Covid: uso medicinal da Cannabis pode reduzir impacto e sequelas

Segundo o médico psiquiatra e colunista do Sechat, Wilson Lessa, os canabinoides são capazes de diminuir, in vitro e in vivo, em até 70% a entrada do SARS-Cov-2 - o coronavírus - nas células humanas, uma vez que agem em receptores

Publicada em 30/03/2021

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Caroline Vaz (texto) / Charles Vilela (edição)

Com o aparecimento do novo coronavírus, pesquisadores de todo o mundo passaram a conduzir estudos sobre como conter a doença e desenvolver possíveis tratamentos para a Covid. Pesquisas sobre os benefícios do uso medicinal da Cannabis para a Covid ganharam destaque após uma série de ensaios que demonstram o potencial da planta para a doença que está causando uma crise sanitária sanitária mundial. 

O psiquiatra Wilson Lessa, que é professor da Faculdade de Medicina da UFRR (Universidade Federal de Roraima) e colunista do Sechat, conversou com o Sechat sobre a relação entre cannabis medicinal e combate ao coronavírus. Segundo ele, os canabinoides são capazes de diminuir, in vitro e in vivo, em até 70% a entrada do SARS-Cov-2 - o coronavírus - nas células humanas, uma vez que agem em receptores. 

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Um dos principais receptores é a ACE2, enzima receptora expressa no tecido pulmonar e na mucosa oral e nasal que o vírus usa para entrar em um hospedeiro humano. Uma vez enfraquecida a ACE2 pelos canabinoides, a entrada do vírus é dificultada. “Além disso, sua ação imunomoduladora (dos canabinoides), ao mesmo tempo que reforça Linfócitos-T, que são células de defesa, diminui significativamente a ocorrência da tempestade de citocinas, por modulação destas”, afirma.

Para o médico, o ponto mais importante do uso dos canabinoides é a segurança. “Uma vez que não temos nada aprovado para a fase inicial da Covid, acaba entrando na autonomia do médico e do paciente, como uso compassivo. É importante conversar claramente com o paciente sobre isso”. Isso acontece uma vez que a grande maioria das pesquisas são voltadas ao uso dos canabinoides em fases mais avançadas da doença, como quando a tempestade de citocinas ocorre, deixando uma lacuna sobre o uso da cannabis medicinal nos primeiros estágios da Covid.

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Pesquisa canadense avançou para estudos clínicos 

Por conta dos muitos benefícios à saúde que a cannabis possui já comprovados anteriormente, vários estudos foram realizados desde o início da pandemia a fim de relacionar o uso da planta como um possível tratamento para a Covid. Um dos principais e primeiros estudos foi realizado na Universidade de Lethbridge, no Canadá, no primeiro semestre de 2020. Em parceria com a Pathway RX, empresa focada em pesquisa com cannabis, o estudo concluiu que extratos específicos da planta mostram uma promessa como um tratamento adicional para Covid.

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Como resultado, dados iniciais sugerem que 13 extratos de cannabis com alto teor de CBD anti-inflamatório podem modular a expressão de ACE2 em tecidos-alvo da Covid. Além disso, podem regular negativamente a enzima TMPRSS2, que também auxilia a entrada do vírus no corpo. 

Depois de oito meses da publicação do estudo, em fevereiro de 2021, ele avançou para a fase de estudo clínico, fruto de uma parceria com a Good Pharmaceutical Development Company, com sede nos Estados Unidos. “O estudo clínico está em andamento, mas em fase de conclusão e estamos realmente esperançosos”, disse Olga Kovalchuk, uma das autoras do estudo.

Para Wilson Lessa, ainda há muito o que ser pesquisado, mas os estudos com a cannabis medicinal dão luz a um caminho esperançoso. “Penso que os canabinoides têm um papel muito importante, não para evitar a doença, mas para diminuir seu impacto biopsicológico e auxiliar nas sequelas pós-Covid.”

Conheça outros estudos que demonstram o benefício dos canabinoides para a Covid

Beilinson Hospital (Israel)

Segundo descobertas iniciais declaradas em uma nota do Beilinson Hospital em Petach Tikvah (Israel), o CBD “tem um impacto positivo em uma série de marcadores inflamatórios que ocorrem em pacientes com coronavírus.”

