Cannabis medicinal para dor: Quais as evidências científicas?

Os canabinoides são uma ferramenta na gestão do paciente com dor crônica, podendo diminuir até 30% as escalas de dor

Publicada em 03/10/2019

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A cannabis medicinal ainda é bem polêmica no Brasil, porém em países em que seu uso medicinal e recreativo foi totalmente liberado (como Uruguai e Canadá), muito tem se estudado sob seus possíveis efeitos benéficos.A notícia foi publicada pelo portal PEBMED.

Uma das explicações para o aumento do uso de canabinoides pode ser a chamada crise dos opioides, em que a dependência e mortes por overdose por uso abusivo destas medicações, tem gerado um grande impacto social.

O termo maconha medicinal é incorreto e deve ser evitado no meio científico, haja vista que os medicamentos utilizados são compostos de duas substâncias retiradas dos botões das flores das plantas femininas Cannabis sativa/indica/ou híbrida: o tetraidrocannabidiol (THC ) e cannabidiol (CBD).

Sistema endocanabinoide do corpo humano

O corpo humano produz, sob demanda, substâncias endocanabinoides, como, por exemplo, 2AG (glicerol 2-araquidonoil) e anandamida (ou etanolamina araquidonoil). Elas não seguem a via clássica dos neurotransmissores.

São sintetizadas em neurônios pós-sinápticos e têm a função de modulação dos neurônios pré-sinápticos (principalmente via glutamato e GABA), através dos receptores pré-sinápticos canabinoides CB1 e CB2.

O CB1 está presente principalmente no sistema nervoso central e periférico e é responsável pela maioria dos efeitos neurocomportamentais, atuando na dor e transtornos do humor. O CB2 está presente principalmente no sistema imunológico e atua modulando resposta inflamatória e citocinas.

Cannabis medicinal e dor crônica

Os canabinoides são uma ferramenta na gestão do paciente com dor crônica, podendo diminuir até 30% as escalas de dor. Seus efeitos relatados são: diminuição de dor, aumento da tolerância a dor, melhora da qualidade de vida, retorno as atividades de vida diária. Aparentemente não tem efeito curativo da dor.

Os principais estudos em dor são: dores neuropáticas crônicas de qualquer etiologia; fibromialgia; dor (e espasticidade) em esclerose múltipla; dor em lesão medular; dor oncológica e como coadjuvante para melhora do humor e sono. Não é recomendado para dores agudas, episódicas ou pós-cirúrgicas.

A metanálise de J. Aviram, de 2017, relata que, apesar dos estudos selecionados para análise serem heterogêneos (ainda não há padronização de doses e formulações), sugere-se que os canabinoides podem ser eficazes no tratamento de dor crônica, principalmente para pacientes com dor neuropática.

Tratamento

Sugere-se referenciar o paciente a clinicas ou médicos especializados no uso de canabinoides. Existe uma lista de médicos prescritores no site da ONG AMA-ME (Associação Brasileira de Pacientes de Cannabis Medicinal).

Não é indicado como tratamento de primeira linha, mas como medicação coadjuvante. Além disso, deve-se pesquisar o antecedente pessoal, social e psiquiátrico, bem como, abuso de substâncias químicas.

Para o tratamento de dor, a via indicada é geralmente a oral (na forma de spray oral, óleos ou cápsulas). Essa via tem um pico de ação mais baixo, menores efeitos colaterais e duração mais prolongada em relação a via inalada.

Foi observado que as medicações com composição única de CBD ou THC geram muitos efeitos colaterais, chamados efeito entourage. Para eliminar isso, é necessário a mistura das duas substâncias. A dosagem de cada uma vai depender da patologia a ser tratada.

Segurança

Estudos mostram que é um medicamento seguro, com baixas taxas de dependência (cerca de 9%) e baixo risco de morte por overdose. É uma droga classe C, portanto, contraindicada na gravidez e amamentação. Por ser uma substância psicoativa, deve-se orientar cuidado para dirigir ou trabalhar com máquinas.

Podem ser prescritos para idosos. Todavia, sua prescrição deve ser evitada para adolescentes, pois nesta fase da vida, o sistema nervoso está mais susceptível a dependência ou desenvolvimento de doenças psiquiátricas, como esquizofrenia.

Fonte: PEBMED