Negócios da cannabis: cervejarias investem nos terpenos para “driblar” a legislação

O uso de canabinoides como CBD e THC, por exemplo, ainda permanecem proibidos pela legislação brasileira para o uso em bebidas, o que leva os produtores a buscarem outras alternativas

Publicada em 09/11/2022

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Por João R. Negromonte

Tido como um setor em expansão, o mercado dos produtores de cerveja no Brasil não para de crescer. Segundo Paulo Petroni, presidente da CervBrasil, somente no ano passado o Brasil se tornou o 3° maior produtor de cerveja do mundo, chegando a incríveis 14,7 bilhões de litros produzidos, atrás apenas de China e EUA.

Seguindo essa tendência de crescimento, algumas cervejarias nacionais estão investindo em uma nova fórmula de seus produtos. A adição de compostos de plantas em bebidas não é nenhuma novidade, afinal, o lúpulo do qual são fabricadas as cervejas, possuem seus próprios terpenos que dão o aroma e o sabor característicos da bebida. 

Contudo, a infusão de terpenos da cannabis em cervejas tem chamado a atenção dos consumidores. Não só pelo marketing que envolve o uso dessa planta, mas pelo sabor e odor característicos da mesma. 

Algumas marcas nacionais como a Everbrew, Cervejaria Mito e a Koala san Brew já possuem suas representantes “canábicas”.

Maine Berry Gelato (Everbrew)

Produzida pela cervejaria Everbrew, natural de Santos/SP, a Maine Berry Gelato é uma India Pale Ale infusionada com terpenos da cepa de cannabis Blueberry Gelato, espécie da planta com dominâncfeita a partir do cruzamento de Thin Mint Girls Scout Cookies com Blueberry. Conhecida por proporcionar um efeito relaxante, a Berry Gelato apresenta sabores frutados aromáticos com tons terrosos. Quando misturada à cerveja, a marca promete características voltadas para a baunilha e frutas tropicais, que reforçam a potência do lúpulo.   

Maine Berry Gelato (Imagem: reprodução/facebook)

Mun rá (Cervejaria Mito)

Feita pela Cervejaria Mito do Rio de Janeiro, a Mun Rá é uma tradicional Bohemian pilsner com sabor amargo e aroma floral resinoso, provenientes das strains Black Widow, uma híbrida balanceada com Lemon Kush, que combinam o sabor cítrico do limão com os tons terrosos do kush.  

Mun rá (imagem: reprodução/facebook)

Blueberry Kush (Koala San Brew) 

Natural de Nova Lima (MG), a Koala San Brew é a responsável por criar a Blueberry Kush, uma Double IPA com perfil de pinho, dank, condimentos e claro, berries em geral. A cerveja faz parte de uma série de receitas com lúpulos e terpenos denominada The Terpene Chronics, responsável por recriar aromas de strains famosas de cannabis. 

Blueberry Kush (Imagem: reprodução/KSB)

Legislação brasileira

Vale lembrar que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) não permite o uso de canabinoides como o canabidiol (CBD) e o Tetrahidrocanabinol (THC), mesmo que em baixas quantidades, para o uso alimentar, ficando restritos fins medicinais e de pesquisa apenas. 

Por isso, como forma de “driblar” as normas atuais, os produtores de cerveja vêm utilizando os terpenos, responsáveis pelo aroma e sabor da cannabis, para produzir bebidas que contenham características da planta sem infringir a lei.

Há muito ainda há se desenvolver a respeito das aplicações da cannabis no Brasil, principalmente do cânhamo, espécie da planta com baixo teor de THC, usada na maioria das vezes para produção de produtos medicinais e industriais, como roupas, calçados e até alimentos, como leite e suplementos alimentares ricos em proteínas vegetais. Quando  se olha para o clima e o potencial agrícola deste país, a pergunta que fica é: até quando vamos esperar?