A maioria dos pacientes com Covid gravemente enfermos que receberam CBD (Canabidiol) para acalmar a inflamação receberam alta do hospital em menos de um mês, conforme mostra o teste conduzido recentemente pelo hospital israelense. Dos 11 pacientes no estudo, oito tiveram alta do hospital de 7 a 30 dias, embora os outros três participantes morreram de complicações do Covid.

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Este estudo teve como objetivo, sobretudo, testar a eficácia e segurança do CBD na redução do processo inflamatório da tempestade de citocinas. O fato dos canabinoides conseguirem modular as respostas imunológicas do corpo por meio de sua interação com o sistema endocanabinoide faz com que o CBD se torne um potencial auxiliador da diminuição da inflamação pulmonar causada pela doença.

Aging-US (Albany, Nova Iorque)

O estudo publicado “Em busca de estratégias preventivas: novos extratos de Cannabis sativa com alto teor de CBD modulam a expressão de ACE2 em tecidos de entrada de Covid”, publicado pela revista científica Aging-US (Albany/Nova Iorque), concluiu que extratos de cannabis com alto teor de canabidiol (CBD), podem alterar expressão gênica e inflamação geradas pela Covid. 

Os pesquisadores da Aging-US trabalharam sob uma licença da agência governamental Health Canada, desenvolvendo mais de 800 cultivares de cannabis e traçando hipóteses de como o CBD pode diminuir a expressão de ACE2 em tecidos alvo do da Covid. A ACE2 é uma enzima receptora expressa no tecido pulmonar e na mucosa oral e nasal que o SARS-CoV-2 usa para entrar em um hospedeiro humano. Uma vez que a enzima é reduzida – e isso pode acontecer quando em contato com o CBD -, a chance de infecção pelo vírus também diminui.

STERO Biotechs (Israel)

Se um paciente com um caso grave de Covid desenvolver uma tempestade de citocinas, a função imunossupressora dos canabinoides pode ser usada para combater seus efeitos prejudiciais, muitas vezes fatais. “Avaliar a segurança e eficácia de canabinoides isolados ou da Cannabis em geral, em vários estágios da infecção por Covid em ambientes clínicos, é fundamental”, avaliaram os pesquisadores da STERO Biotechs.

Mas, como as citocinas desempenham um papel crucial no combate às infecções, reduzi-las como medida preventiva ou nos estágios iniciais da infecção pode ser uma má ideia. Muitas autoridades alertam contra o uso de agentes de cannabis nos estágios iniciais da infecção. Isso porque a cannabis e canabinoides específicos como o CBD e o THC suprimem as respostas imunológicas.

Medical College of Georgia (Estados Unidos)

Logo no início da pandemia, cientistas do Dental College of Georgia (DCG) e do Medical College of Georgia, demonstraram que o CBD tem a capacidade de melhorar os níveis de oxigênio e reduzir a inflamação e os danos físicos aos pulmões relacionados à síndrome do desconforto respiratório do adulto (SDRA). 

Contudo, este estudo também mostrou os mecanismos por trás desses resultados, evidenciando que o CBD normaliza os níveis de um peptídeo chamado apelina, que é conhecido por reduzir a inflamação. Os níveis deste peptídeo são baixos durante uma infecção por covid. Além disso, a cannabis medicinal pode ter efeitos positivos em alguns sintomas da doença, como dor de cabeça, problemas respiratórios e gástricos.

Além disso, extratos de cannabis de plantas inteiras também mostraram reduzir a coagulação do sangue em modelos animais; sabe-se que muitos dos efeitos sistêmicos negativos da covid parecem estar relacionados à alteração da coagulação, portanto, é possível que a cannabis possa ser útil no manejo dessas sequelas.

Benefícios da Cannabis medicinal para a Covid é o tema da Live Sechat desta terça (30)

Nesta terça-feira (30), às 19h, acontecerá mais uma edição da Live Sechat a partir do @sechat_oficial. O tema desta semana será “Covid: redução de impacto e sequelas com o uso medicinal da Cannabis”, com a participação de Wilson Lessa. A live será conduzida pelo neurocirurgião Pedro Pierro, que é sócio e diretor-científico do Sechat. Perguntas e opiniões podem ser enviadas antecipadamente pelos perfis do Sechat nas redes sociais ou pelo e-mail redacao@sechat.com.br.

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