Geração Cannabis x Geração Prozac: mudança de paradigmas nos tratamentos de depressão

Em um mundo com uma velocidade de informação tão grande que nos permite comprar em segundos os itens que desejamos por meio das redes sociais, as informações sobre autoconhecimento e funcionamento do organismo estão também difundindo-se com rapidez h

Publicada em 18/01/2023

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Por Adriana Russowsky

A depressão é um mal que afeta a humanidade. De tempos em tempos, soluções para as dores da vida cotidiana apresentam-se: A informação acelerada constrói gerações com a mesma mentalidade, para adquirir as mesmas terapias de saúde. A cannabis ingressa com força na temática. Mas como não cair em questões como as levantadas pelo filme “Geração Prozac” e o documentário “Take your Pills?” Entender um assunto para formar uma opinião inteligente sobre o investimento na sua própria vida, tornou-se uma ferramenta de sobrevivência.

Nosso corpo produz, sob demanda, canabinoides feitos por nós mesmos, para agir em diversas circunstâncias da vida. E isto somente começou a ser compreendido e estudado na década de 1980: Hoje, a cannabis já é escolhida e está sendo validada como tratamento de tipos de depressão e ansiedade. Seu mecanismo de ação ocorre diretamente devido a capacidade de conexão da molécula CBD (e outras moléculas da planta) com os receptores 5HT1a de nosso corpo, responsáveis por liberar serotonina. Com outras funções indiretas e ligando-se a diversos receptores, promete equilíbrio de neurotransmissores. Por isso, falamos em padronizar e entender os extratos que utilizamos. Até porque a depressão pode estar ligada a quadros de dor, por exemplo, e já sabemos que existe também ação direta por mais de um mecanismo dos extratos na analgesia: estratégias e produtos que, se adequados corretamente, funcionam muito bem.

 Voltando poucas décadas atrás, vivenciávamos o “boom” dos diagnósticos de depressão. Retratado dramaticamente no filme “Geração Prozac”, a grande inserção do medicamento referência da substância antidepressiva fluoxetina é refletido ainda hoje: criou-se de fato uma geração que iniciou sua avalanche medicamentosa com esta pequena bola de neve inserida pela big pharma e alguns formadores de opinião corrompidos antes dos anos 2000. E com ele o reflexo na sociedade e no comportamento humano: “Preciso de um antidepressivo para aguentar minha realidade”; “Preciso de café para trabalhar e treinar”; “Preciso de algo para conseguir controlar o apetite”; “Com venvanse consigo produzir mais e ganhar mais dinheiro” ... Estas são frases comuns que muitas vezes o ser humano acaba repetindo, mas que na verdade somente reflete uma falta de consciência e controle sobre o próprio corpo, derivado da falta de conhecimento e clareza sobre a realidade, muitas vezes embaçado pelas tão necessárias e atrapalhadas emoções. Porém, existe um preço.

Acontece que, quando utilizamos dosagens maiores do que as necessitamos para suprir uma queda de serotonina, acontece uma bagunça na mente: nosso corpo entende que não precisa produzir mais a substância, e fica confuso ao ponto de desnivelar outros neurotransmissores, como a dopamina. Daí todo o funcionamento da máquina começa a desregular. Para quem entende de bioquímica, vê-se um empilhamento de peças de dominó caindo. Por isto também se criou dedicação de estudos farmacológicos médicos e tratamentos (fitoterápicos, etnofarmacológicos). Comprovações científicas das empíricas e de observação. O leque é grande, e abraça a cannabis. Cito como exemplo o Crocus sativus (flor do açafrão) que, além de melhorar a cognição, regula com leveza tanto serotonina quanto dopamina. A experiência com tratamentos simples como este, adequada a estratégias nutricionais e de estilo de vida, obtém resultados muito interessantes, e com menos efeitos adversos do que os experienciados pelas pesadas medicações tradicionais. Os efeitos adversos da alopatia antidepressiva? Falta de libido, alterações de humor, insônia, ansiedade, aumento de peso, entre outros.

 Mas não é somente sobre as terapias medicamentosas que devemos refletir. Existe o conceito antropológico para explicar dores como estas. Vivenciamos décadas de revolução ideológica e política, onde existe uma retomada por classes e gêneros antes rejeitados por alguns tipos de sociedade, ou ainda, submetidos a algum tipo de crueldade física ou psicológica. Revolta despertada pelo sentimentalismo, movimento importante para determinar melhores valores e nortear ideias e ações de acordo com os direitos humanos e dos animais.

 Mas, como nem tudo é bom o tempo todo, até quando o sentimentalismo se torna maléfico e infecta a sociedade? Afinal, valores e sentimentos, isolados e descontrolados, acabam corrompendo-se. As virtudes não podem circular por aí sozinhas. A onda de depressão acaba encaixando-se em algum lugar, de determinada maneira, assim como a de adição. 

Theodore Dalrymple no livro “Podres de Mimados”, comenta sobre as consequências do sentimentalismo tóxico. Nos tornamos vítimas dele, afinal, justificando nossos vícios? Esta e outras questões são levantadas pelo autor, que comenta:“A exibição dos vícios tornou-se a prova de que o homem foi maltratado. Aquilo que era defeito moral tornou-se condição de vítima, de maneira consciente ou não”. Determinados padrões de consumo, como o de ostentação de álcool, drogas, e até mesmo da cannabis e derivados tornou-se luxo e desejo em algum momento, por intensificar momentos de prazer. 

Em um mundo com uma velocidade de informação tão grande que nos permite comprar em segundos os itens que desejamos por meio das redes sociais, as informações sobre autoconhecimento e funcionamento do organismo estão também difundindo-se com rapidez hostil. Percebe-se então, que para fazer boas escolhas precisamos ir mais a fundo para não se tornar uma vítima do sistema: Informações sobre saúde, incluindo nutrição e ausência de efeitos colaterais de rotinas e hábitos tornaram-se conceitos básicos de sobrevivência nos tempos atuais.

Tratamentos, mudança de estilo de vida e terapias vêm sendo propostas por escritores e formadores de opinião “blockbusters”, como Daniel G. Amen em “Mude seu cérebro, mude seu Corpo”, que aborda sobre conceitos de saúde e rotina alimentar, e no hoje documentário “Como Mudar sua Mente”, do também médico Michael Pollan, que enfatiza tratamentos com psicodélicos e cogumelos. Os cogumelos e microdosagens, inclusive, tem temática evidenciada em pesquisas e pela mídia, despertando o interesse de pacientes e investidores.

Já diria o poeta

“Toda poesia – e a canção é uma poesia ajudada – reflete o que a alma não tem. Por isto a canção dos povos tristes é alegre, e a canção dos povos felizes é triste.”

Fernando Pessoa

Sobre a autora:

Adriana Russowsky integrou o mercado canábico logo nos primeiros anos em que a medicina com Cannabis iniciou no país, pois devido seus estudos aprofundados e acadêmicos de fitoterapia, voltou seu olhar para as terapias com plantas e nutrientes, e utilizou como base sua experiência profissional e estudos em medicina integrativa. 

Hoje compõe e realiza estratégia os protocolos que desenvolveu e criou, dentro de empresas de comercialização de cannabis e de clínicas canábicas no país, e acredita que devem as instituições científicas e educacionais melhor informar os futuros médicos e outros profissionais desta necessidade de conhecimento, ampliando acredita o correto acesso a comunidade.