Cannabis como possibilidade de agricultura regenerativa

A planta requer condições favoráveis como temperatura agradável, boa quantidade de chuvas e muita exposição de sol e sua composição possui potencial ecológico absorvendo até 30 toneladas de CO2

Publicada em 07/09/2022

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Por Sofia Missiato

O cânhamo, cannabis sativa com menos de 0,3% de THC em sua formação, é capaz de absorver substâncias tóxicas de solos contaminados, transformando-os em terras aráveis. A planta também impede o crescimento de “ervas daninhas” e os caules de cânhamo têm centenas de aplicações ecológicas, podendo mitigar o impacto ambiental da agricultura em solos e ecossistemas que foram severamente danificados pelo cultivo extensivo.

A agricultura regenerativa é caracterizada por uma abordagem de conservação e reabilitação do solo, o que significa dar prioridade por plantações de culturas em solo nativo e ao ar livre, especialmente outdoor, que é menos custoso que o indoor. Procura-se também que a alimentação das plantas seja de origem orgânica, dispensando totalmente os agroquímicos. Em vez  de agrotóxicos são utilizadas soluções de controle biológico.

Este tipo de agricultura promove o consórcio com outros organismos com valor alimentar, propiciando um ecossistema saudável na superfície de plantio, o que também leva a uma melhor absorção de nutrientes. Se de um lado a agricultura, a pecuária industrial e os combustíveis fósseis são a principal causa das mudanças climáticas, do outro a cannabis pode ser uma opção de cultura de rotação, que melhora a estabilidade e resiliência das plantações.

As condições climáticas brasileiras de temperatura que variam entre 25 e 30 graus celsius são vantagens que a imensa área cultivável e de luminosidade que o território nacional proporciona para o cultivo de cânhamo.

A UFV (Universidade Federal de Viçosa) mapeou a aptidão brasileira para o cultivo da planta, em parceria com a startup ADWA e o Grupo Brasileiro de Estudos Sobre a Cannabis. O levantamento publicado em 2019  avalia o potencial brasileiro para o cultivo de Cannabis sativa para uso medicinal e industrial e revela que, no Brasil, 80% das terras cultiváveis são aptas para a produção da cannabis industrial.

Em 2017, o Rodale Institute iniciou um teste de quatro anos estudando os efeitos do cânhamo industrial na Pensilvânia como parte de rotação regenerativa de culturas orgânicas para melhorar a saúde do solo, suprimir ervas daninhas e melhorar a fertilidade do solo.

Entre os ensaios realizados estão a análise do consumo e disponibilização de nutrientes, avaliação das melhores épocas de plantio e qual foi a produção de CBD – substância-alvo no cultivo medicinal de Cannabis. O objetivo geral da pesquisa do Rodale Institute com o cânhamo industrial era estimar o potencial desta cultura para uso dos agricultores em um sistema orgânico regenerativo.

Uma lei robusta deve incluir altos padrões de defesa do meio ambiente para que a produção e transformação de biomassa de cannabis chegue ao Brasil, beneficiando assim, a agricultura brasileira em volumes significativos.