Cólicas da rainha Vitória e a história da cannabis medicinal na Europa

A relação da cannabis com as mulheres existe desde o período vitoriano, talvez até antes

Publicada em 19/08/2021

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Curadoria e edição Sechat, com informações de Blog Cannabis

19 de agosto é considerado Dia Nacional dos Historiadores no Brasil e, é uma grande oportunidade para lembrar como a cannabis ajudou as mulheres ao longo da história da humanidade a lidar com as condições médicas relacionadas à fisionomia feminina.

A cannabis ajuda milhões de pessoas em todo o mundo, especialmente as mulheres e não é de hoje. Documentos defendendo os benefícios médicos da planta apareceram pela primeira vez em 2900 aC na China, mas a cannabis medicinal na Europa está em dívida com um irlandês de renome. Nascido em 1809, o Dr. William Brooke O'Shaughnessy inventou um tratamento moderno para a cólera, instalou o primeiro sistema telegráfico na Ásia, contribuiu para invenções na engenharia subaquática e, de fato, foi o pioneiro no uso da cannabis medicinal na Europa. Inspirado pelo uso da cannabis na medicina ayurvédica e persa, O'Shaughnessy conduziu os primeiros testes clínicos com a erva, tratando reumatismo, hidrofobia, cólera, tétano e convulsões.

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COMO A RAINHA CONHECEU A CANNABIS?

Rainha Vitória, um símbolo de modéstia e conservadorismo (embora ela não mereça essa reputação), pode ter recebido cannabis para aliviar as cólicas menstruais. Seu médico particular e, a fonte da cannabis, foi Sir J. Russell Reynolds, que escreveu em 1890 que:

Quando pura e administrada com cuidado, a cannabis é um dos medicamentos mais valiosos que possuímos.

Sir J. Russell Reynolds

Acredita-se que ela sofria com as dores menstruais e Reynolds, ao que parece, prescreveu suas tinturas de cannabis, concentrações líquidas da droga que eram os meios mais comuns de administração (e muitas outras coisas) na época. As tinturas de cannabis estão atualmente passando por um renascimento nos centros de cannabis medicinal e nos lugares onde a droga é legal. Eles são administrados por meio de um conta-gotas sob a língua e em uma pequena quantidade para sentir os efeitos. Só podemos esperar que isso tenha ajudado Victoria a sair de suas dificuldades.

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AS CÓLICAS MENSTRUAIS DA RAINHA

Vitória é, sem dúvida, a figura mais representativa do espírito do século XIX. Na verdade, seu reinado durou 64 anos, 1837-1901, um recorde de longevidade para um monarca britânico que apenas a atual rainha, Elizabeth II, superou. Na verdade, até hoje, a segunda metade do século 1901 é conhecida como a "Era Vitoriana".

A ironia da história é que esta rainha, cujo nome se tornou sinônimo de conservadorismo puritano e modéstia, era na verdade uma mulher independente que, contrariando os códigos das famílias aristocráticas na Europa, casou-se por amor com o Príncipe Albert. Juntos, eles deram à luz 9 filhos e viveram em perfeita harmonia até a morte de Albert.

Pelos registros médicos e históricos da Rainha Vitória, sabemos que ela sofria de cólicas menstruais, que eram particularmente graves. É por isso que às vezes ela era forçada a adiar ou fugir de certos eventos oficiais.

Além disso, em algum momento, suas dores deixaram de fazê-la sofrer, embora não haja confirmação histórica inequívoca e absoluta desse fato, a hipótese considerada como a mais provável, é que esse alívio viria, devido ao uso de cannabis.

A razão de haver provavelmente mais do que um indício de verdade nessa hipótese tem mais a ver com a identidade de seu médico pessoal, Sir John Russel Reynolds - do que com a proliferação de boatos e fofocas da época.

ANALGÉSICO E CALMANTE

Reynolds, que, como muitos estudiosos britânicos na época, estava passando seu tempo na Índia. Como resultado, ele foi exposto à planta cannabis e especialmente aos seus usos na medicina popular no Oriente. Reynolds estudou a planta por 30 anos e estava muito animado com seu potencial total e todos os seus usos na área médica. Entre outras coisas, declarou que “a planta é eficaz nos casos de cãibras musculares e cólicas menstruais”. Portanto, é lógico pensar que seu paciente mais importante e famoso, que sofria desse problema, poderia ter se beneficiado com essa droga.

Rainha Vitória

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O que Reynolds descobriu no século 19 ainda é relevante hoje e é confirmado por muitos pesquisadores. Por exemplo, em pesquisa realizada em 2018 pela University of British Columbia, de Vancouver (Canadá). Os pesquisadores perguntaram a uma amostra de 192 mulheres se elas haviam consumido alguma substância da planta para o alívio de dores menstruais; 170 responderam que haviam usado e, entre estas, 152 responderam que sim, a cannabis ajudou a diminuir as dores menstruais. As participantes disseram que as formas mais comuns do consumo da erva foram fumada ou consumida de forma oral.

Vale ressaltar que ainda temos muitos estudos sobre a relação do consumo de cannabis com o alívio das cólicas menstruais e, um estudo realizado em um grupo de 47 mulheres de idades entre 17 e 29 anos, consumidoras habituais de cannabis (por ao menos um ano), revelam alterações na secreção hormonal, entretanto, o que isso altera é somente deixar os ciclos menstruais mais frequentes, nada além disso.

Quase tudo o que sabemos sobre a cannabis medicinal apóia a hipótese de que mesmo para a mulher moderna, a cannabis medicinal pode aliviar as dores do parto, embora hoje não seja uma indicação recomendada.

Nenhum médico na medicina ocidental hoje prescreveria cannabis medicinal para uma mulher grávida. Mas nota-se que em muitas culturas ao redor do mundo e ao longo da história, desde o início do século 19, a cannabis foi usada e considerada uma forma aceitável de tratar os sintomas da gravidez, como náuseas.

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