Cannabis e Demência: Os Dois Lados

Explorando a complexidade da relação entre cannabis, saúde cerebral e demência

Publicado em 10/03/2024
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O tabu ressurge devido à exposição na mídia sobre o tratamento do humorista Pedro Manso, de 51 anos. Como um produto que tem a capacidade de estimular a plasticidade cerebral e a formação de novos neurônios pode também sugerir falta de memória e déficit cognitivo?

É fato que os canabinoides vêm sendo estudados para seu tratamento nos últimos anos. Inclusive, existe um ensaio clínico registrado em 2023 para o tratamento de demência com canabidiol com 60 participantes. Diversas famílias e pacientes procuram a cannabis medicinal como terapêutica em estados de envelhecimento acelerado, e os estudos mostram melhores indicadores de qualidade de vida. Mas como uma forma de uso ou a qualidade de um produto pode impactar de maneira positiva ou negativa na saúde?

Estudos que ocorreram nas últimas décadas apontam para sintomas de déficit cognitivo e de memória. A ativação de receptores CB1 pode vir a regular negativamente a plasticidade cerebral e o aprendizado, ocorrendo disfunção neuronal. O tabagismo prejudica a circulação sanguínea, inclusive a cerebral. Este é o grande problema; a maioria dos estudos foi realizada com espécies advindas do histórico mercado negro, geralmente riquíssimas em THC. Um estudo publicado no American Journal of Psychiatry em 2022 averiguou o uso a longo prazo de cannabis, mostrando menor reserva cognitiva e um volume de hipocampo menor em meia idade. Foram avaliados 1037 indivíduos na Nova Zelândia, mostrando diminuição de QI e aprendizado mais acentuado nos usuários crônicos. O que muda então? É a composição da planta e a maneira como se a utiliza.

A ideia vem da ativação do receptor CB2. Novas plantas e produtos. Antioxidantes. Terpenos, flavonoides, terapias integradas. Canabidiol. Endocanabinoides são conhecidos por regular a liberação de neurotransmissores no sistema nervoso central e atuam na ativação da micróglia, permeiam a barreira do cérebro e influenciam na cognição. Atuando como anti-inflamatório e assim otimizando a circulação na região. O CB2 é também expresso no sistema imunológico, presente na micróglia, região normalmente afetada nas doenças neurodegenerativas. De qualquer forma, cada paciente apresenta condições específicas, sendo necessário avaliar o tipo de tratamento, formato, qualidade do canabinoide, condições de cada indivíduo, entre outros cuidados.

Dica: Nootrópicos, Colina, fosfatidilserina, DHA, ginkgo biloba, açafrão são bons amigos para otimizar a cognição e atuar na prevenção do envelhecimento cerebral. Estimular a mente com jogos de xadrez, palavras cruzadas, leituras, estudos e novos aprendizados treinam o cérebro e o mantêm saudável por mais tempo. Uma boa alimentação, práticas esportivas que melhorem a circulação como um todo, equilibrar o estresse, não consumir tóxicos, álcool e evitar tabagismo são essenciais.

Imagem do colunista Adriana Russowsky
Adriana Russowsky

Adriana Russowsky integrou o mercado canábico logo nos primeiros anos em que a medicina com Cannabis iniciou no país, pois devido seus estudos aprofundados e acadêmicos de fitoterapia, voltou seu olhar para as terapias com plantas e nutrientes, e utilizou como base sua experiência profissional e estudos em medicina integrativa. Hoje compõe e realiza estratégia os protocolos que desenvolveu e criou, dentro de empresas de comercialização de cannabis e de clínicas canábicas no país, e acredita que devem as instituições científicas e educacionais melhor informar os futuros médicos e outros profissionais desta necessidade de conhecimento, ampliando acredita o correto acesso a comunidade.