, ele e a mãe se aprofundaram em estudos e pesquisas acerca da doença. Foi a partir daí que Jeterson decidiu ir atrás de pacientes que também sofriam com espondiloartrite e realizavam o tratamento com a cannabis medicinal.

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“Então eu descobri que havia uma pessoa que tratava essa doença com a cannabis no Brasil. Eu vi no Youtube um vídeo dela falando sobre o difícil acesso à cannabis e que o governo deveria olhar com mais carinho e cuidado pro tema e para as inúmeras pessoas que poderiam ser beneficiadas. A partir desse relato eu fui até minha mãe e mostrei esse caso pra ela”, comenta. A partir daí, sua mãe passou a se abrir para o tema e perceber os muitos benefícios que a planta poderia proporcionar ao irmão. 

Porém, pela enorme burocracia que cerca o processo legal de obtenção do óleo e pela piora progressiva da saúde do irmão caçula, Jeterson decidiu adquirir o medicamento por outras vias: a partir de uma doação de um produtor artesanal. O historiador conta que, três dias depois do início do tratamento com o óleo artesanal, Tales já começou a sentir “um bem estar diferente e muito menos dor”. Depois disso, a partir da autorização concedida pela Anvisa, Tales passou a acessar o óleo através da Abrace Esperança.

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Sobre os efeitos do tratamento com o óleo da associação, Jeterson conta que, desde fevereiro do ano passado, Tales não sofre mais com crises de dores intensas. “As crises dessa doença são paralisantes, você fica bloqueado na cama. Mas, desde o início do tratamento, ele não tem mais essas crises.”

Com o início do tratamento do irmão com a Cannabis Medicinal, Jeterson tentou buscar lugares de apoio em Espírito Santo, como grupos e associações, mas não obteve sucesso em sua busca. “Ao reparar que aqui não ainda não tinha nenhuma associação e pesquisadores empenhados em falar sobre a cannabis, também não tínhamos espaço para debate e grupos de estudos”. 

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A escassez de conhecimento foi a maior motivação para a criação da ACAMC

A partir dessa escassez do conhecimento acerca da planta no estado, Jeterson iniciou uma busca por pessoas que gostariam de montar, junto a ele, uma associação de cannabis medicinal. "Então eu descobri que tinha muita gente que precisava do medicamento mas não sabia por onde caminhar, não sabia que tinha que ir em uma consulta com um médico prescritor, depois pedir a autorização da Anvisa, e também não sabiam que tinham a possibilidade de importar ou comprar de associações.”

Ele conta que, rapidamente, conseguiu juntar 15 pessoas que tinham interesse em criar a associação, como o médico do irmão e um amigo que realiza pesquisas sobre o discurso médico no ES acerca da cannabis. De pouco em pouco, os três caminharam para a criação da ACAMC, a fim de debater o assunto e ajudar aqueles que necessitam do acesso ao medicamento. “Com o tempo, fomos juntando um bom grupo, que conta também com advogados, médicos que antes não prescreviam, mas hoje já prescrevem, pacientes, psicólogos, assistentes sociais. Então tudo aconteceu muito relacionado à necessidade de termos um espaço para esse debate.”

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Jeterson diz que a rapidez de como a associação foi criada dá-se ao fato de que os moradores do estado “queriam colocar as coisas para acontecer de fato”. Em 2 meses, foi elaborado o estatuto da associação com o auxílio de um advogado e um contador, Logo após, foi realizada a assembleia para a aprovação e modificações do documento. A partir daí, a ACAMC foi criada. 

“Quando fundamos a ACAMC, muitos nos agradeceram, diziam ‘que bom que apareceu essa associação aqui no estado’ e todos tinham o mesmo posicionamento: não havia um espaço para esse debate, um grupo de apoio, e a gente estava ficando para trás”, comentou Jeterson.

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