Como o uso medicinal da cannabis pode contribuir para que fumantes de tabaco abandonem seu vício

O canabidiol (CBD), por exemplo, pode ser um ótimo regulador da ansiedade, um dos principais sintomas de um dependente químico do tabaco, explica a médica especialista em terapia canabinoide Dra. Mariana Maciel

Publicada em 29/08/2022

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Por João R. Negromonte

Hoje, dia 29 de agosto, é celebrado o Dia  Nacional de Combate ao Fumo. Criado em 1986, a data inaugura a normatização voltada para o controle do tabagismo como problema de saúde coletiva, tendo por objetivo, reforçar as ações de conscientização e mobilização social contra os danos ambientais, políticos e econômicos do uso do tabaco. 

Somente no Brasil, 443 pessoas morrem todos os dias por causa de doenças decorrentes do uso de cigarros, isto é, cerca de 162 mil pessoas todos os anos. Os casos mais comuns, segundo dados do Instituto de Efetividade Clínica e Sanitária, são a Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC), doenças cardiovasculares, alguns tipos de câncer, como o de laringe e pulmão, além de pneumonia e Acidente Vascular Cerebral (AVC). 

O tabagismo também contribui para o desenvolvimento de outras enfermidades, tais como tuberculose, infecções respiratórias, úlcera gastrintestinal, impotência sexual, infertilidade em mulheres e homens, osteoporose, catarata, entre outras.

Por isso, tal conscientização se faz tão importante, ajudando os mais de um bilhão de pessoas em todo mundo que fazem uso de tabaco, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a largarem o vício. 

Algumas das formas mais comuns de tratamento e combate ao vício, seguem alguns passos essenciais como:

  1. Compreender o motivo para largar o vício;
  2. Parar de fumar de acordo com o seu grau de dependência;
  3. Cortar a relação de cigarro e prazer;
  4. Encontrar uma distração para o hábito;
  5. Evitar álcool e cafeína;
  6. Praticar atividades físicas;
  7. Procurar ajuda médica.

Essa última, pode incluir o uso terapêutico da cannabis, como explica a Dra. Mariana Maciel, médica, empresária, especialista em medicina canabinóide, membro da Society of Cannabis Clinicians e fundadora da Thronus Medical - biofarmacêutica canadense focada no desenvolvimento de fármacos inovadores à base de cannabis. “O canabidiol (CBD), por exemplo, pode ser um ótimo regulador de ansiedade, um dos principais sintomas de um dependente químico de tabaco”.

Dra. Mariana Maciel (Imagem: Agência Flecha Criativa)

A médica afirma também, que estudos recentes da University College London, no Reino Unido, demonstraram o papel do sistema endocanabinóide na dependência de nicotina com um teste duplo-cego controlado por placebo, estabelecido para avaliar o impacto do uso do canabidiol (CBD) em fumantes que desejavam parar de fumar.

Ao todo, 24 fumantes foram divididos em grupos onde um time recebeu um inalador de CBD (n = 12) e o outro placebo (n = 12) por uma semana, sendo orientados a usar o inalador quando sentissem a vontade de fumar. 

Ao longo da semana de tratamento, os fumantes tratados com placebo não mostraram diferenças no número de cigarros fumados. Em contraste, aqueles tratados com CBD,  reduziram cerca de 40%, o número de cigarros fumados durante o tratamento. 

“Esses estudos, assim como outros muitos já publicados, combinados com a forte justificativa pré-clínica para o uso deste composto, sugerem que o CBD seja um tratamento potencial para dependência de nicotina”, destaca Mariana.  

Ao ser questionada se é verdade que fumar tabaco pode ser mais prejudicial que a cannabis, a médica é contundente: “sim, o cigarro de tabaco possui uma série de componentes químicos altamente prejudiciais para a saúde e sem nenhum benefício terapêutico. Já a cannabis fumada apesar de prejudicar o pulmão pode ter benefícios terapêuticos”, revela a médica que continua: “A taxa de dependência da nicotina é bem maior também, 40%, enquanto a da cannabis rica em THC fica em torno de 12%”.

No entanto, qualquer via inalatória tem riscos pulmonares envolvidos. Na cannabis é mais apropriado vaporizar que fumar, caso tal seja utilizada, explica a médica. “Muitas pessoas que utilizam a cannabis fumada para fins terapêuticos estão migrando para a solução hidrossolúvel à base de cannabis, pois tem início de ação rápido, proporção adequada de CBD e THC e poupa as vias respiratórias”.